A importância de saber ler na Era da Informação

Antes de falar de educação midiática, eu quero conversar um pouco sobre a leitura e a escrita e sua importância em todas as áreas do conhecimento. Independentemente do trabalho que exercemos ler e escrever são necessidades básicas de comunicação e compreensão de mundo.

Quando a gente lê um texto - qualquer um, em qualquer tipo de mídia – vamos fazendo conexões com outros saberes que já temos outros textos lidos, outras experiências, outras coisas com as quais temos intimidade e isso vai ampliando a nossa compreensão daquilo que estamos lendo.

E para que tudo isso aconteça, de fato, precisamos mais do que ser alfabetizados, precisamos ser indivíduos letrados.  Você sabe a diferença entre esses dois termos?

Se não sabe, não se acanhe. Eu também não sabia até bem pouco tempo e vou te explicar agora porque vamos precisar desses conceitos para prosseguirmos nosso diálogo sobre educação midiática.

Alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever, ou seja, todo mundo que frequentou a escola e sabe juntar letras para formar palavras, palavras para formar frases, frases para formar parágrafos e parágrafos para formar textos com coerência, coesão e regras gramaticais devidamente bem empregadas.

Normalmente, os alfabetizados também conseguem responder aquelas perguntinhas básicas de interpretação de texto sobre:

•  Personagem principal
•  Ação
•  Local da ação
• Objetivo da ação

Já os indivíduos letrados são aqueles que respondem às demandas sociais de leitura e escrita de acordo com os contextos em que estão inseridos. Eles conseguem se informar por meio de jornais, revistas, sites, livros ou quaisquer mídias, fazendo as conexões necessárias para depreender sentido do que estão lendo de acordo com as próprias vivências e experiências.

Eles conseguem ir além da superfície do texto, entender sua ideia central, as intenções por trás da mensagem (informar, entreter, vender, manipular) e as estratégias para conseguir esses objetivos (o tipo de linguagem escolhida, os recursos gramaticais, a estética das mensagens).

Você já deve ter ouvido relatos de professores universitários reclamando da falta de habilidade de seus alunos para a leitura de textos maiores e mais complexos ou talvez você mesmo tenha enfrentado essa dificuldade quando estava na faculdade e teve que “ralar” para sanar essa lacuna.  E o problema vem do nosso processo falho de alfabetização que desconsidera o letramento ao ignorar as vivências anteriores das crianças.

Ensinar uma criança a ler é mais do que ensiná-la a compreender o texto, como explica a professora Sandra Bozza:

“Ensinar a ler é mais do que apenas depreender sentido, mas estabelecer relações com o que a criança vive, com o que a adolescente pensa e com tudo o que a criança já leu no mundo”.

Dito isso, vamos agora trazer esses dois conceitos para o universo digital e falar sobre

Letramento digital

Para ser letrado digitalmente não basta saber acessar sites e fazer uma pesquisa no Google, é preciso ter fluência para usar ferramentas e dispositivos digitais - um saber que vai desde o uso instrumental dessas ferramentas até o domínio de técnicas de busca, curadoria e produção de conhecimento.

Isso significa saber, por exemplo, utilizar corretamente os termos e os operadores de busca, bem como os mecanismos de checagem de informação.

Também é possível avaliar criticamente os objetivos e a qualidade das informações encontradas pelos mecanismos de busca e utilizá-las de forma respeitosa de acordo com as regras de propriedade intelectual.

Análise crítica da mídia

Este talvez seja o ponto mais importante do eixo ler, que é desenvolver o hábito de ler os textos de mídia, de qualquer formato, de forma reflexiva e crítica. A ideia é sair do piloto automático e questionar as mensagens recebidas.

Observando aspectos como:

•  Ponto de vista, partidarismo e objetividade
• Gêneros jornalísticos
• Intencionalidade
•  Autoria

Além disso, é preciso também entender sobre os mecanismos de produção da notícia, o papel da mídia (veículos de imprensa) na sociedade, o direito ao acesso a informação e a garantia da liberdade de expressão.  Precisamos pensar também em questões trazidas pelo modo de vida contemporâneo, como a alternância de papeis de produtor e consumidor de informação que todos nós vivenciamos diariamente.

Pode parecer bobeira, mas esse movimento tem implicações sérias. Na medida em que nós produzimos informações precisamos ter consciência do impacto que elas podem causar na vida de quem acompanha nossos conteúdos, como conversamos aqui.

Outro ponto é problematizar a comunicação das marcas por meio de seus canais próprios, conteúdos patrocinados e parcerias com influenciadores. Tudo isso tem significados importantes nas relações que estabelecemos com as informações que consumimos. Saber ler essas entrelinhas é fundamental para estarmos realmente conectados ao que acontece no ambiente informacional de forma consciente e responsável.

É disso que eu falo quando ressalto a importância de construirmos o nosso protagonismo digital. Não é uma tarefa simples, eu sei. Às vezes, eu mesma me sinto esgotada diante de tanta informação e dessa necessidade de ter uma atenção plena e vigilância constante diante dessa profusão de informações que chegam o tempo todo.

No entanto, até para isso tem solução. Trarei algumas aqui para te ajudar nessa missão:

•  Desativar notificações dos aplicativos
• Sair das redes sociais que acabam com a sua saúde mental
•  Sair dos grupos que sabidamente enviam fakenews
•  Usar o Google Notícias para filtrar e garantir a pluralidade de informações que recebe

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Marinella de Souza é idealizadora da Pensa Mídia, uma consultoria em Educomunicação e educação midiática e acredita na comunicação como base para todas as relações e na educação como ferramenta de transformação social. Entende a web como a sociedade contemporânea e colaboram para que as pessoas construam o seu protagonismo midiático fazendo deste um espaço fortalecedor.