A importância do planejamento sucessório nas empresas familiares.

Introdução

Segundo levantamento do SEBRAE e do IBGC,  hoje no Brasil 90% das  empresas nascem como familiares, elas representam 65% do PIB brasileiro, geram 75% dos empregos diretos, porém dessas apenas 30% ultrapassam a geração do fundador, e pasmem, apenas 15% chegam a terceira geração. Um dos principais fatores que levam a esta baixa performance é a falta de um planejamento sucessório, na maioria das vezes apenas o óbito gera esta abrupta sucessão. Listamos neste artigo alguns dos principais motivos que levam isso a acontecer, também trazemos algumas sugestões que podem ser úteis no dia a dia de uma sucessão familiar empresarial bem sucedida.

Definição e Escolha da Liderança

Sem um plano claro, negociado com a família, ouvido todos os membros, não há garantia de que a próxima geração esteja preparada para assumir a liderança da empresa, gerando insegurança entre os herdeiros, funcionários e demais stakeholders. Necessita-se preparar este sucessor, muitas vezes temos mais de um candidato, o que é perfeitamente normal e louvável, porém necessita-se escolher um, e para isso o plano de sucessão deve levar em conta este critérios técnicos, emocionais e políticos que o novo líder da família vai assumir, pois ao assumir a liderança dos negócios obviamente ele vai assumir também o fardo da liderança familiar, este compromisso está implícito ao cargo, não tem como fugir desta responsabilidade, mesmo por que este novo líder vai ter que continuar negociando e prestando conta para seus sócios irmãos, primos, cunhados, etc. Frequentemente existem também dúvidas sobre a qualidade da próxima geração dentro do ambiente da empresa, se possui ou não habilidades, se possui ou não experiência, enfim, os gestores atuais obviamente que competentes aos olhos do fundador, sempre vão questionar estas habilidades e competências de um novo líder, isso faz parte do mercado. Por isso o plano harmônico de sucessão familiar, estruturado passo a passo, ano a ano, antes obviamente do obtido do fundador, vai minimizar estes ruídos desnecessários e desgastantes para a empresa.

Separar a Família do Negócio

Muito importante para o fundador e seus sucessores saberem separar o que é encontro familiar do que reunião de negócio, isso é muito comum nas empresas familiares, chega o final de semana e ao invés do churrasco de família, temos uma reunião de fluxo de caixa, isso vai desgastando a família ao ponto de gerar conflitos entre os membros que não são obrigados a serem partes da empresa, aliás, quase sempre uma minoria da família vai fazer parte da empresa, mas os fundadores muitas vezes não conseguem separar o joio do trigo. As desavenças familiares geralmente causam  rivalidade, intrigas e fofocas desnecessárias que vão afetar o ambiente da empresa. Uma recomendação neste caso é criar a cultura efetiva da separação, ou seja, não se fala de negócio em reunião da família, vamos falar do negócio, agendamos uma reunião separada para falarmos exclusivamente do negócio, em outro ambiente e em outro momento, hoje vamos fazer o churrasco da família e falarmos sobre a família e demais assuntos. Conflitos familiares não resolvidos no seio da família e trazidos para dentro do ambiente corporativo, vão criar um clima de trabalho hostil, onde a colaboração e a confiança são minadas pelo problema familiar, prejudicando a produtividade e o bem-estar dos todos os colaboradores e do negócio. Outro aspecto super importante são as decisões tomadas com o calor da intriga familiar, toda vez que você toma uma decisão impulsiva ela está muito sujeita a erros primários, pois, não se avaliou adequadamente os fatos, números, estatísticas, enfim, dados básicos que qualquer líder tomaria, agiu apenas pelo impulso de uma discussão familiar, isso pode e deve ser evitado.

Fieis Escudeiros do Fundador

Toda empresa  nasce do um sonho de um empresário visionário, cresce do esforço de fiéis escudeiros que este empresário soube escolher, empresa se faz com gente, ninguém consegue crescer uma empresa se não tiver um bom time de escudeiros, cabe ao fundador liderar este time, buscar sempre motivação e garantir que os mesmos estejam engajados no seu proposito, essa é a tarefa mais difícil do fundador e talvez a mais sensível em uma sucessão familiar empresarial, o herdeiro novo líder precisa entender e saber definir claramente quem serão os seus novos fiéis escudeiros, que muitas vezes vão estar em conflito com os fies escudeiros de seu pai fundador, essa dicotomia precisa ser muito bem administrada pelo fundador e aceitada e digerida pelo herdeiro, pois para o fundador mesmo na sua ausência, ele faz questão de que os seus fiéis escudeiros estejam assistidos, somente ele sabe o quanto este fiéis escudeiros foram importantes para o sucesso do negócio, portanto, o desafio está na cabeça do novo líder, treiná-lo e fazê-lo entender que precisa saber a hora certa de trocar os fiéis escudeiros do seu pai pelos seus fiéis escudeiros pode ser o segredo da sucessão familiar bem ou mal sucedida. Uma dica prática é criar um plano de aposentadoria complementar e de recompensas, que façam com estes fiéis escudeiros sejam assistidos e amparados em um processo sucessório de gestão, jamais abandoná-los, pois eles são os exemplos, espelhos e os elos para os demais colaboradores da empresa.

Foco no Resultado e na Continuidade dos Negócios

Se hoje a empresa fatura um número x e tem um lucro de y, em uma sucessão familiar com a troca da  liderança,  o herdeiro sucessor precisa garantir a performance mínima necessária para manter a estrutura familiar, isso vai ser o básico, pois sem recursos para a família, não existe liderança que sobreviva e se sustente, não existe milagre, e como diz o ditado, não existe almoço de graça, o sucessor precisa manter as garantias que o antecessor sempre proveu para os entes familiares, portanto manter a estabilidade do negócio é primordial para que o herdeiro sucessor tenha êxito no seu mandato. O herdeiro fundador precisa ter o controle sobre todos os pontos da empresa, principalmente a parte comercial, empresa nenhuma sobrevive sem vendas, faturamento é a parte mais sensível de um negócio, o herdeiro sucessor precisa ter o controle efetivo sobre o faturamento da empresa, entender e dominar os pilares da venda, a) o que mais se vende, b) como se vende, c) para se vende, d) a que preço se vende. Assim o mesmo dominará o faturamento e por consequência questão de tempo as demais áreas da empresa. Para isso o herdeiro sucesso precisa se preparar, um líder sem preparo vai ter dificuldades de entender a cultura organizacional e a dinâmica do mercado em que a empresa atua.

 Conclusão

As empresas e os empresários fundadores precisam planejar a sucessão familiar do negócio,  a  falta de um planejamento sucessório com certeza comprometerá a longevidade da empresa familiar, vai dificultar uma transição de liderança harmônica, afetando a cultura organizacional e principalmente desmotivando os colaboradores. Portanto, uma sugestão é contratar um conselheiro consultivo independente, focado neste proposito, que possa montar junto com a família um planejamento estratégico de sucessão, que elabore um plano estruturado, com ações definidas passo a passo e que possa gerar valor para a organização.

Décio Corrêa Lima