Inclusão com sabor de Pizza!
Quando minha filha Vitória nasceu, o meu ponto de vista em relação a vida, mudou radicalmente.
Não vou entrar em detalhes porque nesse artigo o que me motiva a escrever não é sobre o sofrimento e sim o sentimento de solidariedade.
Vitória ficou quase dois meses em coma em virtude de uma infecção que destruir algumas conexões neurológicas que naquele momento seriam difíceis de serem definidas. O resultado iria aparecer com o tempo. Algumas coisas já eram previstas, outras foram vencidas. Agora com 23 anos já se sabe com o que, tanto nós e em parte ela, deveremos ter que lidar.
Uma hemiplegia que atingiu o lado esquerdo do corpo e um déficit cognitivo que dificulta a alfabetização.
Enfim muita dedicação e investimento para se ter uma melhor qualidade de vida.
Por mais instruída que seja a população para aceitar o diferente, e não só isso, para que se tenha uma visão além do seu próprio umbigo, em boa parte das vezes conseguimos compreensão de pessoas que tem proximidade com algum tipo de problema dessa ordem em casa ou na família.
Lidar com o diferente retrai nossas atitudes em determinados momentos, não por incompreensão ou falta de humanidade.
É a nossa ignorância mesmo. É o medo de agir de forma errada e por sua vez perdendo a oportunidade de ajudar o próximo.
Por exemplo. Como reagimos quando nos deparamos com uma pessoa com Síndrome de Down? Como lidamos quando alguém aparentemente com um comportamento diferente do normal se dirigi até nós? Você toma a iniciativa e ajuda um cadeirante, ou oferece ajuda se entende que ele irá precisar? Ajuda a pessoa cega a atravessar a rua ou em alguma situação que venha a demonstrar perigo?
Minha filha Vitória, apesar do problema sério, é extremamente comunicativa. Puxa assunto com todos que estão a volta. Evidente, faz dos seus assuntos, assuntos para os outros, o que não significa que sempre venham a entendê-la.
É natural que muitas vezes ela fique no vácuo.
São muitas reações. De estranhamento. De pena. De solidariedade. De compreensão. Ou simplesmente de atenção que no fundo, é o que todos nós precisamos. É natural que sintam vergonha muitas vezes de dizer que não entenderam. Não podemos obrigar os outros a saberem como lidar. Em muitos momentos temos de intervir para criar, digamos assim, uma conexão.
Porém, ainda que na maioria das vezes nos deparemos com quem não sabe nem se quer prestar a atenção que precisamos, existem atitudes que nos surpreendem.
E é esse o propósito desse artigo.
Existe aquele velho provérbio que diz: em terra de cego quem tem um olho é rei.
Mas e quem vê muito além do que a visão pode lhe proporcionar o que é?
E isso foi o que ocorreu na pizzaria Fornellone aqui em Porto Alegre, onde moro.
Saímos em família para jantar. Escolhemos um lugar e nos sentamos. Fomos atendidos pelo garçom que prontamente se mostrou atento ao que seria o nosso pedido.
Mais atento ainda estava na hora de servir as fatias. Percebendo a dificuldade que a Vitória teria para cortar, já que não movimenta o braço esquerdo, de imediato perguntou se poderia ajudá-la cortando a fatia no seu prato. Confesso que essas atitudes me comovem. São tantos os atos de insensibilidade que nos deparamos que quando uma atitude assim surge é complicado não se emocionar.
É o olhar atento ao outro que descrevia no início do artigo. Simples atitudes que para quem não consegue realizá-las surge como um brinde!
Certamente esse garçom é um profissional que esta além de uma capacitação profissional. É um ser humano que enxerga além da bandeja e do pedido.
E vejam que o diferencial esta no perguntar. Se fazer disponível. Auxiliar os outros nas suas dificuldades.
E a diferença no atendimento não terminou ali. Assim que pagamos a conta e nos deslocamos a saída do restaurante, o gerente já estava com a porta aberta para facilitar à saída da Vitória, já que o restaurante tem dois degraus na porta. E não fez isso só por ser gentil. Fez porque percebeu que a Vitória é um desses seres humanos que precisa que alguém os olhe com ar de inciativa e não de pena. Correu na frente. Foi profissional e gentil.
Vitória que não deixa por menos, esticou a mão para o gerente, fez um gesto de agradecimento dobrando os joelhos e dizendo: Muito obrigado senhor! O que despertou um sorriso a todos que assistiam, não esperando que ela pode-se ter o mesmo estado de espírito de retribuir a gentileza.
Enfim. Parabéns a Pizzaria Fornellone que emplaca com o seu melhor sabor.
O bom atendimento que para nós clientes, deficientes ou não, tanto gostamos de atenção!