A indiferença dos cidadãos & o Admirável Mundo Velho do autoritarismo
O regresso de algumas formas de prepotência são o que considero o Admirável Mundo Velho do autoritarismo.
O autoritarismo político, social, organizacional, económico, financeiro, cultural não é algo com que a humanidade se tenha cruzado hoje ou sequer ontem (Trump, União Europeia não reconhece constituinte na Venezuela, Marie Le Pen, o partido Nazi no parlamento da Grécia, a crise financeira de 2008).
A política e a ciência cruzam-se quando a guerra e a ampliação do poder (I GG ou II Guerra Mundial, Guerra Colonial Portuguesa,...) são também tentativas desesperadas de sobrevivência do mais forte (Darwin, A Origem das Espécies).
A literatura traz-nos "MacBeth", Shakespeare propõe-nos "a lei do mais forte" para compreensão do autoritarismo. Segundo o dramaturgo, o mais forte tende a aniquilar para sobreviver, contudo, entra num ciclo vicioso de ambição, aniquilação e estado de alerta onde quase todos são encarados como potenciais inimigos, logo potenciais vítimas. Curiosamente, o predador MacBeth também não dorme descansado, uma vez que a urgência de aniquilação do outro é o outro lado da moeda do receio de ser aniquilado.
O autoritarismo presente em "O Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley é de índole científico-político. Rapidamente inspirou questões éticas relacionadas com as relações pouco claras entre a política, a ciência (Clonagem, Ovelha Dolly) e os grandes detentores de capital. Nesta obra, o cruzamento entre tese e a realidade recente poderá acelerar visões desencantadas relativamente ao futuro da humanidade. Huxley descreve friamente seres geneticamente controlados, governados por castas (ou pressupostas elites), um contraditório violento à esperança legada por "Utopia" de Thomas Morus. Por seu lado, "O Triunfo dos Porcos" e "1984" de George Orwell, são obras que reincidem no desencanto, traçando igualmente um destino de autoritarismo, controle e manipulação tecnológica. A obra de Huxley cruzada com o mito da Caverna de Platão certamente que foram inspiradores do filme Matrix realizado por Lili e Lana Wachowski; enquanto Orwell provavelmente inspirou programas de entretenimento de qualidade questionável e um excelente filme de animação (Wall.E), entre outros.
Por vezes, a literatura, o cinema, a realidade imaginada e a real cruzam-se, e muito rapidamente somos apanhados na encruzilhada do imaginário real.
No cinema o autoritarismo surge através de "Bad Guys" ou "Bad Girls" magistralmente interpretados por atores / atrizes de renome (Brando, Pacino, De Niro, Bette Davies, as louras de Hitchcock, etc), quem não ficou petrificado ou revoltado com o simbolismo e a perfídia do mal destas personagens / obras cinematográficas (O Silêncio dos Inocentes)?
Infelizmente, a história do século passado traz-nos um exemplo político aterrador, a obra "Hitler, Uma Biografia" de Ian Kershaw, resume a realidade da ascensão do ditador alemão, a pergunta orientadora da tese de doutoramento "Como foi possível um povo com um nível de escolaridade e cultura acima da média europeia ter permitido a ascensão de Hitler?" apresenta conclusões pouco pacificadoras quanto a variáveis como "estereótipos", "preconceitos", "ambição", "falta de escrúpulos", "arrogância", "prepotência", "crise", "obediência", "manipulação de massas" e "ignorância".
As crises, sejam elas sociais, económicas, políticas, ou outras, são um campo fértil para o ressurgimento dos autoritarismos, totalitarismos, ditaduras e o ressurgimento da conquista do poder através da utilização de todas as armas. Será suficiente esta explicação para a compreensão da ascensão ao poder de homens que espalharam e espalham o terror de uma forma mais ou menos desumanizada (Guerras Religiosas, Hitler, Staline, Franco, Pinochet, Mussolini, Hussein, Castro, Salazar)? Qual o papel dos meios de comunicação social na difusão e ampliação do medo e do terror?
Ou será que a ascensão de homens / mulheres que espalham, e ampliam, o crescimento de ambientes de medo ou de terror, também não poderá ser explicada à luz da indiferença (ou falta de coragem) dos cidadãos?
"Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde."
Sermão de Martin Niemöller
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7 aConcordo com o texto, só não percebi a inclusão do não reconhecimento da assembleia constituinte de Venezuela pela UE como um exemplo de autoritarismo.
Sr HR Manager
7 aReal, actual & preocupante! Parabéns pela reflexão!