A Inovação é o Negócio do Negócio
Uma breve reflexão sobre Inovação e o impacto social das empresas.
I – A Inovação é inerente ao processo evolutivo do Homem:
A Inovação é um atributo natural da espécie humana - homo sapiens - desde a pré-história, da pedra lascada até o artefato espacial na órbita de Plutão, todos os produtos humanos têm vida e estão a serviço do Homem.
A nossa espécie vem evoluindo e acrescentando tecnologias e ferramentas ao seu acervo, ao longo de cerca de quatro milhões de anos. Vivemos, ainda, no planeta azul que orbita em torno desta estrela de 5a. grandeza, uma entre mais de 200 bilhões de outras que existem na Via Láctea, juntamente com 300 bilhões de outras galáxias que compõem este nosso Universo conhecido.
Não estamos sozinhos nesta Terra. Em realidade somos parte de um fenômeno raro de moléculas que interagiram entre si de um modo peculiar, energético, com a capacidade de reproduzir sua organização interior e adaptar-se ao meio ambiente, na superfície, nas águas e na atmosfera. Este processo evolutivo deu origem à toda sorte de variações deste fenômeno, com espécies que surgiram, outras desapareceram, ao longo de mudanças climáticas e até mesmo de choques de massas de matéria atraídas pelo Sol. O homo sapiens, é uma dentre as 8,7 milhões de espécies diferentes que se espalharam pelo planeta.*
Dentre todas as formas de vida na Terra, somos a única que desenvolveu a capacidade de projetar continuamente seus artefatos e estratégias de sobrevivência. Criamos modos de pensar e modelar as ferramentas para intervir na Natureza, desde a pedra simples que foi lascada, até os mais sofisticados instrumentos de investigação. Por exemplo, temos o acelerador de Hádrons do C.E.R.N.**, que nos ajuda a compreender a estrutura básica da matéria, nos desconcertantes achados da Mecânica Quântica, também as naves espaciais que desafiam concretamente nossa imaginação. A lista é interminável: roda, óculos, luz elétrica, antibióticos e vacinas, laser, ...
Este processo de desenvolvimento é uma atividade contínua, que revela a nossa capacidade de acrescentar valor ao que já conquistamos, que já projetamos, ao pensado e realizado no interior de nossas comunidades em suas diferentes culturas, levando-nos para adiante, num avassalador ritmo criativo.
Esta resultante das forças que constroem e modelam nossas diferentes culturas tem raiz na própria estrutura de nosso DNA, naquilo que nos define como agrupamento reprodutor, entre os antropoides eretos.
II – O que entendemos como Inovação nas organizações:
As bases para inovar já estão determinadas, e não se trata de nenhuma aquisição externa e sim uma aceleração de nossa capacidade de adaptar-se. Produtos ou Serviços são inovadores quando o seu Impacto Social e o alinhamento com a Sustentabilidade e com a Execução, são capazes de transformar, para melhor, as mentes, o modo de viver e de trabalhar dos usuários.
Assim, gosto desta definição que, embora muito óbvia, revela os distintos momentos do processo de inovar: Ideias de valor implementadas com sucesso.
Desconstruindo a frase, podemos dizer que as ideias brotam das mentes criativas, dedicadas a adicionar valor à solução que já existe. Entretanto, vale destacar que a palavra implementadas contem um significado maior, que revela coragem ao correr o risco de construir, de investir e colocar de pé aquelas ideias, implicando possibilidade de falhar, mesmo aquelas oriundas daqueles mais convictos. Entretanto, se houver sucesso, ou seja, aceitação e uso pelos demais, então a definição se completa. Do contrário não é Inovação, é fracassação.
III - A sociedade Pós-Industrial
Uma mudança de era.
Durante milhares de anos, os aglomerados humanos se organizavam com o trabalho e a moradia muito próximos . A oficina e o artesão se constituíam no modelo mais difundido do trabalho. “A habitação e a oficina conviviam sob o mesmo teto e muitas vezes ocupavam o mesmo espaço” e “os quarteirões constituíam um conjunto contíguo e coordenado de estruturas para a vida doméstica, o trabalho, o comércio, o lazer e a oração.” A era industrial foi sendo urdida gradativamente desde os meados do século XVIII, que marca o fim da era da produção artesanal e foi aperfeiçoada no século XIX com o advento da máquina à vapor. A industrialização, produção em massa de bens, atingiu o seu ápice no século XX, orientando o Ocidente para o consumismo e fazendo com que a sociedade rural fosse, praticamente, dominada por este modelo. Entretanto, na atualidade é notável que esta era esteja dando lugar a um outro espectro de funcionamento social.
Quando consideramos a explosão da hiper-conexão através da internet e como a população humana observamos que move-se numa nova direção de pertencimento global através das novas tecnologias de conectividade, capacidade de compartilhar conteúdo e acesso à informação. Estamos imersos num movimento de uma transição de era, para uma sociedade mais mundializada, onde o estado-nação está deixando de ser hegemônico para dar lugar às organizações espontâneas da maioria da população global.
Domenico De Masi relaciona cinco aspectos que definem este momento: 1) a passagem da produção de bens para a economia de serviços; 2) a preeminência da classe dos profissionais e técnicos; 3) o caráter central do saber teórico, gerador da inovação e das ideias diretivas nas quais a coletividade se inspira; 4) a gestão do desenvolvimento técnico e o controle normativo da tecnologia; 5) a criação de uma nova tecnologia intelectual.
IV - As Startups
O ‘novo semblante’ da economia.
Na era pós-industrial a avalanche de Startups é um fenômeno explosivo de empresas centradas no ser humano, na jornada dos consumidores conectados e colaborativos. De fato, as empresas que hoje figuram no topo do ranking das mais desejadas e valiosas do mundo tem algo em comum: forte apoio na tecnologia da informação e disrupção no modo de se relacionar com as pessoas, sempre levando em consideração a conectividade. Os produtos carregam os serviços que prestam com muita transparência e os consumidores valorizam a plataforma, já que o serviço embarcado é o que importa para seus valores. Empresas como o facebook, Google, WhatsApp, AirBnb, Uber, são exemplos desta nova economia do século XXI, que nasceram de visionarios ainda estudantes na academia.
V - Cultura:
Kit sobrevivência que recebe ao nascer.
Nossas mentes ativas e os nossos modos de pensar, são modelados pelo ambiente em que evoluímos durante a nossa infância. Podemos admitir que, ao nascer, recebemos, no ninho, um pacote com as ferramentas de sobrevivência, incluindo a evolução afetiva e as ferramentas de interpretação da realidade, língua, mitos e rituais, dos familiares e do entorno de convivência. A internalização deste pacote durante a infância, é o que denominamos cultura, pois ao chegar à maturidade, precisaremos nos livrar disto, abandonando criticamente este lastro, para sermos capazes de lapidar o acervo de nossa organização social, por meio de nossas lentes, na direção do Universo, construindo a própria identidade, expressão de nosso corpo consciente do coletivo, o self.
VI - A emergência do Design Thinking:
Design Thinking é pensamento centrado no ser humano em todo o processo de resolução dos desafios de qualquer projeto. Trata-se de instrumentalizarmo-nos, inspirados no modo de pensar dos designers, para resolver problemas para as necessidades humanas.
Assim, em primeiro lugar, inicia-se uma busca de como as pessoas enfrentam estas questões, estabelecendo empatia, investigando os impactos sociais, pessoais e institucionais por meio de uma perspectiva intuitiva, que busca padrões e as ideias criativas para esta solução. Em segundo lugar estabelece-se uma colaboração entre os que projetam e os usuários, o que é fundamental para a eficácia das respostas que se buscam. A terceira etapa do processo é a experimentação, a construção de protótipos que permitem refinar em grupo, antes de finalizar. Esta etapa, que se resolve com a prototipagem da solução escolhida, é o que torna mais efetivo e menos custoso a identificação de possíveis erros de avaliação destas mesmas ideias.
Uma organização que está permanentemente concebendo seus processos e ofertas utilizando-se das ferramentas do design thinking, é mais assertiva e serve melhor, tornando-se mais sustentável - financeira, social e ambientalmente.
VII – Sucesso, Propósito e gestão colaborativa:
Por outro lado, a empresa para manter-se ativa no século XXI precisa tornar cristalino o seu “Propósito”, ser transparente e comprometida, em todos os pontos de visibilidade, com seus empregados e com a sociedade.
O sucesso depende de dois fatores essenciais. O primeiro, da qualidade da resposta à pergunta sobre o impacto social de seus produtos ou serviços. O segundo fator é a transparência, na busca constante de aperfeiçoamento do modo de interagir com a Natureza, de respeitar o processo evolucionista, de preservar o nosso meio vital. A combinação destes dois elementos é o que vai estabelecer os fundamentos de seu futuro. Os empreendimentos que contrabalançam estas premissas, executando seus processos com engajamento no seu propósito são, por hipótese, mais desejáveis e rentáveis.
A colaboração criativa para o aperfeiçoamento dos produtos e serviços, implica centrar as organizações nos processos de busca da Inovação continuada. Este fenômeno ocorre praticamente em todas as sociedades conectadas.
A Inovação, portanto, tem a ver com aquele inconformismo que os jovens manifestam na transição para a maturidade. De fato, é nesta passagem que se corrigem os atrasos que o kit sobrevivência, antigo, que gerenciou a infância, contém. É um caminhar para frente de modo a deixar para os nossos filhos um mundo melhor do que antes. Inovar é tomar consciência de que garantir a perenidade da empresa é garantir o futuro da espécie.
Somos todos inovadores, certo? Faça a sua parte do seu jeito e os seus companheiros vão te seguir.
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* Estudo da Universidade de Dalhousie, no Canadá, e da Universidade do Havaí, realizado por Camilo Mora, ainda não foram descobertas 86% das espécies terrestres e 9% das marinhas.
** C.E.R.N. - A Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear é o maior laboratório de física de partículas do mundo, em Genebra, na fronteira da França. Criado em 1954, tem vinte Estados membros e cerca de 2.400 funcionários em tempo integral. (Wikipedia).
· Bold - how to be brave in business and win. Shaun Smith & Andy Milligan. 2011 – Kogan Page Limited – London.
· See Feel Think Do - The Power of Instinct in Business. Shaun Smith & Andy Milligan - 2005 – Marshall Cavendish Business - London.
· A Linguagem das Coisas. Deyan Sudjic - 2008 – Editora Intrínseca.
· Empresas humanizadas. Raj Sisodia, David B. Wolfe, Jag Sheth - 2015 - Instituto Capitalismo Consciente Brasil – Brasil.
· A Sociedade Pós-Industrial. Domenico De Masi - 2003 – Editora Senac – Brasil.
· Il Futuro Del Lavoro. Domenico De Masi -1999 - RCS Libri S.p.A., Milano.
· Brand Jam – O design emocional na humanização das marcas. Marc Gobé - 2010 – editora Rocco – Brasil.
· A Civilização do Espetáculo. Mario Vargas Llosa - 2012 – Quetzal Editores – Lisboa.
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