Inovação aberta: a colaboração e o desafio do encontro de culturas
Imagine a cena: de um lado está Ana, uma pessoa viajada, que já conheceu vários países, esteve em contato com muitas culturas, fala três línguas fluentemente. No seu hall de habilidades está a extroversão, a criatividade e, principalmente, sua coragem em arriscar sair da zona de conforto. Do outro lado está Maria. Maria é extremamente organizada, metódica. Adora uma planilha. É curiosa e uma grande estudiosa da cultura brasileira. Ana e Maria têm habilidades, conhecimentos e experiências complementares. Se fossem organizações, poderíamos considerá-las um prato cheio para a colaboração e, por que não, para um belo projeto de inovação aberta, certo?
Sim e não.
Sim, porque a complementariedade de recursos, habilidades e experiências é um fator importante quando se considera iniciar um projeto em colaboração com outra organização, como os de inovação aberta por exemplo. E não, porque colaboração não é o mesmo que encontrar e reconhecer complementariedades. Pelo menos, não é apenas isso. Saber das habilidades e recursos presentes nas partes que irão trabalhar juntas é importante, mas entender que cada pessoa/ organização chega num projeto de cooperação com uma cultura própria e com um 'jeito de fazer’ já estabelecido é fundamental. A colaboração verdadeira só acontece quando as parcerias são firmadas num modelo de ganha-ganha, o que significa que os lados presentes vão precisar flexibilizar em alguns pontos, ter uma comunicação fluida e transparente, desenvolver uma relação de confiança. E confiança é algo que vai muito além da troca de recursos funcionais.
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Dito isso, fica bem claro que não tem como funcionar um processo (ou uma tentativa) de inovação aberta quando uma das organizações que a deseja age como se estivesse em uma relação que segue os velhos moldes de prestação de serviço, onde você contrata o recurso que não tem internamente de um terceiro. Quando falamos de propostas que envolvem a colaboração, estamos trabalhando para muito além de uma contratação e, por isso, o processo é mais complexo (e pode gerar frutos mais estruturantes e profundos de transformação). Começar com um mapeamento de cultura pode ser um bom caminho.
É premissa entender valores, práticas já instauradas e fluxos de comunicação vigentes, para além das habilidades e recursos funcionais que vão ser oferecidos. Os acordos do que se ganha e do que se abre mão - de cada lado que está envolvido no processo - precisam ser claros e bem estabelecidos.
É na relação de confiança que a colaboração acontece e é nessa troca - onde todos ganham - que está a mágica da inovação aberta: o momento em que o encontro de duas ou mais organizações (que são vivas e, por isso, intensas) permite a ampliação das possibilidades de atuação e entrega, ao mesmo tempo em que garante a preservação das essências de cada membro. Inovação aberta é um desenho incrível que pode sim usar as complementariedades sem sobreposição ou hierarquização.
Agora, voltando à cena do início desse texto, qual seria o processo mais frutígero do encontro entre Ana e Maria? Um contexto onde elas pudessem estar juntas naquilo que as fazem ser melhores, mas preservando as características e habilidades que fazem de cada uma delas pessoas únicas. Fácil? De jeito nenhum! Mas muito possível e, certamente, com resultados interessantíssimos.