A inovação como colcha de retalhos

A inovação como colcha de retalhos

O processo de criação se assemelha a uma colcha de retalhos, em que cada pedaço de tecido deve ser encaixado um no outro formando pequenos pontos de conexão, como as sinapses neurais, onde alinhados e costurados da forma correta podem gerar muitos insights e eurekas

Interessante observar que ainda é muito questionado se o processo criativo é uma habilidade inata, um talento, dom natural ou é algo adquirido. Para esta temática, arrisco a dizer que o processo criativo está fortemente ligado à motivação do indivíduo de questionar, ser curioso e isso pode ser inato ou mesmo adquirido através de sua vivência, assim como também está ligado a um processo fisiológico em que “o aprender ou criar algo novo” libera dopamina no corpo, gerando a sensação de prazer. O aprendizado marginal através de núcleos culturais, acadêmicos e sociais também reforça a membrana deste pensamento criativo; logo a criatividade está relacionada a estímulos pessoais, físicos, de ambiente e memória vital; é algo muito parecido como entrar em flow, um fluxo contínuo de cadência cognitiva com elevada racionalidade estética e funcional, que gera variados subprodutos através de conexões criativas.

Em uma pesquisa realizada nos EUA, citada pelo escritor George Land, no livro “Ponto de Ruptura e Transformação”, (Editora Cultrix, 1990) confirmou-se que a criatividade é uma habilidade natural de todos. Segundo a pesquisa, conduzida pela NASA, com 1600 pessoas, ao crescer o ser humano desaprende de ser criativo, isso está intrinsecamente ligado à matriz de crenças que todos nós carregamos. Para os indivíduos que se agarram como náufragos as suas crenças se torna mais difícil trabalhar sobre perspectivas inovadoras, pois o nível de autocensura é mais elevado.

O tema inovação e criatividade têm sido cada vez mais recorrentes, porém é dado pouco enfoque sobre a simplicidade e autenticidade da forma de pensar. O pensar criativo é uma caixa aberta, uma terra sem dono, cada um tem um processo único, logo aquele que impor uma forma exclusivista e que conduza a uma fórmula perfeita para encontrar o caminho criativo, estará fadado a não dar nem o primeiro passo. Digamos que você pode melhorar e muito o seu processo criativo, criando a sua própria forma de pensar criativamente, para isso é importante colher muitas pistas, informações sobre o tema, e o modo que você conectará tudo isso que permitirá criar um caminho único e autêntico.

Muitas empresas ainda buscam estimular que os seus funcionários sejam mais criativos, seja através de um ambiente mais cool ou através de liberar aquela bermudinha maneira, mas costumam ser inflexíveis quando surgem os “não queridinhos” do processo, o vulgo “fracasso”, que pelo prisma da criação não se trata de fracasso, mas sim mais uma maneira de não chegar ao objetivo proposto. É fato que mesmo que ocorra esta intervenção (e ela vai ocorrer), ainda é possível inovar com esse desvio de rota, como exemplo podemos citar o exemplo de um restaurante francês chamado Osteria Francescana, localizado na cidade de Modena, Itália, onde o chef Massimo Bottura relata que próximo do fim do expediente, haviam duas sobremesas de torta de limão para serem servidas e uma delas caiu no chão no exato momento que estava saindo da cozinha em direção à mesa de seu cliente, como não havia mais tempo hábil e ingredientes suficientes para criar outro prato, Massimo teve uma ideia e criou uma nova forma de apresentar a tradicional torta de limão, criando o “Ops! Derrubei a torta de limão”. Este é um exemplo prático de como podemos colher aprendizados com os nossos erros e ainda torná-los um caminho para inspiração e criatividade.

É uma verdade máxima que temos vivido tempos febris para temas como inovação e criatividade, muito se pedem destes atores, onde parecemos projetar nossos anseios heroicos para resolução de todos os problemas atuais e que poderiam ser resolvidos através de novas ideias, novos produtos, novos negócios, novas formas de fazer o que já fazemos há tempos. Como evidência, podemos presenciar a Meca da inovação, Vale do Silício, um ponto no globo em que concentramos um desejo ardente da humanidade de mudar a forma como nos reconhecemos e reconhecemos o mundo.

Todos nós temos percebido a mudança que a tecnologia nos trouxe, mas ao inverter esta moeda nos questionamos se foi mesmo a tecnologia, e descobrimos que este processo está mais para um subproduto de algo mais intrínseco, que começou dentro de nós mesmos, devido ao contexto global e mudanças estruturais de pensamento e ambiente, transformando completamente a nossa realidade.  Também é curioso observar que muito do que produzimos no imaginário, como é disposto em filmes, tornamos tangíveis à dimensão da realidade, a arte cenográfica assim como as demais, neste aspecto é quase uma linguagem de desejo, capaz de profetizar o objeto projetual; ainda há quem diga que a ficção quebra qualquer futurologista de plantão. Desta forma podemos observar que o progresso da humanidade está intrinsecamente ligado ao processo criativo de cadência incremental e disruptiva, e a sua expressão são as tecnologias artificiais, arte, escrita, arquitetura, cenografia, etc;  o que nos assusta é que nos últimos anos a disrupção tem sido cada vez mais elevada,  uma vez que o mundo virtual nos permite ter maior velocidade nas conexões realizadas, trazendo a era exponencial à tona, favorecendo para um mundo muito mais volátil, inconstante, sem fronteiras e extremamente veloz. 

Valeria Meira

Experiência do Cliente e do Colaborador | Co-criação e Colaboração | Marketing e Comunicação | Market insights | Customer Centric | Gestão do Relacionamento com o Cliente

7 a

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