INOVAÇÃO ESTÁ NO OLHO DE QUEM VÊ
Uma certa abordagem – disruptiva e criativa – pode perfeitamente vir antes de investimentos estelares e programas corporativos. Que características identifico nos nossos “gênios do dia a dia”?
Trending topic total: onde quer que eu encontre colegas, das mais variadas áreas e diferentes setores, o papo inevitavelmente chega nos temas de inovação e transformação digital. Compreensível. Estamos diante de inúmeras possibilidades, num movimento talvez inédito na história das empresas (se não qualitativamente, ao menos quanto a velocidade e alcance, com toda certeza). E, entre todos os tópicos que surgem no horizonte – o desafio de definir seu rumo por mares nunca antes navegados, a multiplicidade e a complexidade das tecnologias, quando tomadas individualmente, ou as mudanças organizacionais e conceituais necessárias -, nenhum outro é tão instigante quanto a conceituação do “espírito disruptivo-criativo”. Bom, acabei cunhando uma expressão, mas somente porque queria evitar escrever mindset.
Tenho tido evidências quase diárias do valor desse espírito em ação e dos resultados concretos, de curto prazo e longa vida que normalmente trazem. Entre os estudiosos e no glossário da inovação me desagrada sentir uma nota pejorativa quando se fala em “inovação incremental” – como se fosse algo intelectualmente menor. Muitas vezes soa assim. Mas são nessas pequenas maravilhas do cotidiano que tenho encontrado imenso valor. Imenso.
Uma técnica bem específica para recondicionar um componente de uma peça de alto custo e, passe de mágica, alguns milhões de reais a menos no orçamento (neste e nos próximos anos, ad aeternum). Uma mudança no sequenciamento das etapas de um processo que repetimos desde sempre e, voilá, 30% de ganho de produtividade, da noite para o dia. Benefícios, como disse, da maior tangibilidade imaginável, gerados por colegas com essa vocação natural, esse talento que permite quebrar os caminhos usuais do pensamento e disso tirar algo melhor.
Um passo adiante: o que podemos identificar em comum nesse pessoal? Sem a pretensão de ter chegado à versão final do “Manual Prático da Inovação em Seres Humanos”, obra que acredito estar sendo escrita coletivamente por nossa espécie, meu contato com diversos colegas que trazem a disrupção-criação como dispositivo built-in tem me deixado impressões cada vez mais claras:
– São pessoas inconformadas, e num sentido bem especial. Vejo um padrão de profissionais que não se satisfazem com algo que está funcionando, pelo simples bom funcionamento. Ouço com regularidade: “Qual a motivação? Sabia que dava para ficar melhor”. Não são necessariamente pessoas inquietas ou visivelmente ambiciosas, nem querem mudar o mundo da noite para o dia. Elas só não conseguem não evoluir. (Junto com meu “Manual”, pretendo vender pílulas de Inconformismo Generativo, mais um produto para a lista; assim que descobrir a fórmula, compartilho aqui).
– Todas elas fazem, de maneira mais ou menos consciente, um link do todo com as partes – muitas vezes, partes bem pequenas, como no exemplo do componente, um entre centenas de milhares à disposição em uma de nossas oficinas. Essa é, claro, a origem de todo o valor gerado para o negócio. Alinhamento e clareza de propósito em cada mínima ação, em cada parafuso, em cada conta realizada. Nem toda aceleração de processo é bem-vinda, nem toda racionalização faz bem ao negócio. Somente aquelas que geram ganhos sem destruir valor, de outro lado, preservando o que é essencial para o negócio.
– Por fim, são pessoas apaixonadas pelo desafio técnico. Estamos indubitavelmente diante de uma turma que gosta de quebrar a cabeça em cima de um problema. Uma postura meio nerd, digamos – outro conceito muito legal, igualmente surrado pelo uso pejorativo. Basta ouvir, como eu tive a oportunidade várias vezes, o autor falar sobre seu invento ou inovação. É um pai falando do filho, nos mínimos detalhes, com o mesmo interesse e o mesmo orgulho.
Vivemos tempos incríveis e esse espírito, na minha visão, é o que há. Obviamente a jornada de transformação das indústrias, de nós como seres produtivos e de nossas culturas, no fim das contas, se dará também por outros meios – a disrupção radical da tecnologia digital, investimentos estruturados, muitas tentativas e sem dúvida vários erros. Mas a boa notícia é que essa visão de mundo, inconformada, conectada e apaixonada por um problema, em nenhum momento é antagônica à “Grande Inovação”. Pelo contrário. Só a induz, a viabiliza. É o espirito fundador das maiores transformações que estão por vir. Porque toda essa transformação não virá de mão beijada. Futuro não é produto de prateleira. Precisamos trabalhar em nós mesmos antes de tudo: nosso olhar e nosso pensar. É como diziam antigamente. O caminho da inovação, a beleza toda dessa história, pode estar simplesmente no olho de quem vê.
E você? O que tem visto de bom e de inovador por aí?
Innovation & Venture Capital at Deloitte | Strategy & Business Design | Innovation Culture
5 aExcelente abordagem ! É essa a conclusão, a nova era das tecnologias disruptivas nos dará mais oportunidades de exercer aquilo que é nato do Ser Humano... se incomodar, criar, ser criativo... onde o diferencial será exatamente 'sermos humanos'.
Eletrofisiologia| Medical Devices | Gestão de Contas | KAM
5 aPrezado Gláucio, ótima reflexão! Deixo mais um questionamento, quais inovações nos permitimos ver? Tenho observado que o processo disrruptivo também pode ser consequência de várias transformações menores que se complementam e repentinamente se transformam em algo muito mais amplo, assim como a gota d'água que faz o copo transbordar. É fundamental treinarmos nossa percepção para estes pequenos incrementos potenciais, lapidá-los e implementar na cultura das organizações.
Coordenador de Logística - MRS Logística | Administrador | MBA em Gestão de Pessoas e Liderança | Black Belt Lean Six Sigma |
5 aInovação não é só tecnologia: é pensar e agir diferente! Parabéns pelo artigo!
Sócio Diretor na OAK Capital / Co-founder Lucro+
5 aGláucio Oliveira parabéns pelo excepcional artigo. Excelente análise!
Sócio-Diretor na Oak Capital, Investidor e Sócio na Nubbi e Lucro+
5 aShow Glaucio! O Brasil, neste caso os brasileiros, têm uma vocação inovadora quase que natural criada muitas vezes pelas dificuldades enfrentadas. Vejo que estimular e canalizar esse potencial faz parte dessa construção futura como empreendedores. Vejo modelos novos de negócio desafiando as regras e quebrando paradigmas. Muita coisa boa pra vir.