Inovação Tática na Transição Energética: Estratégias e Desafios Corporativos
Compreender a relação entre inovação e transição energética é essencial. Muitos veem a inovação apenas como o desenvolvimento de novas tecnologias, porém, sua essência vai além das invenções. E por isso hoje, quero aprofundar esse conceito.
Primeiramente, é crucial esclarecer que a inovação é uma tática. Enquanto a estratégia define "para onde vamos", a inovação responde ao "como chegaremos lá". É a ferramenta que impulsiona o desenvolvimento de novos produtos, mercados, ajustes de portfólio e mudanças nos processos, tudo voltado a aumentar receita, lucro e eficiência. Infelizmente, muitas empresas limitam a inovação a iniciativas isoladas, como programas de startups ou digitalização de sistemas, sem conectá-las a uma estratégia clara. Esse desvio do foco estratégico aumenta o risco de insucesso.
Assim, o desafio dos líderes corporativos é estabelecer essa conexão entre estratégia e tática, motivar suas equipes e saber quando e como utilizar as ferramentas de inovação de maneira eficaz.
Mas, o que isso tem a ver com a transição energética? Como disse a Legião Urbana, "o futuro não é mais como era antigamente". A transição energética visa oferecer os mesmos produtos, porém utilizando fontes de energia renováveis em sua produção. Isso abrange desde a energia consumida em nossas casas até a fabricação de materiais como aço, cimento e produtos de maior valor agregado. Essa mudança é uma resposta crucial para a sobrevivência do planeta, diante das mudanças climáticas alarmantes que presenciamos, refletidas em desastres naturais como enchentes, secas intensas e fenômenos climáticos extremos em locais antes considerados fora de risco.
O Acordo de Paris foi uma resposta a esses desafios, estabelecendo metas globais para conter o aquecimento global. Assim, a transição energética tornou-se a nova ordem mundial, não apenas como uma necessidade, mas como uma oportunidade para desenvolver novos negócios. Neste contexto, a inovação torna-se uma ferramenta tática fundamental para as empresas compreenderem o "como fazer" para se alinhar a essa transição.
Portanto, a inovação estratégica é a chave para a implementação bem-sucedida da transição energética. É através dela que as empresas podem adaptar-se a novas demandas, abraçar fontes de energia limpa e redesenhar seus modelos de negócios para se alinharem a essa jornada em direção a um futuro mais sustentável.
O primeiro passo é crucial: estabelecer uma estratégia clara para a empresa, baseada na identificação das principais tendências em tecnologia, indústria e demandas dos clientes. Ao mapear essas tendências, surgem oportunidades externas em produtos, canais de mercado e oportunidades internas voltadas para a eficiência operacional. A partir desse panorama, inicia-se a formulação de teses de inovação (ou teses de investimento) focadas na transição energética. Essas teses são essenciais para identificar as parcerias estratégicas necessárias, assim como a criação de uma matriz que determinará o esforço e o valor para o negócio em cada área de inovação. No setor energético, existem diversas teses de transição energética. Um exemplo prático pode ser a busca por alternativas de armazenamento de energia para lidar com a intermitência de fontes renováveis, como painéis solares ou turbinas eólicas. Empresas têm investido em tecnologias de baterias avançadas ou sistemas de armazenamento hídrico para enfrentar esse desafio, permitindo um suprimento mais estável de eletricidade, mesmo quando o sol não está brilhando ou o vento não está soprando.
Outra tese em alta é o desenvolvimento do hidrogênio verde. Essa forma de energia, produzida a partir de fontes renováveis, está se tornando uma aposta promissora para a descarbonização em setores difíceis de eletrificar, como o transporte pesado e a indústria. Além disso, a integração de critérios ESG (ambientais, sociais e de governança corporativa) tornou-se uma prioridade no setor de energia. Empresas estão se comprometendo com práticas mais sustentáveis não apenas por motivos éticos, mas também reconhecendo o valor a longo prazo que essas práticas agregam aos negócios.
Quando se trata de inovação corporativa, o desafio é equilibrar os esforços nos diferentes horizontes de crescimento. No atual momento de transição, as organizações precisam adaptar seus esforços e investimentos devido às mudanças provenientes desse novo cenário de transição no setor energético.
As organizações, estruturadas ou não, estão passando por transformações rápidas em suas estratégias, adaptando-se aos impactos trazidos por esse momento de mudança. Essas adaptações são uma resposta não apenas às mudanças de comportamento e de mercado, mas também aos estímulos governamentais e à imposição de taxas e impostos. Em um contexto onde uma estratégia de inovação bem-sucedida está sempre interligada à estratégia de negócio, é crucial refletir sobre o equilíbrio dos esforços de inovação.
Quando uma empresa ajusta sua estratégia devido à transição energética, ou simplesmente segue o que está em voga no momento, mas não altera seus esforços de inovação, pode estar deixando escapar oportunidades significativas. Há o risco de ter uma baixa assertividade em projetos de inovação em andamento, prejudicando a capacidade de se adaptar e inovar adequadamente no novo cenário.
A figura 1 ilustra a bem conhecida Innovation Ambition Matrix. Essa matriz oferece um mapa visual das diferentes opções de posicionamento dos esforços de inovação, distribuídos nos Horizontes 1, 2 e 3. O Horizonte 1 concentra-se nos esforços de inovação no core business, enquanto o Horizonte 2 abarca inovações em áreas adjacentes e o Horizonte 3 foca em inovações transformacionais. A regra fundamental é a presença balanceada de esforços nos três horizontes, alinhados à ambição de crescimento da organização.
As mudanças drásticas no setor de energia - como a queda do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), a ascensão da geração distribuída, a abertura do mercado livre e avanços tecnológicos - estão desencadeando uma série de quebras de paradigmas. Essas mudanças terão um impacto sem precedentes, abrindo caminho para modelos de negócios completamente disruptivos.
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Analisando os dados, como no estudo Energy CEO Outlook: América do Sul da KPMG percebe-se a preocupação das empresas do setor de energia em explorar os Horizontes 2 e 3, buscando diversificação e inovações de maior impacto. No entanto, muitas dessas empresas tendem a se concentrar fortemente no Horizonte 1, otimizando os produtos centrais e, por vezes, negligenciando explorações de oportunidades nas adjacências e transformações potenciais no negócio. Quando tentam explorar essas áreas, nem sempre possuem a estratégia ou as ferramentas adequadas para compreender e explorar as oportunidades de maneira eficaz.
Ao mesmo tempo, observamos uma minoria das empresas entendendo que esse pode não ser o melhor movimento para aliviar pressões orçamentárias no curto prazo, deslocando parte dos seus esforços de inovação para a exploração de adjacências “low hanging fruits”. Certamente há diversas razões para deslocar os esforços de inovação para projetos com resultados esperados para o curto prazo, sobretudo em empresas com restrição de caixa decorrente da crise. Porém, a grande mensagem é que curto prazo não significa necessariamente foco no core business. Se antes explorar oportunidades fora do core era sinônimo de longo prazo, hoje vemos diversos exemplos de empresas que exploram adjacências de forma extremamente célere, muitas vezes retornando o investimento no esforço de inovação no mesmo ano.
A palavra-chave aqui é AGILIDADE: acessar novos mercados e viabilizar novos canais através de testes rápidos e sucessivos, de forma a acelerar a entrega do valor à organização. Viabilizar este tipo de atuação deve ser um dos principais objetivos dos times de inovação nesse momento em que aumentar ao máximo as possíveis receitas com diversificação e redução de risco são prioridades das organizações.
Em um contexto de Agilidade Estratégica, a área destacada na matriz acima representa os espaços que organizações podem explorar dos Horizontes 2 e 3 no curto prazo se alavancando sobre seus ativos existentes. Territórios localizados nesses espaços, se explorados de forma ágil, tendem a concentrar esforços de inovação com maior taxa de retorno nos investimentos, conhecidos como “low hanging fruits”.
De fato, por um lado, um contexto de foco no curto prazo implica que inovações em produto e desenvolvimento de tecnologia – que em geral possuem ciclos mais longos – tendem a ser despriorizados. Por outro lado, inovações de canal e de novos negócios adjacentes são extremamente relevantes como forma de viabilizar o acesso rápido da organização a novos mercados, se alavancando nos produtos e serviços correntes, sem demanda de grandes investimentos.
Peter Drucker: "A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo."
Encerro este artigo com um desafio provocador: quais são os novos mercados adjacentes que sua organização ainda não está explorando? Como realizar essa exploração de forma ágil, com investimento reduzido e expectativa de alto retorno, aproveitando os ativos e habilidades dominados pela empresa e as vastas possibilidades oferecidas pelo mundo digital?
A transição energética impõe novas exigências aos esforços de inovação. A prática de manter esses esforços equilibrados entre os diferentes horizontes torna-se crucial, não apenas para empresas do setor energético, mas também para aquelas que consomem intensivamente energia. Encontrar o equilíbrio adequado entre as teses de inovação é essencial. A busca por resultados no curto prazo não deve significar a exclusão de oportunidades fora do core business. Pelo contrário, explorar áreas adjacentes, alavancando os ativos existentes da empresa, se revela uma estratégia inteligente para direcionar os esforços de inovação, especialmente em um contexto de restrição orçamentária, que demanda uma abordagem mais assertiva da inovação.
Concluímos, portanto, que a agilidade e a capacidade de explorar territórios adjacentes, com baixo investimento e alta expectativa de retorno, tornam-se elementos-chave para o sucesso durante esse período de transição energética. É o momento de desafiar a zona de conforto, de explorar novos horizontes, de questionar o status quo e de capitalizar o conhecimento interno para impulsionar inovações transformadoras.
Que essa reflexão sobre o equilíbrio entre inovação e a exploração de oportunidades nos inspire a moldar um futuro mais sustentável e próspero.
Business Consultant / Mentor / Business Designer / Cool Hunter / Community Leader
1 a👏🏻👏🏻👏🏻
Conselheiro Consultivo | Consultor & Mentor Empresarial | Diretor Comercial no ramo Imobiliário | Liderança | Maratonista 42Km | Especialista em Vendas, Riscos, Contratos | Produtor de Conteúdos | +179mil Seguidores
1 aBoa xará 👊🚀👏👏👏