INSIGHTS CLÍNICOS
An-saciedade, o desejo estranho da ansiedade (1ª parte)
A exigência de ser alguém de sucesso em todo o tempo e em tudo é uma marca deste tempo. Uma urgência vestida de uma tirania implacável, impõe as pessoas de serem felizes e bem-sucedidas, no amor, na carreira profissional e em tantos outros lugares. A tirania é como uma coleira que amarra o sujeito a um “modus vivendi” de cobranças e resultados. É neste contexto que a ansiedade se espalha como uma “praga” voraz consumindo milhões de pessoas sob a marca de estarem tão cheias, mas ao mesmo tempo vazias.
O diagnóstico da ansiedade tem sido usado para quase tudo. Contudo, o que se diz sobre ansiedade é apenas rascunho de algo mais profundo e cavernoso. Ansiedade, na verdade, é “an-saciedade”. Um neologismo para se entender o que de fato esta relacionado com a suposta ansiedade. Ansiedade é a falta de algo que o sujeito não sabe o que é; é o estranho desconhecido. E, porque não sabe o que é, existe a impaciência, a irritabilidade, o “comichão da alma” daquilo que não se sabe exatamente o que é. Neste sentido, toda ansiedade é uma “an-saciedade”, a saber, a busca de algo que faça sentido; que venha explicar a ausência; venha preencher o vazio de uma vida tão cheia. É a busca de se saciar, da satisfação, do gozo que faz sentido ao sujeito.
Não por acaso, a “an-saciedade” é o desejo estranho da ansiedade. Enquanto a ansiedade é a ponta do icerberg, o “an-saciedade” é a parte não vista e monstruosa deste iceberg. Esta que o sujeito por não conhecer tenta “entulhar” com as quinquilharias modernas como que uma vez alcançado fosse suficiente para saciar a voz desta falta profunda. Enquanto o sujeito não retificar subjetivamente a ansiedade ficará como um sujeito livre, porém encoleirado, preso, amarrado desta falta existente nele próprio, porém, estranho a si.
Psicólogo André Esteves - (24) 98125-2500