Insights: Eichmann em Jerusalém - A banalidade do mal

Insights: Eichmann em Jerusalém - A banalidade do mal

Depois de ler este livro, uma coisa é certa: Hannah Arendt era uma filósofa política extremamente complexa e este livro é reflexo disto. Ela escreveu aqui sobre o Holocausto, o papel de Adolf Eichmann neste evento sombrio e levantou diversas reflexões acerca do julgamento de um dos principais membros do alto escalão da SS.

Aliás, o serviço secreto Israelense fez um belíssimo trabalho ao localizar e encaminhar, forçadamente, para Jerusalém o responsável logístico, digamos assim, de toda a engrenagem do Holocausto. Em outras palavras, o responsável por gerenciar o transporte de milhões de pessoas para a morte.

A leitura gira em torno da sequência da sua extradição, que resultou no seu julgamento, coisa que suas vítimas não tiveram direito.

A autora aborda em diversos momentos o ponto de vista do ex-oficial Nazista, que embasou toda sua defesa no princípio de que estava apenas cumprindo ordens do líder nacional e que portanto, nada fez de errado.

Daí o conceito de "banalidade do mal", polêmica atemporal criada pela filósofa judia. Sugere-se que Eichmann e os envolvidos do lado alemão, bem como seus aliados, eram incapazes de fazer julgamentos morais uma vez que executavam ordens recebidas, sem questionamento nem reflexão. Ética? Moral? A ausência desses sensos críticos foi o que permitiu que as ordens superiores fossem executadas com primazia.

A desconstrução do caráter monstruoso de Eichmann e sua consequente 'humanificação' fez com que a filósofa fosse alvo de duras críticas da comunidade judaica. Pessoalmente, não consigo atribuir à um dos idealizadores da 'solução final' tamanha mediocridade intelectual.

 A execução de ordens pode ser mera obediência cega? Até que ponto a banalidade do mal pode justificar mais de 6 milhões de mortes? O senso de dever consegue ofuscar princípios éticos e morais básicos?

Surpreendentemente as questões acima conseguem ajudar a explicar como foi possível tanta violência e brutalidade.

Hannah Arendt acompanhou todo o processo e ainda pôde entrevistar pessoalmente o acusado e deixa entender que Eichmann era só uma pessoa comum da época, um dentre vários que obedeciam mecanicamente às ordens.

Existe um conceito que permeia o totalitarismo nazista: a massificação da sociedade, onde o indivíduo perde a capacidade de fazer esses e outros julgamentos morais. A massificação da sociedade atribui as decisões e responsabilidades aos que estão no poder, dando ordens, desconectando assim os executores de um senso de causa e consequência. Eichmann e outros deixam de pensar por si mesmos.

Finalizo este Insight com uma frase da autora:

“Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência — ela não é apenas sem sentido; mas não é totalmente viva. Homens que não pensam são como sonâmbulos”.

João Pedro Fernandez

Sócio no Bruno Fernandes Advogados. Mestre em Direito Penal Econômico pelo IDP/Brasília

1 a

Excelente texto

Daniella Maria Tedeschi

Sócia Fundadora DMAT Advogados | Aduaneiro | Tributário | Transação Tributária |General Corporate Tax ranked firm ITR World Tax 2025 | Contencioso Administrativo e Judicial | Comissão Aduaneiro OAB-RJ | Palestrante

1 a

Perfeito! Esse livro é genial

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Gabriel Tedeschi

  • Insights: O mal-estar na civilização

    Insights: O mal-estar na civilização

    Nunca será tarefa fácil discorrer sobre livros e interpretar ideias e pensamentos oriundos de Sigmund Freud. Mas…

    2 comentários
  • A atemporalidade de uma guerra fria Olímpica

    A atemporalidade de uma guerra fria Olímpica

    Destaco primeiramente a foto mais bonita das Olimpíadas de Paris 2024, na capa deste artigo, não me furtando de…

    2 comentários
  • Insights: Pai rico, pai pobre

    Insights: Pai rico, pai pobre

    Pai Rico, Pai Pobre é um livro de finanças pessoais, sendo leitura fundamental, de preferência desde cedo já que não é…

  • Maduro perdeu as eleições, mas ganhou

    Maduro perdeu as eleições, mas ganhou

    Não há absolutamente nenhuma surpresa quanto ao que assistimos hoje no nosso país vizinho. Ingenuidade demais seria…

    2 comentários
  • A história que não te contaram

    A história que não te contaram

    Toda e qualquer história, frequentemente, é escrita baseada inerentemente em vieses do autor, moldada por narrativas…

    2 comentários
  • Insights: As coisas que você só vê quando desacelera

    Insights: As coisas que você só vê quando desacelera

    O autor do livro é um mestre zen-budista sul-coreano, chamado Haemin Sunim. Eu particularmente acho que os zen-budistas…

    1 comentário
  • Insights - Admirável Mundo Novo

    Insights - Admirável Mundo Novo

    Ao final do livro: caramba, que soco no estômago. Cabeça saindo fumaça, quase explodindo de tantos pensamentos, no…

  • Insights: O Príncipe - Maquiavel

    Insights: O Príncipe - Maquiavel

    Um comportamento maquiavélico, ou uma pessoa maquiavélica, são expressões que eu já cansei de escutar e apesar de…

  • Insights: Quem mexeu no meu Queijo?

    Insights: Quem mexeu no meu Queijo?

    Esse é um daqueles livros que todo mundo deve ler logo cedo, na infância/adolescência. Como não tinha o hábito de ler…

  • Insights: A noite - Elie Wiesel

    Insights: A noite - Elie Wiesel

    Apesar do tema me interessar, como Judeu, é sempre duro ler sobre o Holocausto. Mas sei também que é necessário…

    1 comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos