A Inteligência como arma
Helcio Estrella
As tentativas de erro e acerto nos atos transparentes do governo federal tem demonstrado um grande esforço para se restabelecer o princípio da subordinação hierárquica na sociedade brasileira através do exemplo. O exemplo tem sido a marca dos atos do governo federal desde a posse do Presidente da República em 2019 e é certamente um dos fatores mais importantes, embora ainda não medido, da diminuição da criminalidade nas cidades brasileiras, fazendo par com o endurecimento no combate à criminalidade pela ação do Ministro Sergio Moro. É ainda um dos esteios da confiança popular no governo brasileiro. Prova, por exemplo, é a repulsa às tentativas que Lula tem sofrido ao tentar fazer comícios em áreas mais pobres. A confiança popular no governo federal também é forte em segmentos religiosos, católicos ou evangélicos, o que se percebe na esperteza de Lula em tentar obter apoio de evangélicos e de buscar virar o jogo ao conseguir ser recebido pelo Papa Francisco em audiência privada. O ex-Presidente procurou abrigo no guarda-chuva de Roma, travestindo-se em um católico praticante perseguido por seu amor aos pobres, buscando, na piedade dos que acreditam em Deus, abrigo para seu projeto de poder.
Mais rápido que as melhores cabeças importantes de Brasília, muitas das quais saídas das mangas do seu colete, o ex-Presidente manejou com habilidade seu conhecimento de marketing político, de forma a fazer inveja aos homens de comunicação. A comunicação aleatória usada em Brasília para combater a guerra contra a esquerda parece causar mais prejuízos do que esclarecer que o novo governo tem uma imagem diferente, moldada no compromisso de colocar, pelo exemplo, o Brasil nos trilhos através do exemplo. Ao compor o staff próximo de seu gabinete, o Presidente pode não ter tido a habilidade política de mesclar seus integrantes entre civis e militares, restringindo a escolha apenas a 4 generais, como se a virtude da ética fosse um apanágio encontrado apenas dentro dos quartéis. Pessoalmente, entendo que o Presidente prefira ter entre aqueles a quem dá diretamente as suas ordens os com perfil de certa inflexibilidade no cumprimento das missões recebidas, já que os civis, especialmente os políticos, tem uma certa flexibilidade diante da mesma incumbência.
Como se trata de uma experiência, portanto novidade, é possível que dê certo, mas os estragos estão feitos e a imagem do governo sai arranhada, o que sugere seja feita uma mudança na comunicação, na qual todos no governo deveriam falar a mesma língua, evitando-se as contradições e os enganos. Alguns membros do Ministério Federal deveriam evitar falar sobre medidas que possam ter aspectos contraditórios. Se, por exemplo, o Ministro da Economia não tentasse justificar a alta do dólar, já que o mercado cambial é livre para flutuar ao sabor dos negócios, não teria causado o estrago político ao inculpar as empregadas domésticas por realizarem seus sonhos de viajarem à Miami, gastando dólares que ganharam com seu suor.
Uma comunicação mais ajustada poderia evitar que ela se transforme em arma capaz de ser usada contra quem a divulga
O autor é jornalista, ex-Presidente Nacional da ABRAJET-Ass. Bras. de Jornalistas de Turismo.
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