Experiências Amazônicas #2 Internet na Amazônia: a decisão pela conexão é dos povos da floresta
Projeto Conexão Povos da floresta tem a meta de levar saúde, ensino, empreendorismo e cultura para mais de 1 milhão de pessoas na Amazônia.

Experiências Amazônicas #2 Internet na Amazônia: a decisão pela conexão é dos povos da floresta

No início de junho, estive em Alter do Chão, no município de #Santarém (Pará) para um evento muito especial, organizado pela rede Conexão Povos da Floresta . A iniciativa reuniu povos da Amazônia para celebrar/avaliar um projeto que tem a meta ambiciosa de conectar à internet mais de 1 milhão de pessoas em mais de 8 mil comunidades da Amazônia brasileira até 2025, entre elas indígenas, quilombolas e extrativistas em áreas florestais protegidas. Hoje, já são quase 740 comunidades conectadas à rede que vivem em áreas conservadas (mas muitas vezes ameaçadas) no bioma.

Ultimamente, muitas pessoas, inclusive a imprensa, têm levantado o risco de comunidades mais isoladas navegarem na internet, o que poderia abrir uma caixa de pandora, desencadeando uma série de transtornos nas comunidades, afetando o seu modo de vida. Uma parte considerável dessas preocupações são as mesmas que chegam às nossas casas urbanas.

De fato, esse risco existe, e deve ser mapeado. É preciso levantar soluções para minimizá-los. Mas, realmente, acho que não tem volta. Além disso, os benefícios são amplos. As possibilidades de acessar um novo mundo de coisas positivas, como por exemplo acesso a serviços básicos e várias políticas públicas, vai acabar suplantando os riscos.  

Não sou especialista para discuti-los a fundo. O trabalho especializado de um/a antropólogo/a poderia nos ajudar a ir mais fundo nessas questões. O que eu faço aqui é manifestar a minha percepção de uma cidadã que uma boa parte de sua juventude e vida profissional viveu no interior, distante de tudo e das possibilidades de acessar o que o mundo tinha de oportunidades educacionais. A maioria das pessoas que vive no Sudeste não tem a real noção do que é isso. Quando a internet surgiu em minha vida no interior de Mato Grosso, foi um assombro de possibilidades. Para muitos de nós que vivem nesse Brasil de dimensão continental, muitas vezes desconectado, essa é a oportunidade não somente de aprender, mas também de ser ouvido. 

As comunidades não são passivas nesse processo. O que percebi no evento foi exatamente o contrário. Elas protagonizaram as decisões do programa. Vi de perto que a maioria quer se conectar. Os povos da floresta são corresponsáveis pelas regras de uso, as quais eles decidem coletivamente, em cada localidade.

Esse projeto, em especial, é muito organizado. Participam dele as três principais organizações representantes das comunidades da floresta: o Conselho Nacional dos Extrativistas (CNS), o Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (COIAB) e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Para isso, foi criado um instituto chamado Conexão Povos da Floresta . Portanto, esse arranjo funciona como uma rede com mais de 50 instituições que apoiam, seja como financiadores (todos privados), ou na operação da instalação das antenas, organização e ativação dos grupos de trabalho (atualmente são cinco: saúde, educação, proteção territorial, empreendedorismo e cultura).  Cada comunidade conta com um facilitador local que apoia nessa transição para a chegada da internet. E quem decide as regras de como navegar é a própria comunidade.

A transformação pela via da conexão tem muitas avenidas. A da saúde é uma das principais: a telemedicina via internet dá esperanças para o enfrentamento de um cenário imensamente desafiador. De acordo com o IBGE, no ano anterior ao do início da pandemia da Covid-19, a expectativa de vida ao nascer na Região Norte era a mais baixa do país – cerca de 2,6 anos menor que a do país como um todo e um ano inferior à da Região Nordeste. Um estudo da Amazônia 2030 avalia que a entrega de serviços de saúde na região é extremamente complexa por conta de sua geografia, pelo padrão de ocupação do território, dentre inúmeros outros fatores. Ainda, a capacidade de governos locais em financiar e implementar políticas públicas é reconhecidamente limitada pela escassez de recursos de toda ordem.  Portanto, acessar um médico de uma comunidade remota, muitas vezes, previne problemas piores. Literalmente, pode salvar vidas.   

Já o ensino via rede representa uma oportunidade infinita de acesso à educação formal e informal, acesso a editais públicos, a outras  manifestações culturais e também à possibilidade de expressar sua própria cultura, costumes e arte; seja por meio do acesso a diversas políticas públicas, de assistência técnica e extensão rural, de regularização dos negócios e também para a própria expansão da comercialização  dos  produtos de origem agroflorestal, artesanal, serviços como turismo, entre outra infinidade de opções.  Tudo agora pode ser mais fácil e menos penoso na venda dos produtos, que são feitos por muitas dessas comunidades, o que com certeza ajuda na ampliação da renda. Segundo o levantamento do Conexsus - Instituto Conexões Sustentáveis feito em 2018, existem mais de 400 negócios comunitários na #Amazônia (esse levantamento não é exaustivo). Enfim, é uma verdadeira revolução para/na  vida das pessoas – a palavra revolução é muito oportuna de ser usada nesse caso, pois as transformações são imensas.

Fora toda essa transformação pessoal e comunitária, há também o alcance às ferramentas para o cuidado com a floresta. As comunidades podem emitir sinais de alerta às ameaças de invasão dessas áreas e alertando as autoridades instantaneamente. Ou seja, a conexão também pode significar um reforço à conservação.  Não consigo ver isso como uma ameaça, mas sim como um direito de todas essas comunidades e seus cidadãos/cidadãs de se conectarem com quem eles quiserem.

Por fim, gostaria de ressaltar o poder da rede e das pessoas que tomam a iniciativa audaciosa e necessária. São muitas, mas gostaria de destacar o protagonismo de Tasso Azevedo e dizer que o Conexão Povos da Floresta deveria com certeza virar politica pública e ser expandida por meio dos recursos do estado. Ainda temos 90% das comunidades para alcançar! O apoio da filantropia privada foi fundamental até aqui, mas  precisamos do apoio público para dar a escala necessária. É nessa ciranda de várias mãos que as grandes mudanças acontecem.

Joanita Maestri Karoleski Caetano Scanavinno, Juliana Dib Rezende , Márcia Soares , Patrícia Daros Fundo JBS pela Amazônia Valcléia Lima Solidade Uma Gota no Oceano


#Amazônia #Floresta #saúde #educação #ensino #empreendedorismo #conservação #segurança




Paôla Borges

Da barraca da feira de artesanato à Líder de Impacto Social @EF Corporate Learning

3 m

Que incrível iniciativa, unindo tecnologia e comunidades locais para impulsionar mudanças profundas na Amazônia! A conexão à internet abre portas para educação, saúde e empreendedorismo, além de fortalecer a proteção ambiental. Que esse projeto sirva como exemplo e possa se expandir ainda mais, trazendo benefícios sustentáveis para essas populações.

Pamela Silva de Almeida Freitas

Corretora de Imóveis e Gerente de Vendas

6 m

👏👏👏

Paula Tanscheit

Comunicação Socioambiental | Relacionamento Institucional | Chevening Alumnus

6 m

Mais um texto que inspira demais e ainda traz notícias tão positivas! Lindo, Andrea!

Projeto lindo e inspirador! Foi um privilégio estar com vocês nessa imersão e ver de perto os impactos na conexão estruturada no chão 💚

Joanita Maestri Karoleski

Conselho de Administração Fundo JBS pela Amazônia | Conselho Santa Helena e Terranuts | Conselho Excelsior Alimentos | Conselho Fundação Bunge | Laticínios Scala

6 m

Andrea Azevedo você colocou a mente, a alma e o coração neste depoimento. Connect Forest People tornaram o encontro uma experiência inspiradora e foi bonito ver você destacar o protagonismo das comunidades locais. Sei que o alcance do projeto vai além da saúde, do ensino e dos negócios comunitários, será um instrumento para a segurança dos povos e da floresta. Vai escalar pela relevância.

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