A interoperabilidade de dados pode ser a bala de prata da saúde?

Há mais de 60 anos os pacientes sofrem em busca de um sistema de saúde que os atenda de forma completa, ou seja, eficiente, sem intermediários, com preços justos e sem desperdício. Apesar das constantes mudanças e tentativas de ajustes, os custos continuaram a crescer e não houve de forma significativa melhora da qualidade da saúde das populações, de forma geral.

Dentro do conceito de Valor muito se fala das mudanças incrementais ocorridas nas últimas décadas, tais como a “medicina baseada em evidências”, “prontuário eletrônico, o conceito de “segurança do paciente”, a ”gestão do alto custo” e “medicina personalizada”por exemplo. Apesar de terem sido de extrema importância na melhoria dos processos do cuidado, não mudaram o sistema de forma estrutural, e nem podem ser apontadas como o grande marco que pode ser considerado o ponto de início de uma saúde mais justa de qualidade, com pacientes se não curados, cuidados de forma mais completa e plena.

Obviamente sabemos que não existe solução única, principalmente dentro do nosso setor de saúde, muito menos fórmula mágica, mas é inegável o poder e possibilidades de mudanças que podemos encontrar através da utilização de dados conectados, interligados e agnósticos a fonte geradora.

A interoperabilidade e dados de saúde já é uma realidade em muitos serviços, infelizmente ainda de forma discreta e incompleta, porém já com o vislumbre de um novo momento para a saúde dos pacientes. Ter a capacidade de diferentes sistemas, softwares e plataformas se comunicarem sem a intervenção humana, de forma automatizada, real time e personalizada trás para o profissional e serviços de saúde uma precocidade de cuidado e intervenção nunca antes vista no setor de saúde. 

Hoje já é possível identificar por meio de algoritmos de machine learning resultados de exames críticos para o paciente. O sistema identificando essa alteração automaticamente sinaliza com um red flag uma central médica de apoio que em questão de minutos entra em contato com o médico prescritor do paciente, e no caso de impossibilidade até com o próprio paciente que desta forma é captado para um cuidado rápido e intensivo. Em uma realidade em que quase 30% dos pacientes não acessam o seu resultado de exame, não podemos apenas dizer que mortes estão sendo evitadas, mas incapacidades estão sendo prevenidas, custos e tratamentos estão sendo reduzidos e desperdício pode ser minimizado a um número jamais imaginado.

É muito bom saber que muitas mãos estão construindo e viabilizando a interoperabilidade de dados de saúde, unindo times de tecnologia com times médicos, times de produtos com times de áreas jurídicas, ou seja, uma corrente de profissionais das mais variadas áreas tornando a saúde melhor e maior.

Mais animador ainda é saber que não apenas dentro da saúde suplementar esse esforço tem sido realizado, mas hoje temos Startups e empresas não vinculadas ao governo focadas em interoperar os dados públicos saúde, com o objetivo de trazer a luz a realidade de saúde dos pacientes que não tem plano de saúde, mas que adoecem, que dependem exclusivamente do SUS para o seu cuidado e de sua família. Unificar a utilização de Santas Casas, pronto socorros, laboratórios e até prontuários eletrônicos de sistemas de marcas, profissionais diferentes e até cidades e estados diferente trará ao paciente mais carente a possibilidade de uma saúde digna e efetiva. 

Felizes somos nós que hoje podemos fazer parte dessa mudança, pois para cuidar de forma plena, total e holística não podemos ter informações parciais, guardadas em silos e incompletas, mas disponíveis a todos, possibilitando que o paciente seja o CEO de sua própria saúde.

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Rafael Canineu