INVESTIGANDO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PROMOTORAS DA DIVERSIDADE EM CENTROS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS

INVESTIGANDO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PROMOTORAS DA DIVERSIDADE EM CENTROS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS

Por Lucimar Rosa Dias, Lucas Otávio Gonçalves Dias, Vanessa Lima Freitas, Bárbara Fagundes Marquez, Mirian Bazé Santos, Bruno Pavan dos Santos, Gleice Kelli Oliveira dos Santos, , Raquel Elizabeth Saes Quiles, GEPEDI/UFMS.

Publicado originalmente na V Semana Acadêmica das Faculdades Integradas Três Lagoas.

INTRODUÇÃO

O presente artigo visa compartilhar o projeto de pesquisa, ora desenvolvido pelo Grupo de Pesquisas e Estudos em Educação, Diversidade e Inclusão – GEPEDI, que tem por objetivo investigar a existência e as formas de realização de práticas promotoras da diversidade na Educação Infantil com foco em raça/etnia e necessidades educacionais especiais, bem como estabelecer momentos de ação conjunta entre os professores da rede de ensino do município, os acadêmicos e os professores do curso de Pedagogia da UFMS/Campus de Três Lagoas, envolvidos na pesquisa. A proposta central do projeto é a análise coletiva das práticas desenvolvidas, visando avançar no processo de construção de uma educação inclusiva, aprimorando o já existente e divulgando as possibilidades de incluir tais práticas em outros espaços educacionais da rede municipal, bem como, instrumentalizando os acadêmicos do curso de pedagogia para o exercício da prática docente pautado pelo princípio da educação inclusiva, promotora da diversidade. O universo da pesquisa abarca além da questão da diversidade etnicorracial também a Educação Especial, discutindo especificamente a vivência das pessoas com necessidades especiais numa proposta de inclusão que em muitos momentos promove apenas a socialização dos indivíduos. Além disso, salientamos que a Educação Especial é uma área de estudo que traz em seu bojo a discussão da diferença, haja vista que o imaginário social com relação à deficiência, apesar do discurso da inclusão, ainda se compõe de um olhar de ineficiência e incapacidade, tornando a escola muitas vezes um lócus de reprodução do preconceito, quando se espera da mesma a possibilidade de construção da alteridade. A articulação entre essas duas temáticas de pesquisa (diversidade etnicorracial e necessidades educacionais especiais) representa, também, um esforço das pesquisadoras que compõe o GEPEDI – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Diversidade e Inclusão - de estabelecer conexões entre esses campos almejando romper com ações fragmentadas na formação de professores buscando ampliar a concepção de educação inclusiva. No caso específico deste projeto esta articulação entre professores com diferentes experiências torna-se mais fundamental, pois tomamos a diversidade e a inclusão como fenômenos complexos e de natureza interdisciplinar, exigindo uma variedade de pesquisas que alcance as especificidades e particularidades que estes conceitos adquirem nas distintas regiões do país, colaborando para o amplo debate social na construção de acordos entre os vários atores do processo de construção da proposta de educação inclusiva e para o aprimoramento dos conhecimentos desta área. Assim, para investigar as práticas pedagógicas de diversidade com foco em raça/etnia e necessidades educacionais especiais desenvolvidas nos centros de Educação Infantil - CEI no município de Três Lagoas, constituiremos grupos colaborativos na perspectiva de Boavida, A M. e Ponte, J. P. (2002), pois segundo os autores, [...] a colaboração constitui uma estratégia fundamental para lidar com problemas que se afiguram demasiado pesados para serem enfrentados em termos puramente individuais. É o caso da investigação sobre a prática, que coloca dificuldades suficientemente sérias para justificar a adopção de estratégias de trabalho colaborativo (p.43). Os temas que serão abordados na pesquisa são de alta complexidade e, portanto será de extrema importância o uso de uma metodologia que favoreça o diálogo e solidariedade. Assim, esse processo foi pensado em seis momentos: 1ª etapa - Eleger os CEIs que apresentem demandas inclusivas, incluindo entre os CEIs investigados, indicações feitas por alunos do curso de Pedagogia que trabalham na rede de ensino, bem como, sugestões dos dirigentes da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Três Lagoas e professores. 2ª etapa - Visitar e convidar os CEIs eleitos a colaborarem no processo da pesquisa. Consideramos que seja fundamental o envolvimento da equipe dos centros, pois o trabalho requererá um tempo considerável de observação da dinâmica da instituição, assim como precisará contar com a disponibilidade de diferentes profissionais destes centros para entrevistas, disponibilização de documentos a serem analisados tais como: planos de aula, projeto pedagógico, anotações realizadas pelos professores. 3ª etapa - Participar das reuniões de trabalho, das reuniões com os familiares, enfim, nesta etapa a equipe se propõe a estabelecer uma interação e um diálogo contínuo com o espaço investigado, a fim de compreender o contexto sócio-histórico de forma mais ampla, compartilhando e dialogando com os profissionais sobre o tema investigado para que se possa de fato apreender os significados atribuídos pelos sujeitos às suas práticas promotoras da diversidade (quando identificadas). 4ª etapa - Apresentar o material coletado aos profissionais das instituições envolvidas para discutirmos estes resultados parciais destacando a existência ou não das práticas promotoras da diversidade encontradas e definindo junto com a equipe possibilidades de aprimoramento destas. Neste momento pretende-se a formação de grupos de estudos compostos pelos profissionais dos CEIs, professores, monitores, coordenadores, acadêmicos do curso de Pedagogia e as professoras pesquisadoras responsáveis pelo projeto. 5ª etapa - Organizar oficinas de produção de material e formulação de projetos didáticos a serem desenvolvidos pelos profissionais dos CEIs envolvidos na pesquisa buscando o aprimoramento e implementação de práticas promotoras da diversidade com foco em raça/etnia e necessidades educacionais especiais. Pretendemos preparar esses professores para serem multiplicadores dessas práticas em outros espaços educacionais, com colegas professores da rede municipal de ensino. 6ª etapa - Divulgar a ação junto a outros professores da rede, comunidade acadêmica e alunos do curso de Pedagogia, por meio de publicação de artigos e participação em eventos. Uma atividade que não estava prevista na metodologia, mas que se apresentou como uma oportunidade fértil para futuras ações foi ao levantarmos as indicações dos centros de educação infantil junto aos acadêmicos também A buscamos apreender suas concepções sobre os temas desta pesquisa, o que será matéria de futuras comunicações. Neste momento estamos desenvolvendo a segunda etapa do projeto, no qual os acadêmicos visitarão os dois centros eleitos para o trabalho, uma vez por semana, durante um ou dois meses. Eles estarão observando o cotidiano do centro e farão anotações orientadas por um roteiro de diagnóstico previamente estabelecido e discutido no grupo.

DESENVOLVIMENTO E ANÁLISE TEÓRICA E CIENTÍFICA

O conceito de diversidade que norteia nossas ações nesta pesquisa é o mesmo presente no Relatório da Situação da Infância e Adolescência Brasileiras, publicado pela UNICEF, resultado do I Seminário Criança Esperança, realizado em Brasília em junho de 2003, pois acreditamos que, A diversidade valorizada e celebrada não pode ser utilizada como uma maneira de eliminar as singularidades e as diferenças, mas, pelo contrário, como uma poderosa expressão de indignação e rejeição das iniquidades que marcam as relações entre as pessoas e que tem por determinante exatamente a negação ou a subordinação e dominação em nome da diferença (UNICEF/BRASIL, 2003, pág. 12). Compreendemos que a diversidade é característica da humanidade e por isso todos deveriam conviver com as diferenças advindas deste fenômeno humano, no entanto, sabemos que na concretização das ações não é assim que geralmente ocorre e, dessa forma, surgem as desigualdades, os preconceitos e as discriminações. Portanto, faz-se necessário uma ação contundente da educação para a construção da pedagogia da paz, na qual se questiona os resultados históricos que hierarquizam as diferenças e as transformam em iniquidades propondo a elaboração de práticas pedagógicas que resultem em equidade e inclusão. Segundo a Anti-Defamation League - ADL (Liga Anti-Difamação), até os seis anos de idade cerca de 50% das crianças já apresentaram atitudes preconceituosas. No Brasil, não é diferente. Pesquisas como as de Rita Fazzi (2000), Lucimar Rosa Dias (1997, 2008) e Eliane Cavalleiro (1996, 2003), identificaram que tanto os adultos quanto as crianças apresentam extenso repertório racista, com destaque para os xingamentos tais como: "tição", “macaco”, "leite azedo", “surdinho”, “mula manca”, “cegueta”, entre outros, sendo mais frequentes os que desvalorizam as características físicas das crianças negras. Entre as educadoras a atitude mais comum é o tratamento distinto entre as crianças, valorizando as brancas em detrimento das negras. Por exemplo: quando educadoras não penteiam o cabelo crespo das crianças negras alegando não saberem como fazê-lo ou quando ao elogiarem uma atividade da criança branca referem-se a ela como produtora de algo bem feito - “Parabéns você é muito caprichosa”, e quando se trata de elogiar o trabalho da criança negra referem-se apenas ao produto “Parabéns sua lição está bem feita”, como a pesquisa de Cavalleiro (1996) atesta. Também, as atitudes das crianças não são esporádicas ou “impensadas” como se as crianças não percebessem as diferenças entre as pessoas. De acordo com estudos internacionais, as crianças começam a perceber as diferenças étnico/raciais na faixa etária dos três aos cinco anos de idade, com o passar do tempo, passam a julgá-las em conformidade com o contexto em que estão inseridas podendo expressá-las com propósitos de produzir a desvalorização do outro. Conforme o Relatório da Situação da Infância e Adolescência Brasileiras, publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, resultado do I Seminário Criança Esperança, [...] O Brasil tem hoje 61 milhões de crianças e adolescentes. Para essas meninas e meninos [...] o fato de nascer negro aumenta em duas vezes sua possibilidade de viver em situação de pobreza. [...] Ter deficiência, por exemplo, aumenta quatro vezes a possibilidade de uma adolescente chegar aos 17 anos ainda analfabeto [...] (UNICEF/BRASIL,2003, Apresentação). Estes resultados confirmam que é necessária e urgente a constituição de uma política educacional comprometida com a promoção da diversidade desde a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica. Nesse sentido nossa pesquisa pretende colaborar na construção desta política educacional ao investigar, analisar e indicar possibilidades de desenvolvimento de uma pedagogia da diversidade. Compreender como os professores lidam com o conceito, como concretizam em suas práticas estas concepções exigirá uma proximidade não só com o local, com os fazeres das instituições, mas também com as pessoas envolvidas neste processo de pesquisa. Portanto o trabalho de campo buscará descrever tudo o que envolve o espaço escolar: localidade, espaço físico, materiais utilizados, formação docente, alunos, funcionários, recreio, pátios, festas, público alvo, projetos desenvolvidos, participação da comunidade e outros aspectos que fazem parte das práticas educativas destas instituições destacando nestas aquelas que consideramos promotoras da diversidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos impactos almejados no desenvolvido e na divulgação dos resultados desta pesquisa é a garantia do direito a uma educação de qualidade, inclusiva, livre do racismo e da discriminação, sem distinção de cor, credo, religião, deficiência, origem étnica e geográfica, reconhecendo àquelas mais socialmente vulneráveis (negras e com necessidades educacionais especiais), pelo aprimoramento das práticas educacionais, abordagens e metodologias organizadas em processo de formação dos professores em serviço. Com isso pretendemos também contribuir com a formação de professores e outros profissionais da Educação Infantil no município de Três Lagoas/MS para a abordagem e tratamento da temática da diversidade e, para as situações de preconceito e discriminação racial/étnico e com relação às necessidades educacionais especiais em ambiente da Educação Infantil, pela sistematização e difusão de conteúdos, metodologias, atividades e indicadores de sucesso/fracasso de práticas educacionais, desenvolvidas nas instituições. E também aprimorar o processo de formação dos acadêmicos do curso de Pedagogia da UFMS, aproximando-os da realidade local e das discussões da contemporaneidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRÉ, Marli (Org). O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 3.ed. São Paulo: Papirus, 2002.

BELLON, Isaura; MAGALHÃES, Heitor de; SOUZA, Luzia Costa de. Metodologia de avaliação em políticas públicas: uma experiência em educação profissional. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

Boavida, A M. & Ponte, J. P. Investigação colaborativa: Potencialidades e problemas. In GTI (Org), Reflectir e investigar sobre a prática profissional (pp. 43-55). Lisboa: APM, 2002.

BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari Knop. Investigação Qualitativa em Educação. Portugal: Porto, 1994.

FAZENDA, Ivani (Org). Metodologia da Pesquisa Educacional. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2002. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1986.

SZYMANSKI, Heloisa (Org). A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. Série pesquisa em educação. v. 4. Brasília: Líber livro, 2004.

UNICEF/BRASIL. Relatório da situação da infância e adolescência brasileiras – diversidade e equidade, 2003.

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