Investimento de Impacto deve garantir que ninguém fique para trás

No artigo anterior, falamos sobre a preocupante queda nas doações para as organizações sociais brasileiras em 2023, detectada pelo Monitor das Doações da Associação Brasileira de Captadores de Recursos ( ABCR ). Aparentemente, essa queda não aconteceu só no Brasil. 2023 foi um ano de “policrise”, diversas crises simultâneas que impactaram os resultados das empresas e do setor financeiro, diminuindo o fluxo de capital, inclusive no campo dos investimentos de impacto social. Segundo um relatório recente do Dealroom e Impact City, o investimento de fundos de Venture Capital (VC) em startups focadas em impacto social caiu 36% no ano passado.

Essa queda está em linha com a diminuição geral dos investimentos de Venture Capital, que caiu 37% no ano passado em relação a 2022. O Venture Capital tradicionalmente é o meio principal de financiamento das startups, mas a aversão ao risco dos investidores, causada pelo aumento dos juros pelo Fed (banco central dos EUA) para conter a inflação, fez com que os responsáveis pelos fundos VC “pisassem no freio” em 2023.

Mas os imensos desafios socioambientais que enfrentamos não esperam a melhoria do cenário econômico. Pelo contrário, se não forem enfrentados, esses desafios tendem a trazer ainda mais prejuízos à economia no longo prazo. Por isso, é fundamental garantir a expansão do financiamento a ações inovadoras que tragam impacto social positivo a quem mais precisa, agora.

Bons sinais para o investimento de impacto em 2024

De acordo com esse artigo de Roberta Borsurgi, CEO da Impact Europe, publicado na revista Alliance, apesar dos esforços empreendidos até agora pelo provadores de capital, ainda faltam cerca de 4 trilhões de euros anuais (sim, trilhões!) para que seja possível cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU. O dado positivo é que cada vez mais investidores estão conscientes da necessidade de um fluxo muito mais robusto de recursos para as ações de impacto social, e estão desenvolvendo mecanismos inovadores de financiamento.

Borsurgi é otimista e traz bons exemplos e dados positivos, mas diz que é preciso mais para garantir que haja capital suficiente para atender à demanda por impacto social. Ela cita um novo fundo ODS criado por MacArthur, FMO e Allianz Global, que mobilizou 1,1 bilhão de dólares em empréstimos para empresas e projetos de impacto em países de baixa e média renda. O fundo traz uma estrutura financeira que mescla vários formatos de financiamento. Essa mescla diminui o risco da operação e é um bom exemplo do chamado “catalytic capital”, ou capital catalítico, outro nome para o Venture Philanthropy.

Ela enumera outros casos que apontam para uma maturidade no mercado do impacto social, com ações que tem ganhado escala e aumentando seu potencial de impacto. O aumento das “saídas” (quando o objetivo do projeto é alcançado e os financiadores podem receber de volta seu investimento inicial) e do surgimento de novos fundos são sinais dessa maturidade. Mais de 50 novos fundos de impacto foram lançados no mercado europeu em 2023, e alguns deles receberam aportes além das expectativas. Políticas governamentais e mecanismos públicos de financiamento também estão crescendo, com governos e outros players institucionais percebendo que o financiamento privado precisa de um “empurrão” para atender a demanda.

A Impact Europe é o novo nome da European Venture Philanthropy Association (EVPA), organização que consolidou o modelo de Venture Philanthropy e suas principais característica. O novo nome reflete a expansão do conceito de Venture Philanthropy enquanto parte do ecossistema mais amplo de investimento de impacto. A expansão da colaboração entre o setor privado, o poder público, organizações e órgãos de fomento, enfim, de toda a sociedade, é o caminho para que as transformações necessárias sejam possíveis.

O Instituto Órizon, referência quando o assunto é Venture Philanthropy aqui no Brasil, segue engajado nessa missão!