Já não se faz mais comunicação como antigamente.

Já não se faz mais comunicação como antigamente.

Enfrentamos uma sociedade desconfiada frente aos lideres políticos e empresariais, que direta ou indiretamente, têm protagonizado esse momento de crise que o Brasil vive. Crise que tem várias razões e que envolve vários aspectos, mas vejo como o primeiro passo para vencê-la seja por meio da restauração da confiança, na sociedade, no mercado, nas pessoas e obter essa confiabilidade é sempre difícil, ainda mais diante de uma sociedade receosa, precavida e agora muito mais exigente em comparação alguns anos atrás.

Além disso, essa sociedade está muito mais autônoma no manejo das suas fontes de informação, mais apoderada de ferramentas de interação, com mais capacidade de exercer uma pressão coletiva e uma maior consciência dos seus direitos e deveres.

A crise e as suas consequências, especialmente as políticas, reformularam a cidadania, que agora remete a um conceito menos social e mais político, porque os cidadãos já não são apenas membros de um grupo, senão um todo, um poder autônomo emergente, que canaliza sua expressão e suas exigências não apenas para o poder público, mas também ao setor privado, empresarial, cultural e, geralmente, frente a todas as instâncias que mostram capacidade de transcendência sobre coletivos e comunidades.

A busca da cidadania poderia ser resumida como uma exigência de transparência, que é também um dos pilares do nosso tempo. E não basta que os órgãos públicos se valham de mecanismos legais para que os cidadãos avaliem o seu trabalho. É, também, uma exigência que se dirige às organizações empresariais e não governamentais, até então isentos de determinados requisitos.

Assim, este desafio da transparência se configura em uma nova e grande oportunidade, porque há de servir para que voltemos a avaliar nossos procedimentos e orientações profissionais, para então podermos redefini-las e melhorá-las. E também para estabelecer novas metas que, há algum tempo, nem sequer eram levantadas.

A profunda mudança do paradigma da comunicação não consiste somente na introdução massiva de novas tecnologias e, especificamente, das redes sociais. Tampouco, ainda que também, no transe em que entraram os meios de comunicação mais convencionais.

Ambas as questões afetam os profissionais de comunicação de forma muito direta, porque tanto a Rede como os Meios estão em crise, ainda que por razões distintas.

A Internet porque desestruturou o manejo dos limites da informação, comunicação que circulam na Rede, em formatos diversos, e os Meios convencionais porque, em um processo grave e prolongado de recessão de sua audiência, transmissões e rendimentos, estão em pleno debate sobre seu modelo editorial e empresarial.

A Rede e os Meios são afetados, em diferentes sentidos pela falta de confiança que dificultam a comunicação em geral. O que está gerando um interessante debate do qual não podemos nos declarar alheios. Porque não podemos ignorar esta grande questão do nosso tempo e é preciso expressar a confiança de que a democracia segue em vigor, em boa medida, não só pela existência de processos eleitorais, mas porque direitos e liberdades de expressão e de acesso à informação prevalecem.

O novo paradigma nos mostra, sobretudo, que o valor agregado que a comunicação deve fornecer não é apenas o da notoriedade, mas também o da notabilidade, isto é, o da boa percepção, que se baseia na construção de um renovado conceito da reputação, fazendo-o através da multiplicidade de canais disponíveis para atingir a audiência e os grupos de interesse predeterminados.

O essencial não é o conhecimento de uma realidade, mas que este seja conceituado positivamente e que corresponda à realidade. Os profissionais de comunicação têm por consequência, de internalizar que a veracidade, como característica do seu fazer, de forma a fazer parte do núcleo central dos seus serviços profissionais.

Porque o que entrou em colapso, precisamente, foi a reputação entendida como a instituição positiva e crível que a sociedade e os grupos de interesse atribuem às instâncias que comunicam.

Agora, é preciso sustentar a reputação acima da solvência dos fatos, acima dos dados comprováveis, acima dos relatos verossímeis. Os profissionais de comunicação devem enfrentar o desafio para que o seu trabalho volte a reunir os atributos que integram a confiança social.

A função dos profissionais de comunicação deve, portanto, ser o agente transformador dos atributos negativos relacionados aos nossos clientes e o de criador de elementos atrativos e compatíveis de sua identidade com os novos valores sociais que atualmente são o da transparência, da eficiência e o da responsabilidade.

Para colocar de forma direta e sem eufemismos: estamos obrigados a gerir uma comunicação com um profundo senso ético. E, neste caso, o sentido ético refere-se à transmissão de fatos, da realidade, em detrimento do slogan, lema ou de eufemismos. Nem a política nem empresas suportam mais os velhos hábitos de propagandas banais que não transmitem confiança e certezas, fundamentos da reputação sem os quais qualquer liderança se torna enganosa e, portanto, fugaz e inconsistente.

Fábio Risério

Consultor, professor e palestrante de ética e integridade, sustentabilidade empresarial e ASG.

8 a

Hugo concordo plenamente com a sua observação!

Hugo Diogo

Just Transition | Social Design and Performance | ESG

8 a

Obrigado pela reflexão. Gostaria de participar mencionando que comunicar tem haver com comportamento. comportamento. Uma comunicação que fomento o diálogo e o pensamento crítico para além dos estágios mais primitivos que parecem dominar nosso momento - reclamação, queixa e repetição e clichês.

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