Já te sentiste deprimido neste inverno? Sabias que ciência já comprovou que a natureza pode ser a melhor prescrição clínica para a nossa saúde mental?
Depressão
A Organização Mundial da Saúde defende que a Depressão é o problema de saúde mais frequente em todo o mundo e com isso é a principal causa de incapacidade do mundo. Estima-se que em Portugal atinja 10% da população, segundo a Ordem dos Psicólogos de Portugal.
Será fácil recordarmos alguém que já partilhou connosco que “tem andado deprimido” ou está numa “fase depressiva” ou mesmo o próprio sujeito já o ter dito de si próprio. No entanto, a Depressão não é uma característica que se tem durante uns dias e passa. Ela é mais duradoura e pode afetar negativamente toda a capacidade de funcionar do indivíduo.
A depressão é uma experiência única e é descrita como um espetro de sintomatologia que vai desde uma tipologia de pensamento, uma tipologia de emocional e uma tipologia de comportamentos.
A causa é, geralmente, assumida como multifactorial. Fatores genéticos, características no funcionamento do cérebro e a forma como interpretamos a informação e o que nos acontece na vida, condicionam a vivência da depressão.
O Luto, a depressão pós parto ou a Perturbação Afetiva Sazonal são situações distintas e como tal, devem merecer distintas abordagens.
Em Portugal, o consumo de antidepressivos cresceu cerca de 47%, desde 2015, sendo, na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), o segundo país, com maiorconsumo.
A mesma fonte indica que mais de 12% da população portuguesa sofre de depressão crónica, o que representa cerca de 1 milhão e 250 mil portugueses a viver com esta condição
Para o psiquiatra Gustavo França “na maioria das situações as abordagens farmacológicas e psicoterapêuticas são complementares", no entanto também refere que “ a eventual sobreprescrição de antidepressivos poderá ser um reflexo direto da insuficiência (ou até em alguns casos ausência) de respostas em termos de psicologia, psicoterapia e terapias socio-ocupacionais.”
Na perspetiva do bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues, ”o acesso aos profissionais da área da saúde mental, sejam eles psicólogos ou psiquiatras, continua a ser muitíssimo difícil - pelo menos para 50% da população, que é quem não tem dinheiro para ir ao privado.”
Pesquisadores do King's College London, e a fundação de arte Nomad Projects usaram uma tecnologia baseada em smartphones para avaliar a relação entre a natureza nas cidades e o bem-estar mental momentâneo em tempo real. “Eles descobriram que (i) estar ao ar livre, ver árvores, ouvir o canto dos pássaros, ver o céu e sentir-se em contato com a natureza estavam associados a níveis mais altos de bem-estar mental e que (ii) os efeitos benéficos da natureza eram especialmente evidentes nos indivíduos com maiores níveis de impulsividade que correm maior risco de problemas de saúde mental.”
No artigo Urban Mind: Using Smartphone Technologies to Investigate the impact of Nature on Mental Wellbeing in Real Time, publicado na BioScience em janieiro de 2018, os pesquisadores explicam como monitoraram 108 indivíduos através de um aplicativo de smartphone, para examinar como a exposição a recursos naturais nas cidades poderia afetar o bem estar mental do ser humano.
Os resultados mostraram associações significativas a curto e longo prazo, entre o bem-estar mental e a exposição a várias características naturais: árvores, céu e canto dos pássaros. Essas associações ainda eram evidentes várias horas após a exposição às árvores, ao céu e ao canto dos pássaros, indicando benefícios duradouros.
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Interessados em compreender se esses efeitos benéficos poderiam ter um impacto distinto em pessoas com maior propensão para problemas de saúde mental, decidiram afunilar o estudo. Concluiram que o impacto benéfico da natureza no bem-estar mental foi maior em pessoas com níveis mais altos de impulsividade e maior risco de desenvolver problemas de saúde mental.
A Dra. Andrea Mechelli, do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King's College London, disse: "Essas descobertas sugerem que a exposição de curto prazo à natureza tem um impacto benéfico mensurável no bem-estar mental. A interação desse efeito com a impulsividade característica é intrigante, pois sugere que a natureza pode ser especialmente benéfica para os indivíduos que correm o risco de ter problemas de saúde mental. Do ponto de vista clínico, esperamos que esta linha de pesquisa leve ao desenvolvimento de intervenções escaláveis de baixo custo destinadas a promover a saúde mental em populações urbanas.”
Estes resultados suportam importantes reflexões sobre que soluções sistémicas e sustentáveis, em tempo útil, poderão ser desenhadas, para responder às questões de saúde mental da população portuguesa.
Poderíamos apontar diversos caminhos, desde respostas ao nível do plano nacional da saúde, passando pela qualidade do ambiente dos locais de trabalho e chegando ao planeamento e design urbano, que esteja alinhado com o propósito de contribuir para uma melhoria da saúde mental de toda a população portuguesa.
Temos, neste momento, uma base cada vez mais robusta de evidência científica que pode suportar uma visão mais sistémica dos problemas de saúde pública, respondendo com ações em várias frentes.
Parece, cada vez mais que vale a pena alinhar os benefícios da natureza para a saúde humana, com as políticas públicas para a saúde (prescrições de terapias “verdes”, qualidade dos espaços clínicos, maior exposição a plantas e plantas escolhidas com base em informação sobre o seu potencial diferenciador para o propósito que se pretende), com o desenvolvimento de um planeamento urbanístico produzido por equipas multidisciplinares que agreguem conhecimentos de várias áreas, incluindo utilizadores dos espaços, para um input mais sustentável, holístico e eficiente, gerando cidades mais saudáveis.
Entretanto, Sabias que a natureza
Carla Ladeira
20 de janeiro de 2023
Terapeuta e consultora para a saúde com a natureza
(terapias, espaços, programas, políticas e atividades)
Fontes consultadas: