JAIR ESPERA O QUÊ?
Sentado placidamente à sala do apartamento, com a boca quase sem dentes, Jair esperava. Nem ele sabia por que, mas esperava. Obeso, gordura empapando a poltrona suja, pegajosa, fétida, ele esperava nem sabia o quê? Mas esperava! Suando em bicas, cara balofa, lua redonda, iluminada por olhos pequenos, buliçosos, Jair passava a vida esperando que algo de extraordinário acabasse com o tédio, a inércia e a falta de perspectiva. Controle remoto do aparelho de TV na mão esquerda, mata-moscas na direita, paciente, ficava à espera. Enquanto esperava, sentado, comia uma geladeira por dia, e suava e resfolegava – parecia um porco! O corpanzil, estirado na poltrona, exalava cheiro azedo, nauseabundo. Jair estava à espera de alguma coisa e aproveitava o tempo ocioso, sempre ocioso, na frente do aparelho de TV.
A mente, quando se dava uma trégua dos programas televisivos, só pensava em comida. E somente se erguia da poltrona, a muito custo, quando sentia fome, e a toda hora estava faminto. E então Jair se arrastava à cozinha, carregando suas banhas, bufando, passos de elefante, e assaltava a geladeira. Provido de doces e salgados, cervejas e refrigerantes, Jair retornava à poltrona e a atenção ora se detinha na TV, ora na comida e na bebida. E ele mastigava, bebia, arrotava e peidava, olhos fixos na telinha. O tempo passava e Jair continuava à espera de algo, mas nem ele mesmo sabia o quê?
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Esperar, no entanto, nem sempre foi o objetivo de vida de Jair. Houve um tempo em que ele teve sonhos, era magro, até mesmo elegante, quando acreditava que poderia conquistar o mundo. Mas isso foi na juventude, havia décadas. Naquela época ele desafiava tudo e a todos e se sentia forte, capaz de realizar proezas dignas de um homem de valor! E toda aquela energia era canalizada para a concretização de seus objetivos, nos quais figurava, em primeiro plano, o poder.
Jair, quando jovem, queria ser poderoso. Disso dependia alcançar outras metas, segundo raciocinava, embora desconhecesse quais eram elas. Ele trabalhou, trabalhou, verteu sangue no trabalho, e nunca conseguiu poder, muito menos riqueza cultural, intelectual ou espiritual. Frustrado, começou, então, a engordar, engordar, como um porco. E agora Jair era gordo, pobre, mas gordo, e esperava, não sabia o quê? Mas esperava. Enquanto isso, levava vida sedentária, rotineira, solitária, alegrada pela TV e a comida e bebida em excesso. Um dia a espera de Jair foi recompensada! Estava ele em frente à TV, empanturrando-se, quando sentiu uma dor forte no braço, e aquela dor se irradiava por todo o lado esquerdo do corpo. Jair foi invadido por angústia imensa, daquelas que fazem chorar. Faltou-lhe a respiração, a dor aumentou, agora também no peito, e ele sentiu que a espera chegara ao fim. Tombou, fulminado por um ataque do coração.