Janelas e gentilezas
Na minha terra natal, havia um homem que ficou famoso com seu slogan. José Datrino, mais conhecido como Profeta Gentileza, não era político nem artista, mas foi personagem importante da cena carioca. Há cerca de 40 anos, ganhou notoriedade por uma frase que pintou em muros, ruas, especialmente nas pilastras do importantíssimo Viaduto do Gasômetro: GENTILEZA GERA GENTILEZA. Não era apenas um slogan, ele acreditava que era sua missão.
Gentileza gera gentileza
Longe de ser uma artifício tático do encantamento do cliente, de dissuasão, de networking, o profeta não dizia que gentileza abrirá portas e oportunidades, nem que iria convencer o universo a gerar gentileza de volta para o gentil. A ideia era que a gentileza poderia gerar uma sociedade mais gentil, mais acolhedora. Algo muito parecido com a Teoria das Janelas Quebradas.
Tropecei na gentileza pela primeira vez aqui no LinkedIn com o Felipe, do Grupo Gaia, cujas motivações são "conexões e informações com gentileza". Não lembro exatamente como topamos aqui na rede. Quando vi esta "descrição de função" fiz questão de testar. E realmente: não me vendeu nada, não me ofereceu serviço algum, foi apenas gentil. E muito prestativo. Estamos em ramos diversos, e isso não significa que ele perdeu a oportunidade (ou desperdiçou tempo) de fazer negócio no LinkedIn. Isto quer dizer que ele, de fato, cumpriu sua principal premissa.
É claro que eu conheço muita gente dentro e fora do LinkedIn cuja postura é suave, aberta, bem disposta. Gente que não me conhece pessoalmente, não tem qualquer perspectiva de recompensa ou ganho e simplesmente se dispôs a abraçar alguma necessidade minha. O caso do Felipe foi o primeiro em que isto foi uma proposição de vida/trabalho. E legítima. Quando falo que tropecei, é de fato: a gentileza estava lá, em diversas pessoas, eu só não tinha visto. Ela teve que atravessar meu caminho...
Nada impede, de fato, que tenhamos metas seladas, KPIs registrados, relatórios carimbados, performances avaliadas, cartões rotulados para termos sucesso. Mas mesmo seguindo as melhores práticas do controller universal, podemos fazer isto de forma soberba, áspera, com pressa, superficial (no fim, muito máquina) ou de forma mais suave, doce e gentil (no fim, muito humano).
Claro que isto vai virar moda, assim como outros termos corporativescos, a palavra vai perder seu valor e vai virar apenas mais um jargão do mundo dos negócios. Louco, o José era. Não como os que dizem que vão mudar o mundo através de uma inovação disruptiva, mas do tipo que dorme na rua. Gentil, o José é. Não do tipo tático superficial, mas do tipo que dá vontade de aprender a ser. Assim como na Teoria das Janelas Quebradas a desordem gera desordem, posso dizer que uma inegável Teoria das Pessoas Gentis é nascida, em que GENTILEZA GERA GENTILEZA, não para ter algo em troca, mas pelo bem de ser gentil. Como me disse o Rodrigo, hoje: "não se perde nada em ajudar as outras pessoas".
Um abraço.
Nota: as opiniões aqui descritas representam unicamente o meu livre ponto de vista, não correspondendo necessariamente ao posicionamento de empregador atual ou anterior, entidade de classe ou partido político nem de qualquer outra afiliação. Excetuam-se as citações entre aspas ("), com fonte e, sempre que possível, com link para a fonte. Os grifos são meus meramente para destaque.
Consultora de RH | Terapia Floral integrativa para o corporativo | Levo saúde mental e bem estar através da Terapia Integrativa
5 aAdorei seus textos Andre. Uma conexão sua nos enviou em um grupo um de seus textos e resolvi curiar outros e estou adorando a leitura. Cativante!
Especialista em Operações de Câmbio e Comércio Exterior / Assessoria de Investimentos e Consultoria Financeira
7 aExcelente texto!!