JEITO LUIZA DE SER: CORAGEM E CONFRONTO AO PRECONCEITO
O recente processo seletivo para trainees direcionado exclusivamente a pessoas negras suscitou manifestações em torno do “racismo reverso” e as acusações à empresa sob a alegação de que estariam excluindo e discriminando as pessoas brancas.
Curioso é considerar que segundo as informações fornecidas pelo próprio Magazine Luiza e amplamente divulgadas pela imprensa, 53% dos funcionários da empresa são pretos e pardos, mas apenas 16% ocupam cargos de liderança. De que forma, nesse contexto, pode-se alegar que há discriminação das pessoas brancas, quando tal proporção mostra claramente uma distorção social que é reflexo do racismo estrutural?
Cabe parabenizar à organização pela percepção desse fato e pela proposta de uma ação afirmativa voltada para a reparação desse contexto. Ações afirmativas, tão necessárias em sociedades desiguais, visam justamente corrigir injustiças sociais e propiciar meios para que as pessoas pertencentes a grupos discriminados possam incluir-se socialmente.
Nesse ponto é interessante observar que a empresa em questão tem forte influência de Luiza Helena Trajano e aqui já começa a se reconhecer um diferencial. Sua competência como empresária foi evidenciada no sucesso obtido pela empresa traduzido em crescimento e reconhecimento nacional e internacional. Contudo o aspecto da competência que gostaria de destacar não se refere aos resultados facilmente quantificáveis, mas àqueles de mensuração mais difícil, mas que certamente foram determinantes de seu sucesso, sua percepção do outro.
O "jeito Luiza de ser" traduz valores que realçam a importância dada às pessoas e parece difícil imaginar um pensamento coletivo desta natureza se a gestão não partisse de uma mulher. Também parece coerente que uma visão tão singular de realidade e uma abordagem tão cuidadosa com o outro parta de uma mulher. Falávamos acima de pessoas brancas, mas agora podemos delimitar a homens brancos.
Nós homens brancos, cisgêneros e heterossexuais, estamos tão habituados aos nossos privilégios que deixamos de entendê-los como tal. Acabamos por entender que são nossos direitos inatos e justificamos nossas facilidades pelos nossos méritos, sem levar em conta que as pessoas partem de pontos diferentes e que muitas vezes largamos na corrida com metros e até quilômetros de vantagem, enfrentando obstáculos também diferentes. Consideramos o privilégio um direito tão inalienável que qualquer ação de inclusão gera imediata reação na qual acusamos o outro de estar sendo privilegiado.
Uma mulher nessa sociedade que traz não só o racismo estrutural, mas também o machismo estrutural em sua essência tem uma perspectiva que permite enxergar além do estabelecido. Não quero assumir o lugar de fala das pessoas pretas ou das mulheres quando realizo essa análise. Humildemente tento interpretar e entender o contexto visando aprender e reconhecendo que por mais que me esforce jamais terei a condição de entender completamente o que é ser discriminado pela cor da minha pele, pelo meu gênero e acrescento, pela minha orientação sexual, nessa sociedade caracterizada pelo preconceito. Mas me disponho a por em xeque minha branquitude, meu machismo e meus preconceitos.
Esse evento destaca a importância da diversidade nas organizações e é importante destacar que ela só será atingida quando os diversos ocuparem os mesmos espaços em condições de igualdade e respeito. A reação dos privilegiados que se sentem ameaçados é natural e essa resistência precisa ser vencida. Que venham mais ações confrontando todo tipo de preconceito de cada vez mais organizações!
Coordenador de Projetos de Gestão Pedagógica | Centro Paula Souza
4 aSeu texto nos traz muitas reflexões, mas gostaria de falar sobre todo o contexto em volto as ações afirmativas, de um lado ela escancara as diferenças e lutas q devem ser travadas no sentido de que todos possamos provar das mesmas oportunidades; mas de outro lado, mesmo com certa resistência ela indica que temos espaços e coro para tratar de ações afirmativas. Se há desencontros de percepções é mais do que sinal de que o assunto merece e deve ser colocado em pauta. Antes de falar de um mundo mais humano ainda temos que sentar e debater o conceito do humano e indicar para muitos, talvez até mesmo de forma bem didática, que nem sempre o "termo todo mundo" era de fato para "todo o mundo". Parabéns mais uma vez pela abordagem.
Psicóloga Clínica e Educacional
4 a👏👏👏
Professora na Prefeitura Municipal de Campinas
4 aE preço absurdo dos produtos...precisa parar com essa mania de justificar tudo com dívida histórica!