Jogo do Tigrinho: Livre-arbítrio e Neurociência
Quando falamos sobre o famoso "jogo do tigrinho", ouvimos com frequência a frase: “Joga quem quer. Ninguém é obrigado, cada um tem seu livre-arbítrio.” Mas será que o livre-arbítrio realmente existe?
O conceito de livre-arbítrio sugere que as pessoas têm a capacidade de tomar decisões de forma independente, sem serem influenciadas por condicionamentos, motivos ou causas externas. Segundo essa idéia, estamos conscientes de nossas ações, temos intenções claras e agimos de acordo com elas. Sabemos os possíveis resultados. Para muitos, essa intuição é o que define o livre-arbítrio.
Segundo o grande Neurocientista Sapolsky,o livre-arbítrio é uma ilusão. Para ele, nossas ações são o resultado de fatores que não controlamos, como a genética, o ambiente em que crescemos e até mesmo influências inconscientes do nosso cérebro. Parece complicado, certo? Mas vamos entender melhor.
Pode ser desconfortável pensar que não temos a liberdade que acreditamos, mas, segundo a neurociência, nossas decisões são fortemente moldadas por experiências passadas e pelo ambiente em que vivemos. Somos "esculpidos" pelas circunstâncias ao nosso redor, sejam elas sociais, culturais ou emocionais. Isso significa que aquela decisão que você acha que tomou de forma totalmente livre é, na verdade, o produto de uma série de influências e condicionamentos.
Outros neurocientistas, como Sam Harris e Benjamin Libet, também questionam a existência do livre-arbítrio. Libet, em seu experimento, demonstrou que o cérebro começa a preparar nossas ações antes mesmo de termos consciência delas. Isso sugere que nossas decisões podem já estar tomadas antes de pensarmos que estamos escolhendo algo de forma consciente.
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JOGA QUEM QUER! CADA UM TEM SEU LIVRE-ARBÍTRIO
Quando trazemos essa perspectiva para a ideia de “Joga quem quer”, percebemos que a situação vai muito além. Vivemos em uma era dominada pelas telas e redes sociais, onde somos bombardeados diariamente com imagens de sucesso, dinheiro fácil e promessas de recompensas rápidas. Seu cérebro, absorve isso e acaba sendo modelado neste padrão , o que servirá para modelar seu comportamento e sua decisão em uma condição de experiências que se retroalimentam. Sem contar que o cérebro humano é naturalmente atraído por promessas de ganhos rápidos e fáceis. Assim como no "jogo do tigrinho", onde decisões são condicionadas por recompensas aparentes, as vítimas de golpes também são influenciadas por mecanismos cerebrais que buscam gratificação fácil ou rápida. Entendeu a dinâmica?
Quando um influênciador, por exemplo, usa da sua imagem para divulgar esses jogos de forma repetida isso ativa nosso "viés de confirmação", onde o cérebro começa a ignorar sinais de alerta e foca apenas nas informações que validam suas expectativas positivas. Nosso cérebro , portanto, está fortemente influenciado por fatores que dificultam a tomada de decisões "racionais".
Assim, fica cada vez mais difícil sustentar a ideia de que “joga quem quer” baseado no livre-arbítrio, pois nossas escolhas parecem estar profundamente estruturadas em padrões que não controlamos totalmente.