Jornada Arqueológica: em busca do nome "Israel"​
Estela de Merneptá, Museu Egípcio, Cairo - Wikipedia

Jornada Arqueológica: em busca do nome "Israel"

Onde aparece o nome "Israel" pela primeira vez nas fontes arqueológicas antigas? E quando surge o povo "hebreu"? Em homenagem à nossa independência, Liat Naeh traça as raízes antigas de Israel.

Liat Naeh Publicado: 09.05.11, 16: 30

O fim veio logo no início: "Israel está destruído, sua semente não existe mais", escreveu o rei do Egito, Merneptá, em um monumento de vitória no final do século XIII A.C., há mais de 3200 anos. Até onde os arqueólogos sabem, esta é a menção mais antiga da palavra "Israel" em uma fonte exterior à Bíblia Hebraica, isto é, numa fonte extra-Bíblica.

 O monumento foi descoberto já no século XIX nas escavações de Flinders Petrie na cidade egípcia de Tebas, Nô-Amon na Bíblica, e sua descoberta chocou o mundo da pesquisa - será que de fato existe uma prova extra-bíblica da existência histórica da nação de Israel?

 Embora Merneptá afirme ter destruído Israel, suas palavras devem ser tratadas de forma ponderada: como todas as inscrições de vitória das realezas no Antigo Oriente, essa é uma inscrição tendenciosa, destinada a glorificar o poder do rei. Logo, ela foi escrita, não só para fins de documentação, mas também como propaganda.

 As Cidades-Estado de Canaã

Não há dúvida de que Israel foi um dos fatores que perturbou o descanso do Faraó Merneptá, mas certamente não foi o principal: seu nome foi mencionado em uma campanha militar realizada por Merneptá contra seus inimigos líbios e contra a terra de Canaã, então composta de várias cidades-estado - entidades políticas relativamente independentes - que naquele momento estavam sujeitas ao Egito.

 Na mesma campanha militar Merneptá afirmou ter subjugado Ascalão, Gezer e Yanoam, todas cidades-estado – e, além delas, Israel. Mas parece que Israel não era uma dessas cidades-estado Cananitas, já que o escritor real fez questão de escrever seu nome usando o definidor reservado para os povos estrangeiros, e não de locais geográficos.

 O definidor é um classificador hieroglífico projetado para esclarecer em que categoria um nome particular ou palavra foi escrito no egípcio antigo, e pode contribuir grandemente para a compreensão do texto. Neste caso, os pesquisadores enfatizam, Israel foi escrito sob um definidor diferente das cidades de Ascalão, Gezer e Yanoam.

 Em egípcio soa melhor

Aparentemente, a menção de Israel neste período se alinha bem com a história bíblica, e especialmente à luz de sua definição como um povo: mas será que é realmente a Nação de Israel a mencionada no monumento de Merneptá? Embora a inscrição tenha sido descoberta já no século XIX, os pesquisadores ainda discordam, pois é muito difícil de ler a inscrição de forma definitiva.

 Uma vez que o escritor egípcio foi obrigado a escrever um nome estrangeiro em seu monumento, ele certamente ficou em dúvida quanto a maneira correta de soletrá-lo na escrita egípcia, que é destinada a indicar sons egípcios. É particularmente difícil decidir se deve-se ler "L" ou "R" no final da palavra, e alguns dizem que deve ser lido "Israr" ou talvez até "Jezreel".

 Apesar da controvérsia, a Estela de Merneptá, hoje em dia, ainda é vista como a primeira referência escrita do aparecimento de Israel na história. Outras leituras possíveis da palavra "Israel" em fontes extra-bíblicas, como, por exemplo, em nomes próprios no arquivo de Ebla, do terceiro milênio A.C., e, talvez, outro exemplo, a partir do segundo milênio A.C., no arquivo da cidade de Ugarite - ambos se encontram hoje dentro dos limites da Síria moderna - também são questionáveis, mas ao contrário da Estela de Merneptá, até agora, os estudiosos não os aceitaram como evidência clara da presença de Israel como uma entidade étnica no Antigo Oriente.

 Os Hebreus causam confusão

O nome "Israel" não é o único nome pelo qual a nação em desenvolvimento é descrita na Bíblia: como se sabe, a Bíblia também identifica os israelitas como "Hebreus." Será que há alguma referência histórica exterior à Bíblia da presença de "Hebreus" em nossa região?

 Em diversos arquivos do final do terceiro milênio e especialmente do segundo milênio A.C., da região da Mesopotâmia e em torno da Síria, de fato são mencionados os "Habiru" ou "Apiru", nome reservado para nômades marginalizados pela sociedade civilizada.

 De acordo com os arquivos, os Habiru costumavam aparecer, de tempos em tempos, na vida dos habitantes de diferentes cidades, geralmente ligados à violação da ordem e demonstrando violência. Na terra de Canaã, eles foram repetidamente citados nas queixas dos reis cananeus, os governantes das cidades-estado, chamando o rei do Egito, seu soberano naquele tempo, para vir em seu auxílio, lutar contra esses bandidos; as cartas que escreveram, na escrita cuneiforme acádio, foram mantidos em um arquivo a partir do século XIV A.C., na cidade de El Amarna.

 O Judeu Errante?

Embora os Habiru não tenham sido, necessariamente, membros de um determinado grupo étnico, e sim, provavelmente, constituíram uma espécie de classe social, muitos pesquisadores encontraram muita semelhança entre o som desses nomes e o nome "Hebreus", e talvez até mesmo correspondência entre o significado desses nomes, que pode representar, em diferentes línguas semíticas, uma população que "se move" de lugar para lugar.

 Sua história lembra, entre outras coisas, o status social e o modo de agir do grupo de bandidos que Davi reuniu ao seu redor (veja, por exemplo, Samuel I, capítulo 22). O status dos nômades, que ameaçava os residentes permanentes das cidades, também lembra muito o termo usado pelos Egípcios para descrever pastores-nômades e mercenários de oportunidade, o "shasu" (ou "Suthu"): como o Habiru, este conceito também é comum desde o terceiro milênio A.C., e, especialmente, no segundo milênio A.C.

 Alguns apontam que um dos grupos dos Shasu foi associado, aos olhos dos egípcios, ao lugar chamado "Yehu", que lembra o nome completo do D'us de Israel, "Jeová", mas muitos contestam esta identificação. Outros vêem uma semelhança linguística entre a palavra egípcia "shasu" e o uso bíblico de "shossim" - saqueadores - ou do verbo "leshassot" - roubar (por exemplo, no Livro dos Juízes, Capítulo 2, versículo 14).

 Busca que vale ouro

Estas são, portanto, as evidências escritas mais antigas que podem ser atribuídas ao surgimento de "Israel" nas páginas da História; como qualquer fonte arqueológica e histórica, elas são complexas e sujeitas a interpretação.

Em períodos posteriores, paralelos ao tempo do Reino de Israel bíblico, há mais referências extra-bíblicas a Israel, e mais claras, que incluem várias fontes Assírias (por exemplo no Obelisco Negro, um monumento de vitória erguido pelo rei Assírio Salmanaser III, do século IX A.C., em que o rei de Israel, Jeú da casa de Omri, é visto se curvando diante do rei Assírio).

O Obelisco Negro: os israelitas curvam-se perante as nações do mundo

 Em nossa região, a palavra "Israel" é mencionada em um contexto impressionante, na Estela de Mesa, em que Mesa, o rei de Moabe, que também é mencionado na Bíblia, documentou sua luta com Israel, ampliando bastante a menção bíblica (Reis II, Capítulo 3).

 A inscrição foi descoberta no século XIX na cidade de Dibon, na Jordânia moderna, nos territórios de Moabe bíblica, e devido ao estilo e à forma das letras Moabitas é comumente atribuída ao século IX A.C. Quando a inscrição foi descoberta, despertou grande entusiasmo entre os pesquisadores, e a lenda diz que os beduínos locais, que se perguntaram por que tanto tumulto estava sendo feito em torno de uma pedra antiga, quebraram a inscrição, acreditando que havia ouro escondido dentro dela.

 Felizmente, já havia sido feita uma cópia em papel da inscrição, e foi possível recuperar a maior parte dela de forma confiável. "O Rei de Israel" também é mencionado em uma inscrição em aramaico, encontrada em Tel Dan, também atribuída ao século IX A.C., talvez ao século VIII A.C. A inscrição é muito famosa por citar a "Casa de Davi", e é a primeira prova extra-bíblica da existência do Rei Davi, ou pelo menos que sua dinastia foi historicamente lembrada depois de mais de um século do seu suposto reinado.

 Liat Naeh é escritora e estudante de Pós-Graduação em Arqueologia Bíblica no Instituto de Arqueologia da Universidade Hebraica de Jerusalém. 

Traduzido do hebraico por Flávia Fridman Nesharim

Texto Original - https://www.ynet.co.il/articles/0,7340,L-4066521,00.html



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