Jovens, vulnerabilidade emocional, conexão e limites da docência
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Jovens, vulnerabilidade emocional, conexão e limites da docência

Ser professor de jovens, sobretudo numa sala de aula com grandes variações de faixas etárias, é como viajar à bordo de um carrinho de montanha russa, partindo de diferentes pontos: alguns estão no início, outros, já no looping, e há, ainda, quem esteja na fila, decidindo se terá coragem ou não de embarcar na aventura.

A metáfora poderia servir, facilmente, para ilustrar os diferentes ritmos e percursos dos alunos na construção do seu caminho de aprendizagem. Mas, hoje, eu quero falar de duas outras questões específicas, muito presentes em sala de aula: a da vulnerabilidade emocional dos jovens, experimentada em diferentes fases, e a importância da conexão.

Sabemos que essa fase da vida é, de fato, uma das mais complexas: o corpo está passando por uma série de mudanças, os hormônios estão à flor da pele e é chegada a hora em que se faz necessária a tomada de decisões quanto à escolha de um curso universitário e profissão a seguir… tudo isso, enquanto há uma luta interna, constante, entre o desejo de se tornar independente e de permanecer na infância, sob os cuidados e proteção de alguém. Como se não bastasse, o colo mais importante – o da família – nem sempre tem estruturas sólidas ou está disposto a acolher esse jovem durante seu importante momento de transição. Diante disso, o professor que demonstra importar-se o mínimo que seja com esse jovem acaba sendo escolhido por ele como referência.

No início da minha experiência como professora, e trabalhando com assuntos delicados como “comunicação não violenta”, “diversidade”, “inclusão”, despertei gatilhos para os quais nem sempre eu tinha estrutura psicológica para lidar. De repente, me deparei escutando e absorvendo histórias relacionadas a abandono afetivo parental, homofobia, depressão, ansiedade, bulimia, anorexia, auto-mutilação, bullying, problemas com álcool, drogas, crime, violência, estupro, tentativas de suicídio e tantas outras. Diante da minha sensação de impotência, cheguei a questionar, inúmeras vezes, meu verdadeiro papel e relevância do meu trabalho com aqueles jovens. Todas aquelas questões pareciam mais importantes que qualquer conteúdo que eu pudesse ter planejado para a aula. Como a maioria deles, eu havia ficado presa no looping da montanha russa, sem perspectiva de sair dali tão cedo.

Foi aí, no auge da minha "conclusão" de não poder fazer nada, que aprendi o verdadeiro significado de conexão. Compartilhar não só as minhas histórias bem sucedidas, mas, principalmente, as de fracasso e decepção, ajudar aqueles jovens a reconhecerem seus sentimentos, ao invés de ignorá-los ou repreendê-los, sem julgá-los, foi o caminho para me conectar verdadeiramente com eles. Suas histórias de vida se converteram nos estudos de caso, em nossas aulas: na prática do exercício docente, eu estava aprendendo o sentido genuíno de construir caminhos de aprendizagem com significado, de "me fazer humana" diante dos meus alunos e da empatia.

Mas, não só isso: o dia a dia em sala de aula me ensinou, também, a desconstruir o discurso de "heroísmo" da profissão docente. Essa foi uma das maiores oportunidades que a conexão me deu: ao permitir a dissolução (nem sempre fácil) do ego, passei a me sentir mais livre em reconhecer minhas limitações enquanto profissional e ser humano. Traduzindo para a metáfora do passeio na montanha russa, percebi que não conseguiria evitar (e nem deveria, se pudesse) que meus alunos e eu passássemos pelas fases mais desconfortáveis, como as descidas e viradas bruscas ou o looping; mas, era possível encorajá-los a abrir os olhos e encarar cada paisagem do caminho (nem sempre a mais bonita) de forma consciente e reflexiva.

 

  


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