Juros na Lua para problemas terrestres.

Por Adalberto Piotto

O Banco Central elevou os juros básicos em 1,5 ponto percentual. É o que os economistas chamam de 150 "base points".

E sinalizou que vai subir ainda mais na primeira reunião do Comitê de Política Monetária do ano que vem, em fevereiro.

Com o aumento de hoje, os juros chegaram a 9,25% ao ano, a maior taxa desde 2017, o ano da recuperação econômica depois da tragédia do governo Dilma.

É hora de se perguntar sobre o Banco Central, o Copom e seu movimento "altista".

Até porque é difícil entender se há real nível técnico elevado entre os técnicos do Copom, se há noção clara da realidade e se estão independentes do governo ou do Brasil.

Podem e devem ser independentes de influências políticas de governos e de grupos de interesses do mercado, não da realidade brasileira.

Se olharmos para o BACEN desde antes da pandemia, mais parece um grupo de sofismáticos com pretensão intelectual em economia.

O Banco Central errou no câmbio no começo de 2020, quando o dólar disparou mais de 20 centavos por especulação e "anormalidades" que o presidente Roberto Campos Neto prometia corrigir e não corrigiu. Isso foi lá em janeiro, fevereiro de 2020, insisto, antes de a pandemia ancorar por aqui.

O dólar artificialmente alto iria bater na inflação em algum momento. Quando veio a pandemia, o fechamento da economia, partiu de um valor acima do que era real e descambou.

Logo depois, parece-me o BACEN ter errado na dose da redução dos juros durante a fase mais pesada da pandemia, ao longo de 2020. Juros no chão que não conseguiram manter a economia ativa porque o medo do investimento era sanitário não econômico, o que provocou a saída de investidores e fez disparar o dólar no Brasil acima da média do mundo.

Real desvalorizado para continuar comprando insumos, como combustível, em dólar valorizado.

Bateu de novo na inflação que os iluminados do Banco Central chamavam de "passageira" ou "transitória" ou algo assim.

Agora, igualmente parece insistir no erro, em direção oposta, na elevação dos juros em direção à lua, onde não tem oxigênio e onde humanos não podem viver nem produzir.

A Selic lunática tem alto potencial para prejudicar fortemente a recuperação e o emprego, justamente no momento em que o mundo inteiro, o que inclui o Brasil do planeta Terra, quer fazer a economia voltar.

A alegação para a alta dos juros é a inflação em alta.

A maior parte da inflação no Brasil, como no mundo, não tem causas brasileiras: falta de insumos por causa da pandemia paralisante de cadeias produtivas do planeta inteiro e a alta do petróleo.

A parte que cabe ao Brasil na inflação são os erros do BACEN em relação ao câmbio, que ele não assume.

Há riscos fiscais? Parte era impossível não cometer com gastos necessários e inadiáveis na pandemia e na ajuda à população. A outra parte de excessos de governo, tem havido forte diligência da opinião pública, o que mitiga muito o problema.

Dito tudo isso, o Banco Central e seus sofismáticos diretores parecem seres dogmáticos para decisões sobre a economia que não é feita de dogmas.

Economia é ciência social. É feita de gente e expectativas.

Tudo o que o Banco Central parece não levar em conta na sua política monetária.


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