“Just a soul full all men tend to love…”

“Just a soul full all men tend to love…”

Hoje uma garotinha pentelha de olhos amendoados veio me visitar em meus sonhos, batia na janela do meu quarto e berrava meu nome. Era bem insistente a mocinha. Nas poucas horas que consigo descansar, meu único desejo era que ela desistisse e fosse embora. Tolice.

- Ei fedelha, não sabe que horas são!?

- É tarde eu sei, mas esqueça por um momento as horas, os próximos minutos serão importantes para nós dois. Vem! Me da sua mão.

- Mas como assim me da sua mão! Quem é você pirralha?

Apesar dos olhos serem muito familiares, eu não conseguia descobrir quem era.

- Falar sobre quem eu sou agora seria como tentar explicar para uma formiga que a Terra é “redonda” e orbita o Sol.

- Hã!?

- Pois é! Você sempre foi desatento mesmo, não mudaria agora. Melhor deixar pra lá, assim evitamos que você tenha um colapso nervoso. Agora para de ser medroso e pula pra cá.

Saltei pela janela inspirado no Thiago Braz, de alguma forma existia uma conexão entre nós e eu confiava nela.

E foi então que a apanhei pelas mãos e em um instante estávamos os dois em uma sala sem proporções, tão branca que queimava os olhos. Em nossa frente, duas amplas janelas de madeira maciça, podíamos até sentir o cheiro do Ipê.

- Anda Henrique, vamos lá! Acha que foi fácil conseguir permissão para trazê-lo até aqui? Burocracia não existe apenas na Terra. Tive que reconhecer firma da assinatura de um Querubim para liberarem seu acesso.

- Hã!?

- Meu Deus! Vem, vamos olhar por uma das janelas, tem umas frestas e se tivermos sorte, além de ouvir poderemos ver alguma coisa.

Pelas frestas era possível ver uma sala com decoração colonial, o som do campo preenchia todos os cantos daquele espaço e vazava pela janela onde estávamos, era muito bonito. Víamos também um casal de crianças, pele levemente bronzeada, cabelos encaracolados e clarinhos, tinham aproximadamente 5, 6 anos de idade. Não pareciam estar brincando; conversavam sentadas sobre um tapete redondo de sisal. Prenderam nossa atenção como imã.

- Eu não acredito! Vão mesmo remover o Abacateiro? Ele está conosco há anos. No verão sempre é uma festa, ele faz sombra e atrai os pássaros para o nosso quintal. Usamos os abacates nos cafés da manhã, são tantas lembranças boas...

- A mamãe ficava maluca quando tentávamos subir no abacateiro.

- O Papai disse que ele está muito velho e agora no verão com as chuvas e ventos, pode cair sobre a nossa casa.

- Oi crianças tudo bem?

- Oi papai. Não está tudo bem! O abacateiro vai embora!

- Entendo crianças, eu também estou muito triste. Nosso abacateiro pode até estar velho, mas ele teve uma vida digna e com propósito, não é mesmo? Alimentou nossa família com seus frutos, foi casa para os pássaros e tantos outros bichinhos, os abacates que passaram do ponto ajudaram na compostagem... Ele nos proporcionou momentos muito felizes e é dessa forma que temos que lembra-lo e honra-lo.

- Tive uma ideia! O que vocês acham te plantarmos um bonsai de abacateiro em sua memória?

- O que é um bonsai papai?

- Um bonsai é uma planta ou árvore anã crianças. Elas ficam pequenininhas por causa da rega controlada, da poda da raiz e o desbaste dos galhos e da copa. Essas pequenininhas precisam ser muito bem cuidadas, para ficarem fortes como o nosso abacateiro...

Nesse momento olhei para o lado e a miúda estava indo na direção da outra janela.

- Vem vamos olhar pela outra janela.

- Droga, essa janela esta fechada! Não da pra ver, nem ouvir nada.

- Tem uma fechadura, vamos tentar abrir.

- Deu certo! Vai abre, abre logo!

Quando abrimos à janela, a luz de fora era intensa e nos cegou por alguns segundos, mas os próximos minutos de contemplação seriam o presente recebido através daquele sonho.

Lá estava o imponente Abacateiro. Coberto por seus galhos, folhas e frutas, coberto de pássaros, sons e luz. Coberto de vida e propósito!

Quando olhei novamente para o lado, finalmente me dei conta que a garotinha era na verdade minha filha Olívia.

- Olívia é você! Mas como pode! Você ainda é um bebê.

Naquele instante ela sorriu com aqueles olhos verdes e amendoados, sorriu com toda beleza herdada da Sabrina, sorriu com o coração e a alma daquele abacateiro.

- Papai eu já tentei explicar pra você. Quer voltar ao assunto da formiga? Você não precisa entender tudo o que está acontecendo, deixa estar.

Ficamos em silencio por alguns instantes observando aquela linda árvore.

- Papai, eu quero te pedir uma coisa.

- O que você quiser filha.

- Papai cuida para que ninguém pode as minhas raízes e desbaste minhas folhas e galhos. Não deixe que racionem minha água e luz, cuida do meu solo papai. Cuida de mim com carinho e atenção, "mas sem paranoia...😊", para que eu cresça forte e me torne um lar com propósito e frutos.

Naquele mesmo instante eu acordei, já era quase manhã, mas a Sabrina e a Olívia ainda dormiam profundamente. E desse dia em diante, eu sempre vou me lembrar, que nós pais, podemos aprender de forma misteriosa e muito mais do que imaginamos com os nossos filhos.

Adriana Moura

Sócia e Cofundadora nos Chalés e Bangalôs Capim Limão

6 a

Que coisa mais linda, meu amigo!!!! A Olívia e a Sabrina, é claro!!! ;) rsrsrs

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