Justiça passa a régua e faz a festa em dia de Carmen, Valério e Cunha

Justiça passa a régua e faz a festa em dia de Carmen, Valério e Cunha

Quis o destino que três eventos, numa mesma segunda-feira, fechassem um ciclo e celebrassem para aopinião pública o melhor momento do sistema judiciário brasileiro:

  1. A posse de Carmen Lúcia na presidência do STF, depois da controversa gestão de Ricardo Lewandovski com seus malabarismos para manter boa vizinhança com o Palácio do Planalto e o Congresso, acena para um tempo de equidistância dos políticos.
  2. O depoimento de Marcos Valério ao juiz Sérgio Moro engrossa em algumas páginas o processo que o Ministério Público vem recheando para colocar o ex-presidente Lula no topo da linha de comando dos dois últimos maiores escândalos, o Mensalão e o Petrolão.
  3. A cassação de Eduardo Cunha, por um acachapante placar de 450 a 10, fecha a conta da classepolítica com os dois polos de poder que a colocaram no olho do furacão — Cunha e o lulopetismo — e limpa a área para se começar a discutir reformas e projetos para o país.

São como três momentos de expiação da alma nacional que se deve ao protagonismo do Judiciário.

Esse poder impenetrável, que sempre passou ao largo das críticas que abateram seus contrapesos — Executivo e Legislativo —, passa por seu furacão particular em que pouca coisa deve ficar de pé.

Dele, começam a emergir suas misérias e virtudes: a lentidão, o corporativismo, a onipotência, a falta de transparência e também seu poder fogo quando funciona. Por obra e graça de um único jovem juiz de Curitiba que seus males diversos ainda não havia alcançado.

A posse de Carmen Lúcia foi como uma missa de reverência a esse tempo, de coragem para dizer o que é preciso e de expectativa de dias melhores. Religiosa, disciplinada, austera como monge e discreta como mineiro, ouvinte e leitora de clássicos, tem um passado de decisões duras, coerentes com sua vida espartana e de inquietação com o bolor dos processos nas prateleiras atulhadas do poder.

—E há de se reconhecer que o cidadão não há de estar satisfeito, hoje, com o Poder Judiciário — disse em seu discurso. — O juiz também não está. Para que o Judiciário nacional atenda como há de atender à legítima expectativa do brasileiro, não basta mais uma vez reformá-lo. Faz-se urgente transformá-lo.

Ao que o decano Celso de Mello completou, lembrando Ulysses Guimarães ao promulgar a Constituição de 88, para recolocar a tarefa espinhosa que há pela frente:

— Não roubar, não deixar roubar, colocar na cadeia quem rouba. Eis o primeiro mandamento da República.

É um novo tempo. É uma nova ordem. E um nova precaução.

Como há tivemos momentos semelhantes em que o país parecia enfim que iria mudar, e não mudou, é preciso aguardar.

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Fotos Secom/STF e Agência Brasil

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