A Juventude e o Novo Cenário do Trabalho: Exigências Maiores e Oportunidades Menores
O mercado de trabalho no Brasil passa por uma transformação profunda, impactando diretamente a geração que hoje tem entre 15 e 29 anos. Essas mudanças refletem um cenário desafiador, em que as exigências para ingressar em uma vaga formal são cada vez mais elevadas, enquanto as oportunidades se mostram escassas e, muitas vezes, desmotivadoras. Essa combinação tem criado uma barreira quase intransponível para os jovens, resultando em uma geração que se vê cada vez mais distante do mercado formal de trabalho.
A competitividade no mercado nunca foi tão acirrada. Enquanto os jovens se preparam com formação acadêmica e cursos técnicos, o mercado parece demandar mais do que nunca. Experiência prévia, habilidades interpessoais, domínio de idiomas e expertise em tecnologias emergentes são apenas algumas das qualificações esperadas. O que antes era considerado diferencial, hoje se tornou requisito básico. Esse aumento nas exigências cria um ciclo vicioso: sem experiência, os jovens não conseguem oportunidades de trabalho; sem trabalho, não conseguem adquirir a experiência necessária para superar essas barreiras.
Essa realidade se agrava quando analisamos o impacto das diferenças geracionais entre os Millennials (nascidos entre 1981 e 1996) e a Geração Z (nascidos a partir de 1997). Os Millennials, que já estão estabelecidos no mercado de trabalho, cresceram em uma época de relativa estabilidade econômica e menos pressão por qualificações múltiplas. A Geração Z, por outro lado, se depara com um mercado saturado, onde as oportunidades são disputadas por candidatos cada vez mais qualificados. Essa disparidade coloca a nova geração em uma posição de desvantagem, já que as expectativas e as condições para a entrada no mercado se tornaram significativamente mais rigorosas.
Um dos efeitos mais preocupantes dessa dinâmica é o aumento da informalidade entre os jovens. Incapazes de atender às exigências do mercado formal, muitos optam por trabalhos temporários ou informais, que, embora possam oferecer renda imediata, não contribuem para o desenvolvimento de uma carreira sustentável a longo prazo. Sem vínculos formais, esses jovens ficam à margem do sistema, sem acesso a benefícios como previdência social e seguros trabalhistas, e enfrentam dificuldades para investir em sua formação e qualificação.
A falta de oportunidades formais para os jovens não é apenas uma questão social, mas também um problema econômico de grandes proporções. Segundo indicadores do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), a ausência de inclusão dessa população no mercado de trabalho formal pode resultar em uma perda de até 10 pontos percentuais no potencial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro nos próximos 30 anos. Isso significa que o país não apenas perde em produtividade, mas também em inovação, já que é a juventude que tradicionalmente impulsiona novas ideias e tecnologias.
Para agravar ainda mais o cenário, a falta de uma primeira experiência profissional de qualidade pode criar uma geração de jovens desmotivados, que se sentem desconectados das oportunidades de crescimento. Sem perspectivas de um futuro promissor, muitos acabam se resignando a empregos de baixa qualificação, perpetuando um ciclo de estagnação econômica e pessoal.
Portanto, cabe reflexões a nós profissionais de RH, Gestores, Governantes repensar as políticas de inclusão no mercado de trabalho para essa geração. Programas de capacitação, parcerias entre empresas e instituições de ensino, e incentivos à contratação de jovens são essenciais para reverter esse quadro. A fim de mostrar a sociedade que investir na juventude é garantir um futuro mais próspero e equitativo para todos.
O novo cenário do trabalho exige uma adaptação tanto por parte dos jovens quanto das empresas e do governo. Somente através de um esforço conjunto será possível transformar as maiores exigências em oportunidades reais, garantindo que a nova geração não apenas participe, mas também seja protagonista no mercado de trabalho do futuro.
Governança Corporativa / ESG / Conselheiro
4 mExcelente e importante reflexão DANIELLE COSTA !