Liderar é comunicar, não apenas informar

Fim de ano. A liderança se reúne para definir os objetivos do próximo exercício. A diretriz é aumentar o faturamento em 10%, reduzir custos e abrir uma nova região. São semanas discutindo com vários departamentos, levantando números, fazendo estatísticas, analisando gráficos e preenchendo planos de ação. Ao término dos trabalhos, vem então a convenção de vendas. Todos são informados das mudanças, das novas metas e desafios, do compromisso e da importância em ser parte integrante daquele novo ciclo.

Tudo completamente normal e dentro dos padrões. Equipe reunida, informação repassada, desafios expostos e bônus para os que se superarem. Milhões de empresas mundo afora seguem o mesmo métier e estão absolutamente corretas nessa preparação. Estruturar as ações e informá-las à equipe é fundamental para o sucesso, contudo, é justamente nesse ponto, na comunicação, que muitos líderes falham.

Existe uma lacuna enorme entre informar e comunicar. Ao informar estamos passando uma mensagem de como gostaríamos que as coisas se desenrolassem, sem muita interação e conectividade àqueles que a recebem. Na informação a mensagem é unilateral, e, pelo fato de apresentar um único sentido, pode gerar ruídos que se dispersam e somem na trajetória.

O grande equívoco de alguns líderes é continuar apenas informando, apenas reiterando o que precisa ser feito, qual a meta a ser batida, qual o ganho a ser conquistado. Ao cobrar diariamente, forçando sua equipe sem coerência e análise de outras variáveis, ótimas estratégias são sepultadas pelos “chefes coveiros”. Pessoas que, indiferente do grau de instrução e posição já alcançadas, não entendem os benefícios de uma comunicação assertiva, orientando ao crescimento consistente e aprendizado mútuo.

Não é sobre ser um líder “gente boa”, pressupõem errado quem entende que há discordância em saber conversar com ser incisivo. É sobre lidar com medos, frustrações e limites humanos. Quando um líder ignora o diálogo franco e amistoso, quando menospreza a discussão e expurga o feedback, não está liderando de fato, está dando ordens como se estivesse tocando uma boiada. É completamente possível se comunicar com excelência, ser claro, contundente e criar uma conexão com a equipe, mesmo que o assunto ou a cobrança não sejam positivos. 

Uma equipe que apresenta baixo turnover não é aquela que tem o líder mais gente boa ou o líder que mais gera resultado, um perfil não pode eliminar o outro, o líder agregador, aquele que vai transformar o plano da empresa em um resultado exequível, aquele que vai manter sua equipe engajada e motivada, que vai ultrapassar as expectativas de todos, é o líder com a soma desses dois perfis.

Ele tem que gerar resultados sim, mas para isso não precisa ser carrasco. Ele tem que ser considerado um cara do bem sim, mas para isso não precisa ser inocente e frágil. Esse líder precisa ser franco, transparente e entender de técnicas e de como a mente humana processa informações, emoções e sentimentos. Sim, um bom líder é alguém que entende de pessoas, que se conhece e que compreende que é limitado. Por isso uma comunicação eficiente é tão eficaz. Não é só informar o que se deseja, é fazer o outro entender o que se está pedindo. O autor Kenneth Blanchard, em seu livro, O Gerente Minuto, exemplifica que na grande maioria das equipes, quando os membros são perguntados sobre o que devem fazer, as respostas são bem diferentes daquelas que os líderes acreditam sobre o que seus liderados devem executar. Ou seja, o líder quer uma coisa, a empresa espera outra e o funcionário faz outra completamente diferente.

Sabem por quê? Porque o que eles receberam foram somente informações. Não houve de fato comunicação, ninguém sentou um na frente do outro e abriu o jogo, disse francamente o que esperava da pessoa e pediu a contrapartida, isto é, perguntou o que o outro espera dele. O maior erro das lideranças é não conversar, é não fazer a comunicação fluir de forma transparente e harmônica.

Converse com sua equipe, tenha reuniões coletivas e individuais, conheça as pessoas que trabalham com você, dê feedbacks constantes e peça feedback sobre seus métodos e formas de trabalho. Faça sua equipe entender qual o propósito das mudanças, qual a missão de cada um dentro desta empreitada. Quando as pessoas se sentem dentro de um processo, se sentem parte de um mecanismo, de um todo, elas se doam mais, entendem que o resultado depende delas e com isso a valorização é maior e a entrega completa.

Apenas passar informações não faz seu trabalho algo sublime e por isso não há mérito. Agora, comunicar-se sendo parceiro, assumindo e dividindo as responsabilidades, torna você um profissional que deixará um legado, um grupo de seguidores que vão admirá-lo.