Lean para Software. Afinal, o que é isto?
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Lean para Software. Afinal, o que é isto?

A filosofia "Lean Thinking" (ou "Pensamento Enxuto") nasceu em meados dos anos 90 com o lançamento do best seller "The Machine That Changed the World : The Story of Lean Production". Os princípios de demanda puxada (pull systems), just-in-time, qualidade total, teoria das restrições, melhoria contínua e flexibilidade aplicados na indústria japonesa, mais precisamente na Toyota e conhecidos como Toyota Way inspiraram também a indústria de software e fez surgir a abordagem do Lean Software Development.
Mary e Tom Poppendieck (gurus de Lean voltado a TI, defensores do agile e autores do livro: "Lean Software Development - An Agile Toolkit" que mostra como os princípios Lean podem ser aplicados em abordagens de desenvolvimento de software ágil) usou a seguinte frase para definir Lean:

"What is Lean?
• Deliver continually increasing customer value
• Expending continually decreasing effort
• In the shortest possible timeframe
• With the highest possible quality
A journey, not a destination. "

E acrescentam: "Acelerar a produção do desenvolvimento de Software é geralmente uma questão de melhorar o processo ao invés de adicionar pessoas. Pare de fazer coisas que o cliente não valoriza! Vista os óculos do cliente! "

Tentando resumir em uma frase, Lean é um princípio ágil cujo foco é cortar a "gordura" do processo de software, focando na eliminação de desperdícios.

Princípios Lean aplicados ao software:
• Elimine Desperdícios
• Inclua a Qualidade no Processo
• Crie Conhecimento
• Adie Decisões e Comprometimentos
• Entregue o quanto antes
• Respeite as Pessoas e "Empower" a equipe
• Otimize o Todo

Vamos ver os 7 princípios de Lean e como transforma-los em práticas ágeis.

Princípio #1 – Eliminar desperdícios
Desperdícios: tudo aquilo que não agrega valor para cliente final e que não são percebidos pelo cliente. Exemplo: passos extras, processo pesado e rígido, burocracia, documentação que nunca vai ser lida, que está na prateleira juntando poeira - não necessária, etc. Outro tipo de desperdício são trabalhos parcialmente prontos, tudo que começa e não termina, funcionalidades extras que não serão utilizadas, etc.
Enfim, software útil e de funcionando (de qualidade) é o que vai trazer valor ao cliente. Os sete desperdícios de software:
• Inventory = Requirements / Partially done work
• Extra Processing Steps = Extra processes, steps
• Overproduction = Extra features
• Transportation = Handoffs, tasks switching
• Waiting = Waiting
• Defects = Defects
• Motion = Finding Information

Não se iluda, embora alguns sejam gritantes não é fácil identificar alguns tipos de desperdício. É preciso aprender a enxergar os desperdícios e existem algumas práticas e exercícios que podem ajudar, tais como Seeing waste e Value Stream mapping.

Vejamos os tipos de desperdícios mais detalhadamente:

1 - Requisitos
Requisitos, especificados muito cedo que perdem sua credibilidade, eficácia e compromete a usabilidade do sistema.
Trabalho incompleto (“em-progresso”) - Parcialmente feitos
Trabalhos parcialmente iniciados / terminados tendem a se tornar obsoletos.
O maior problema é não ter idéia se eventualmente funcionam ou não. Enquanto os trabalhos não são integrados, não podem ser utilizados e não temos como saber quais problemas podem aparecer. Funcionalidades pela metade apenas atravancam o caminho para trabalhos que poderiam ser feitos. Tornando-se facilmente obsoleto.
Consomem recursos sem trazer retorno.
Exemplos: Documentação não codificada, código não sincronizado, código não testado, código não implantado.

2 - Processos/Passos a mais
Burocracia, atividades, métricas, etc que não geram valor e que diminui o tempo de resposta.
Você alguma vez já se perguntou, toda aquela documentação e papelada é realmente necessária?
Documentação desnecessária e documentação que são esquecidos ou perdem valor e se tornam obsoletos ou documentos que ninguém se importa em ler.
O seu cliente realmente acha que isso torna o produto dele mais eficiente?

Dica:
• Faça esse questionamento para descobrir quando a documentação tem valor agregado: Tem alguém esperando ou dependendo do que você esta produzindo?_

Ainda assim lembre-se: Mantenha-o enxuto, em alto-nível e documente o mais tardar possível.

3 - Funcionalidades a mais
80% das funcionalidades implementadas não são utilizadas.
20% das funcionalidades é que são realmente úteis.
Código não-utilizado introduz complexidade e a complexidade é um inimigo da manutenção. Mais código para ser mantido. Mais testes para serem realizados. Mais documentos de especificação para serem criados. Se o código não é necessário agora colocá-lo no sistema é desperdício.

4 - Troca de tarefas (Task switching, Handoffs)
Corrida de revezamento deve ser substituída pela equipe multi-funcional.
Quanto maior os handoff’s maior é a perda de conhecimento. Organizar pessoas em múltiplos projetos é outra forma de desperdício.
Quanto tempo se perde para parar uma determinada atividade e iniciar outra, relembrar onde parou, concentrar-se e finalmente produzir algo?

5 - Atrasos
Atrasos na entrega, atrasos em geral são puro desperdício e irão gerar aumento do custo do projeto.
Em muitos casos, atrasos são apenas a ponta do iceberg para problemas muito maiores.

Espera:
• Um dos maiores desperdícios no desenvolvimento de Software é a espera para que as coisas aconteçam. Espera para o início do projeto, pela montagem da equipe, espera pela produção de documentação extensa, espera por processo de revisão ou aprovação, espera para testar, etc. Veja, analise o que deve ser mantido, o que agrega valor e o que é puro desperdício.

6 - Defeitos
Equipes ágeis se esforçam ao máximo para evitar defeitos.
“Inspecionar para prevenir defeitos é bom; Inspecionar para encontrar defeitos é desperdício” -- Shigeo Shingo
Defeitos (Bugs) não agregam valor, não satisfazem o cliente, e custam muito muito caro.

7 - Movimento
Tempo e esforço gasto para encontrar informações.
Equipes ágeis valorizam a conversa e por isso trazem o cliente para perto, não devemos perder tempo lendo páginas e páginas de um documento para encontrar uma informação que ao mesmo tempo por estar na forma escrita muitas vezes são imprecisas e pode trazer mais dúvidas do que resolver o problema.

Princípio #2 – Qualidade embutida
Qualidade é inegociável. Entregue qualidade intrínseca e explícita aos seus clientes, se eles perceberem isso, significa que foi uma entrega de qualidade. Mary e Tom Poppendieck em seu livro identificaram duas dimensões de integridade: integridade percebida e integridade conceitual. A integridade percebida significa que a totalidade do produto alcança um equilíbrio entre as funções, usabilidade, confiabilidade, economia e isso encanta o cliente. A integridade conceitual significa que os conceitos centrais do sistema de trabalho em conjunto são facilitados e coesos. Essa última é fator crítico de sucesso para a integridade percebida.

Um produto possui integridade percebida quando o cliente o experimenta e diz: Isso! Era exatamente isso que eu queria! Software com integridade possui boas arquiteturas, possuem um alto nível de usabilidade e facilidade de uso, são fáceis de dar manutenção, de adaptar e de estender.

Dicas:
• Não verificar a qualidade só no final, verificar durante todo processo e também toda equipe testa!
• Quanto antes um problema é verificado mais barato ficará
• Foco na prevenção, não na verificação no final do processo - Ao invés de se esforçar para gerenciar defeitos, evite-os.
• "Logar" defeitos é desperdício, corrija-os imediatamente.

Práticas sugeridas para promover a qualidade:
• 4 quadrantes de teste
• TDD - Test Driven Development
• Refactoring
• Integração contínua
• Code review / code inspection
• Standards
• Testes contínuos e automatizados

Princípio #3 – Criar conhecimentos
Desenvolvimento é um exercício de descoberta, enquanto produção é um exercício de reduzir a variação. Desenvolvimento é como fazer uma nova receita, enquanto produção é como fazer um prato. Receitas são formuladas por chefes de cozinha experientes que de certa forma desenvolveram habilidades e capacidade de combinar os ingredientes disponíveis para produzir o prato desejado. Desenvolver uma receita é um processo de descoberta, até os chefes mais experientes produzem diversas variações de um novo prato, fazem iterações, experimentações, até encontrar a melhor combinação de ingredientes que resulte em um prato rápido e sabor agradável. Não se espera que os chefes obtenham uma receita perfeita de primeira; espera-se produzir diversas variações como parte do processo de aprendizagem. Desenvolvimento de software é melhor concebido se este fizer parte de um processo de aprendizado similar ao de criar uma nova receita. A melhor abordagem para melhorar o ambiente de desenvolvimento de software é pela expansão do conhecimento.

Práticas sugeridas para promover o conhecimento:
• Ciclos de feedback e inspeções e adaptações;
• Desenvolvimento iterativo;
• Equipes pequenas e cross-functional;
• Treinamentos e Mentoring;
• Criação e utilização de standards, guidelines e qualquer outro artefato;
• Code Reviews;
• Meios de compartilhamento de informações como um Blog ou Wiki;

Princípio #4 – Adiar decisões / compromissos
O principal conceito deste princípio é diminuir as incertezas retardando as decisões até que possam serem feitas com base em acontecimentos mais firmes, previsíveis e conhecidos. Decisões tardias tendem a ser mais acertadas porque as melhores decisões são feitas baseadas em fatos, e não em suposições ou especulações. Uma estratégia chave para adiar decisões/comprometimentos quando desenvolvendo um sistema complexo e com muitas incertas é usar a capacidade e práticas que permitam abraçar as mudanças tardiamente.

Práticas sugeridas para adiar compromissos:
• Iterações
• Planning meetings
• Behaviour/Feature Driven Development
Outros

Princípio #5 – Entregar rápido
Sem entregas rápidas não é possível colher feedback. Sem entregas rápidas não é possível aprender com erros. Velocidade na entrega garante que o cliente receberá o que ele precisa hoje e não o que ele precisava ontem.

Práticas sugeridas:
• Pull System - Kanban
• Iterações
Seja simples

Princípio #6 – Respeitar as pessoas
Envolver os desenvolvedores nos detalhes das decisões técnicas é fundamental para o atingimento da exelência.

Dicas:
• Um ambiente que favoreça o desenvolvimento das pessoas.
• Uma empresa que respeita as pessoas, assim as pessoas irão respeitar a empresa

O Software produzido é como um espelho da equipe de desenvolvimento.
Para que as pessoas possam assumir responsabilidades, se sentir motivados e atuar como uma equipe eles precisam de confiança e de respeito.

Práticas sugeridas para promover o empowering do time:
• Auto-gestão
• Trabalho em equipe
• Feedback

Princípio #7 – Otimizar o todo
Otimizar desde o começo até o final:
• Utilize Métricas
• Diminua o número de métricas de desempenho individual mas valorize o desempenho da equipe.
• Meça para cima:
• Tempo de ciclo +Mapa de Fluxo de Valor
• ROI + Modelo de Lucros e Perdas
• Satisfação do Cliente + Entendimento das suas necessidades

Para tornar o seu processo ágil, pense Lean!
Mas lembre-se Lean requer uma mudança da cultura e dos hábitos organizacionais para que esta possa usufruir das melhorias de performance que um processo enxuto pode proporcionar.

É UMA MUDANÇA DE MENTALIDADE E COMPORTAMENTO!

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