Leitura e Reflexão: um refúgio do algoritmo
Vivemos tempos acelerados, em que a modernidade é marcada pela superabundância de estímulos instantâneos, likes e vídeos curtos que oferecem doses rápidas de entretenimento. O tempo, que antes era dedicado à reflexão e ao aprofundamento, parece agora comprimido por algoritmos que valorizam a velocidade em detrimento da profundidade. Nesse cenário, a leitura, a literatura e seus diferentes gêneros – como poesia, prosa, conto, crônica, ensaio, romance, história, filosofia, teatro, épica, ficção científica, fantasia, horror, biografia e autobiografia – tornam-se atos revolucionários.
A cultura atual do imediatismo, moldada pelas redes sociais e pela gratificação instantânea, nos condiciona a consumir conteúdo superficial e a buscar respostas rápidas. Essa mentalidade de urgência muitas vezes nos afasta da profundidade e do significado. Por isso, é vital cultivar o hábito de separar um tempo diário para ler e refletir. Esse tempo é uma pausa necessária em meio ao caos, uma oportunidade de nos conectarmos com ideias que exigem calma e atenção para serem compreendidas. Reservar esses momentos é, na prática, um ato de autocuidado e resistência, essencial para o fortalecimento do pensamento crítico e da criatividade.
A leitura exige tempo. Não é possível absorver um texto complexo em segundos, tampouco compreender as nuances de um poema, a profundidade de um romance ou a densidade de uma obra filosófica sem entrega. Cada gênero literário, com suas características únicas, contribui para o desenvolvimento do pensamento crítico, da empatia e da criatividade.
Estou me formando em psicanálise, mergulhando nos textos de Freud, com ideias que possuem mais de um século e que demandam uma leitura reflexiva, pausada e analítica. Essas obras exigem tempo para serem deglutidas e compreendidas em profundidade, dialogando com questões humanas universais. Paralelamente, considero essencial a leitura de romances, como minha leitura atual das obras de Mia Couto, que trazem um universo rico em histórias, sensibilidade e poesia. Esse equilíbrio alimenta tanto o intelecto quanto a alma.
A literatura, em todas essas formas, desafia o imediatismo e nos convida ao exercício da empatia e do pensamento crítico. É na análise pausada de um texto – seja ele um ensaio reflexivo, uma narrativa ficcional ou uma epopeia grandiosa – que encontramos a oportunidade de amadurecer ideias, questionar certezas e dialogar com as vozes do passado e do presente.
Refletir é ir além do ato de consumir informações. Na sociedade do consumo rápido, refletir é resistir. É permitir que as ideias se depositem e fermentem, como o bom vinho que se aperfeiçoa com o tempo. A literatura, com sua diversidade de estilos e gêneros, nos oferece ferramentas para isso: o romance expande nossa compreensão do outro; a poesia sensibiliza e provoca introspecção; os textos históricos e filosóficos ampliam nossa visão de mundo; o teatro nos conecta à coletividade; e os gêneros fantásticos e de ficção abrem portas para a imaginação e a crítica social.
Por isso, a leitura, a literatura e a reflexão se tornam ainda mais urgentes. Precisamos recuperar o hábito de analisar, criar contrapontos e debater, pois é nesse movimento que se constrói o pensamento crítico e a verdadeira liberdade intelectual. Se não tivermos tempo para refletir, seremos reféns de narrativas prontas, de superficialidades que não suportam o peso das grandes questões da vida.
Na modernidade encharcada de efemeridade, a leitura e a literatura oferecem um espaço para o amadurecimento. Elas não prometem respostas rápidas, mas sim perguntas necessárias. E é nesse ritmo mais lento, quase subversivo, que reencontramos a profundidade perdida. Cultivar o hábito de ler e refletir, explorando os diferentes estilos e gêneros literários, é um ato de resistência contra a superficialidade, uma forma de resgatar o que há de mais humano em nós: a capacidade de pensar, sentir e transformar.