LER SALVA E LIBERTA
Cinquenta e quatro por cento dos brasileiros não estão nem aí para os livros. O preocupante dado foi publicado hoje (19) na edição de 2024 da “Pesquisa Retratos da Leitura”, o mais completo e esclarecedor documento sobre os hábitos de leitura do ex-país do Carnaval, da cachaça e do futebol, tornado paraíso das bets, da cerveja gringa, dos festivais de música de gosto duvidoso, das tretas das redes sociais. Em 2015, éramos 104,7 milhões de leitores. Em 2019, 101,1 milhões, e, neste ano, 93,4 milhões de heróis da resistência. A informação de que mais da metade da população sequer olha para a capa de um livro serve (ou deveria servir) de alerta: o Brasil nada de braçadas na direção do pântano da ignorância literária. Se é fato que “um país se faz com homens e livros”, estamos ferrados. Se é fato que “bendito o que semeia livros, livros a mancheias e manda o povo pensar”, estamos pra lá de Marrakesh, manietados pelas armadilhas das “telas”. O Capital e seus representantes nas três esferas do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) desde muito estão empenhados em evitar a libertação do povo por meio do conhecimento. Ler livros faz pensar e transforma escravos em pessoas libertos – homens e mulheres. Mais prudente – concordam testas de ferro do poder – é mantê-los na cegueira: – Vá que tomem gosto pela literatura e comecem a raciocinar e, a partir daí, descobrem o quanto são manipulados, enganados, explorados! O Governo Lula deveria tomar para si a missão inadiável e necessária de criar mecanismos públicos de fomento à leitura de livros – se é que pretende se empenhar ativamente na formação de novas gerações de brasileiros pensantes e, portanto, livres. A atual administração federal poderia tomar iniciativa semelhante à do governo português: lá, desde o início de novembro, os jovens nascidos em 2005 e 2006 recebem 20 euros (cerca de 120 reais) para investirem no “poder transformador da leitura”. A ação em benefício da propagação da literatura já resultou, por exemplo, na adesão de 200 livrarias espalhadas por Portugal. Diante dos lamentáveis índices de “analfabetos literários” é hora de o poder público agir e incentivar o gosto pelo livro e a leitura. Se não, o Brasil nunca passará de um projeto de nação, formado por gente obtusa e manipulável. Mas não é exatamente esse o plano, há séculos? Que o futuro me desminta!