As lições de insolvência que a história nos ensinou e não foram compreendidas: O curioso caso Yamada.


A crise instaurada em nosso país aos poucos começa a insurgir nas premissas de estudo de analistas financeiros, da constante preocupação com apresentação de números e dados, bem como, estudos de viabilidade, provisionamentos, análise de riscos e oportunidades e a reinvenção de camadas institucionais para ao menos, amenizar eventuais transtornos e o afastamento de uma eminente insolvência.

Para tanto, vários cases começam a ganhar forma, principalmente, o de empresas antes vistas como de administração familiar. Hoje em Belém do Pará, muito se diz sobre o presente e o futuro de empresas que configuram-se nesse aspecto, como Grupo Visão e Yamada, cada qual em seu segmento e ainda envolto em mistérios do destino que as mesmas tomarão. Todavia, esse entrave precisa ser diluído em dados históricos e bem antigos, que nem com uso do Benchmarking negativo se fez solucionador. Em meados da década de 60, o varejo brasileiro se viu em crescente expansão mediante surgimento de lojas de departamentos. Nesse ponto histórico, surgia em vanguarda empresas como Mesbla, Mappin e porque não, Yamada. Suas estruturas robustas e de maciço formato de expansão "tomaram corpo" e de agradável retorno aos consumidores à época.

Entretanto, fatores externos à organização como, crescimento da concorrência, deliberação de mercado, carga tributária, obrigações acessórias e detalhamentos contábeis passaram a ser fatores exponenciais na tomada de decisões. A perda de foco vinculado ao projeto de expansão, como criação de crediário próprio e de atividades secundárias diferentes do que possibilitara seu crescimento passaram a ser vitais para a saúde financeira da empresa.

Pouco se sabe sobre os critérios de avaliação de estoque, turn over financeiro e retorno sobre investimento de tais empresas, o que não causa estranheza a toda uma sociedade acostumada com a marca consolidada por anos de atividades bem sucedidas e exercícios financeiros que impossibilitam analisar com clareza, fatores que possam ter insurgido na tal crise financeira.

A notícia que corre pelo mundo financeiro no Estado, é que a dívida com a União é no tocante a pouco mais de 57 milhões de reais, onde grande parte trata-se de débitos previdenciários. Com isso, outros fatores passam a ser de relevante análise, pois a mesma possui patrimônio e ativos circulantes de longo prazo que poderiam dar ensejo a negociações, parcelamentos, alienações ou qualquer que seja outro mecanismo financeiro, para ao menos, prover ciclo de estoques em suas operações e de evidente usura sobre seus rendimentos, que corroboram para a desconfiguração de uma marca consolidada no mercado local.

Ao analisar a estrutura de CNAE´s da empresa, nota-se uma variedade de corebusiness, que transcorreriam em um leque de estruturas tributárias, obrigações acessórias, detalhamentos contábeis e diferentes formatações de estudo financeiro para que atenda às demandas individualmente, como o controle de atividades vinculadas ao varejo em lojas de departamentos, concessionária de motocicletas além de segmento de fomento e crediário. Por conta disso, o período histórico vinculado ao início da crônica, pois muito se assemelha ao período de declínio da Mesbla. Obviamente, não deve-se ater a isso, o motivo crucial para o aparente fim de uma longa jornada de atividade, pois apenas vemos o que está por trás da "cortina de fumaça".

Não é notório que tenham ocorridos planos de sustentação financeira, como planejamento tributário e/ou societário, análise de mercado, reinvenção do core business, ou negociação com fiscos e fornecedores, fato é, que esta familiar empresa, pioneira por essas bandas do País em gerenciamento de crédito e facilidade de poder de compra de classes menos favorecidas financeiramente, apresentam gôndolas vazias e de extrema preocupação por parte de seus colaboradores que ainda possuem certa desconfiança do futuro da empresa e porque não, do seu futuro próprio.

A história passa a ser cruel, porém, evidente em ensinar caminhos a percorrer ou evidente falhas no gerenciamento de crise e de inquietude financeira. Foi assim que a Varig e Transbrasil, no segmento aéreo ensinaram mas nunca assimiladas por Gol e Tam, ou até mesmo, entidades na área de educação engolidas pelo Grupo Kroton e Estácio,a Mappin e Mesbla com seus cases de falência não introduzidas no cenário atual, assim como nos segmentos de telefonia, como a Intelig que após ser adquirida pela italiana Tim, que não pode se equiparar com a força de marcas consolidadas mas que não possuíram cadência em sua administração financeira, como a Oi.

A história parece nos mostrar como a falta de estruturação financeira, planejamento, uso de ferramentas de gestão, contabilidade gerencial, provisionamentos e o benchmarking, além do core business bem estruturado e que possa dar vazão financeira e ciclo comercial atuantes e bem coordenados possam andar nessa contra mão da crise, como startups, segmentos de beleza e tecnologia em aplicativos. Ainda sim, ficam os questionamentos de como uma empresa aparentemente consolidada em um determinado cenário, em leal e vitoriosa concorrência  à empresas multinacionais possa estar sob intensa vigília de seu futuro e de suas atividades empresariais?

A história nos mostra que os erros podem ser reduzidos ou previstos, bem como, a reinvenção a fatores externos e poder de decisão menos conservador a atual conjuntura podem estar fadadas ao fracasso, caso as análises frias dos números e dados, não servirem de arcabouço para tomada de decisões.


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