Lições do “corona mode”
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Lições do “corona mode”

Março virou o mundo de cabeça para baixo. Tudo aquilo que tínhamos como certo de repente sumiu, desde compromissos pessoais, rotina e, claro, negócios.

Nesses 20 dias (considerando que efetivamente a situação atual se instalou após 16/3), apesar de tudo estar “parado”, a verdade é que muita coisa aconteceu, mais do que quaisquer outros 20 dias na história de todos nós.

De repente, nos vimos obrigados a repensar o modo de trabalho (home office, e olha que funciona bem!) e mesmo negócios inteiros. Ainda é cedo para ter uma visão mais ampla de tudo isso, até porque tudo indica que estamos longe do fim, mas compartilho com vocês minhas impressões, sob o âmbito dos negócios.

Adaptabilidade e resiliência: é incrível a nossa capacidade de adaptação. Restaurantes criando deliveries do dia para a noite, bem como soluções inovadoras como vouchers com desconto para usar após a crise. O mundo descobre efetivamente as ferramentas de comunicação online, mostrando que a digitalização estava pronta do ponto de vista de tecnologia e infraestrutura, mas distante ainda do ponto de vista do amplo uso por todos. Governos se mobilizam para aportar recursos até então inexistentes, postergam pagamentos de impostos e criam medidas que flexibilizam significativamente as leis trabalhistas. E a gente se força a mudar o mindset rapidamente, estudando novas soluções, ideias e negócios. De certa forma, vivemos continuamente em um mundo cômodo, normalmente pouco influenciado por disrupções como a que estamos vivendo.

Colaboração e protagonismo: nada como uma crise para que as pessoas dentro do negócio passem de fato a colaborar mais entre si, buscando soluções em conjunto. Também, percebe-se nesses momentos quem assume o protagonismo, quem não se entrega, vai atrás do novo e encara a dificuldade de frente. Uma lição muito interessante para os gestores e líderes. Como ouvi outro dia, é o momento de separar os “homens” (“mulheres”) dos “meninos” (“meninas”). É o momento de aflorar o melhor de nós mesmos, a essência daquilo que somos capazes de fazer, muitas vezes dormente na comodidade do dia a dia.

Tempo livre: mesmo que seu negócio tenha sido menos afetado ou que, no espectro oposto, sua empresa  esteja correndo atrás do prejuízo, o fato é que com menos viagens, reuniões improdutivas, agendas de terceiros, etc, muito provavelmente as lideranças estão com mais tempo livre. Um tempo valioso, um verdadeiro presente sob este aspecto. Enquanto tudo parece parado, temos uma oportunidade enorme de repensar aspectos do negócio, da gestão, do futuro. Quem aproveitar bem esse momento, tem enorme chance de estruturar seu negócio de uma maneira completamente diferente, e melhor. É a chance da lagarta se tornar uma bela borboleta quando isso passar. Um momento que nunca provavelmente mais virá, diga-se de passagem.

Revisão de processos e custos: em um call com um cliente nesta semana, ele me falou que resolveu por vídeo-conferência um problema que, em tempos normais, demandaria uma viagem internacional. Certamente, o isolamento vai nos fazer repensar muitas práticas tidas como imutáveis, ao perceber que é possível, remotamente, resolver muita coisa que antes demandaria gasto em tempo e dinheiro. Nesse processo, haverá revisão efetiva de todos os custos, focando naquilo que de fato entrega resultado.

Novas ferramentas de aprendizado e comunicação: Além de máscaras e álcool gel, um dos poucos negócios beneficiados pelo isolamento são as plataformas de víde-conferência (Zoom que o diga) e aprendizado online. Nossa plataforma de treinamento online no agronegócio, o EducaPoint, quase triplicou o número de cursos assistidos, e mesmo após o fim do isolamento em algum momento futuro, as pessoas terão tido uma enorme oportunidade de ver que é possível se capacitar em plataformas online, criando a partir daí rotinas que incluam esse item (o maior problema da capacitação online é a automotivação para participar). O mundo, enfim, não será o mesmo depois disso. Já não é!

Propensão ao risco: em um mundo que inova cada vez mais rápido, as empresas precisam ter maior propensão ao risco. Testar coisas novas e não punir caso não funcione. Isso, porém, não é a realidade na maior parte das empresas, sendo mais uma aspiração do que prática corrente. O corona mudou esse processo. Os negócios estão tendo que buscar novos caminhos e a inovação passa a ser, de fato, estratégia de sobrevivência. É bem provável que teremos negócios que serão pivotados a partir desse episódio, talvez com maior sucesso do que antes.

Oportunidades: sempre existem oportunidades. Enquanto muitos estão ainda meio nocauteados, sem saber de onde veio o soco, é hora de aguçar o faro e olhar para o mercado. Como está a situação de nossos parceiros de negócios? Como estão pensando nesse momento? O que temos hoje e que podemos oferecer para nossos parceiros? O que não temos mas que com poucos ajustes conseguimos ter, e rápido? Fazer a leitura rápida do mercado, se aproximar efetivamente do cliente/parceiro e construir com ele a solução pode gerar muitos frutos.

Objetividade e honestidade: não há mais tempo para ineficiência, negligência e procrastinação. Perdemos essa gordura! Também, o momento é de trazer para os negócios a honestidade radical: encarar a verdade como ela é, e construir a partir dela.

Serenidade nas decisões: há negócios mais afetados e negócios menos afetados. Há empresas com mais caixa e empresas com menos caixa. Estes aspectos precisam ser analisados na hora de tomar decisões. Claro que, se a situação for realmente crítica, é preciso agir, e rápido. Mas gosto bastante da frase “nunca tome uma decisão importante depois de um dia muito ruim, ou muito bom”. A chance de você se arrepender é grande, principalmente se tomar medidas que afetarão o negócio no médio prazo (demissões, adiamento de projetos críticos, etc).

Presença da liderança: mais do que nunca, a liderança precisa estar presente, ajudando a apontar caminhos, estando mais perto do time (apesar do isolamento), tranquilizando as pessoas quando precisa tranquilizar e, ao mesmo tempo, sendo 100% transparente sobre a situação do negócio e suas possibilidades futuras.  

Analisando esses pontos, ainda preliminares, sem dúvida, fica a clara sensação de que as empresas que saírem dessa, sairão mais fortes, pensando mais longe, com times mais unidos e com maior flexibilidade para navegar em momentos de crise ou mudanças no mercado (não como essas, espero!). E talvez com novos negócios rodando. E, fica indagação: por que mesmo não somos assim o tempo todo?

Paradoxalmente, o “corona mode” pode trazer muitas vantagens para quem souber aproveitar a crise para estruturar a mudança de patamar que poderá vir disso tudo.


Michel HR Santos

SENIOR DIRECTOR, GLOBAL SUSTAINABILITY, at BUNGE LIMITED

4 a

Gostei do positivismo, em meio a tanta notícia nao promissora. Aproveitar qualquer crise para poder-se sair mais forte sempre foi a chave de sucesso.

Excelente reflexão Marcelo! Sempre avante! Sucesso!

Daniela Alves dos Santos

Veterinária especialista em qualidade do leite cru/ Indústria/ Fazendas. Auditora de BPA. Liderança e treinamentos.

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Marcelo, ótima perspectiva para visualizarmos durante essa turbulência nossa capacidade de solucionar problemas e criar novas oportunidades!

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