LIÇÕES DO PLANEJAMENTO DE OBRAS PARA APRIMORAR A GESTÃO EM ESCRITÓRIOS DE ENGENHARIA E ARQUITETURA
OBJETIVOS
Embora o propósito último de qualquer empreendimento na indústria da construção civil seja a conclusão da obra para a sua utilização pelo usuário, é essencial destacar a diferenciação dos objetivos entre as fases de Projeto Design e Execução da Obra. Enquanto a obra se concentra na materialização de uma edificação ou outro objeto concreto, o Design busca a solução que, no futuro, se transformará na obra concretizada. Dessa forma, o design direciona seus esforços para algo ainda não tangível. Esta distinção é crucial, pois serve como alicerce para a compreensão que será desenvolvida ao longo deste artigo.
OBJETO TANGÍVEL X INTANGÍVEL
No contexto da execução de serviços em uma obra, o entendimento é facilitado pela tangibilidade dos resultados. A clareza do produto final torna a compreensão e, por conseguinte, a mensuração, uma tarefa mais direta. Por exemplo, ao considerar uma pintura, que é um elemento bastante concreto, é implicitamente compreendido que houve a utilização de um pintor, tinta, lixa, entre outros materiais específicos. Essa materialidade proporciona uma percepção mais palpável e intuitiva dos elementos envolvidos no processo construtivo.
No contexto do projeto design, a obtenção dessa mesma compreensão torna-se desafiadora, dada a complexidade de realizar uma espécie de "engenharia reversa". Para ilustrar esse desafio, consideremos um serviço de projeto design específico, como a concepção volumétrica de uma edificação. Como exatamente essa atividade foi executada? Quem foi o responsável por isso? Foram utilizados equipamentos específicos? Como é possível mensurar esse processo criativo e conceitual? Estas são questões que ressaltam a natureza abstrata e intangível do projeto design, tornando a análise e a quantificação menos diretas do que as associadas à execução física de uma obra.
OBRA
De maneira concisa, podemos compreender uma obra como uma sequência de atividades que, quando concluídas, resultam em um propósito específico, como a construção de uma edificação. Dessa forma, se a compreensão dos serviços individuais é clara, a percepção e mensuração da obra como um todo se tornam mais acessíveis. A complexidade emerge na precisão do planejamento e na execução coordenada de todas as atividades, mas é evidente que os serviços envolvidos ainda são conhecidos.
COMPOSIÇÃO DE SERVIÇO (OBRA)
O planejador e orçamentista não apenas visualizam os serviços de maneira abstrata, mas também consideram todos os elementos essenciais para a execução de cada serviço. O desfecho dessa análise é denominado "Composição de Serviço", abrangendo todos os elementos que compõem o serviço, delineando tudo o que é necessário para sua realização completa. Alguns atributos que são obrigatórios estar presente nas Composições de Serviço, que são: mão de obra, equipamento, material e outra composição de serviço.
MÃO DE OBRA (OBRIGATÓRIO)
A mão de obra é um elemento indispensável para a execução de qualquer serviço, uma vez que não há serviço realizado sem a participação de colaboradores. Continuando com o exemplo da pintura, a mão de obra se refere ao profissional responsável pela execução do trabalho, ou seja, o pintor.
EQUIPAMENTO
Os equipamentos representam um componente essencial na execução de serviços, sendo imprescindíveis para diversas tarefas. Tomando como exemplo o processo de pintura, o equipamento associado seria o conjunto de ferramentas e maquinário utilizado, como misturador, compressores de ar, entre outros. Assim como a mão de obra é essencial, a presença adequada de equipamentos adequados desempenha um papel crucial na eficiência e qualidade do serviço prestado.
MATERIAL
Além da mão de obra e dos equipamentos, o material é outro elemento fundamental para a execução de qualquer serviço. No contexto da pintura, os materiais referem-se às substâncias utilizadas no processo, como tintas, solventes, lixas e outros insumos específicos. A escolha e qualidade dos materiais desempenham um papel crucial na durabilidade e estética do resultado final, destacando a importância de uma seleção adequada para atender aos requisitos do serviço. Em resumo, a combinação harmoniosa entre mão de obra qualificada, equipamentos apropriados e materiais de qualidade é essencial para o sucesso de qualquer empreendimento.
COMPOSIÇÃO DE SERVIÇO
Dentro de uma estrutura de Composição de Serviço, é viável incluir subcomposições, cada uma delas podendo conter elementos distintos como material, mão de obra e equipamento. Essa hierarquia permite uma organização mais detalhada e granular dos componentes necessários para a execução de um serviço. Contudo, é importante destacar que a única restrição é que uma composição de serviço interna não pode ser a mesma que a composição de serviço externa, para evitar ciclos infinitos na estrutura. Essa abordagem proporciona flexibilidade na descrição detalhada de tarefas complexas, permitindo uma compreensão mais precisa e hierárquica dos elementos envolvidos.
RECURSO
Os planejadores que abordam o planejamento de maneira mais tradicional podem utilizar a terminologia de "recurso", referindo-se a uma atividade que consome conjuntos de material, mão de obra e equipamento. Embora essencialmente equivalente, essa abordagem destaca a consideração dos recursos de uma maneira mais holística. Um aspecto interessante dessa perspectiva é a análise da escassez de recursos, reconhecendo que determinados recursos, como um pintor, só podem ser alocados uma vez em um período específico. Em termos simples, um pintor não pode estar simultaneamente em dois locais distintos, destacando a limitação inerente à disponibilidade singular desse recurso.
PROJETO
Agora, surge a indagação: como adquirir uma compreensão similar à das composições de serviço de uma obra, mas no ambiente dos escritórios de projetos de engenharia e arquitetura? Para abordar essa questão, exploraremos o processo por meio de um serviço ubíquo em todos os escritórios de projeto, o "briefing com o cliente". Este consiste em uma conversa essencial para definir o escopo do projeto, tornando-se possivelmente o primeiro serviço a ser realizado nesse contexto.
COMPOSIÇÃO DE SERVIÇO (PROJETO)
Para exemplificar essa composição de serviço, apresentaremos uma versão hipotética. Caso seu escritório disponha de uma estrutura semelhante, é possível aproveitar a lógica desse modelo. Contudo, salientamos que não encontramos exatamente essa composição específica. Implicitamente, podemos conceber esse serviço como conduzido por um arquiteto, utilizando dispositivos como celular, tablet e um notebook durante uma reunião com um cliente.
MÃO DE OBRA (OBRIGATÓRIO)
A mensuração da mão de obra é padronizada em horas, fundamentada em diversas bases de dados como Sinapi, Tcpo, Sinduscon, entre outras. Portanto, para o Arquiteto, é coerente adotarmos essa mesma unidade de medida em horas. Nas bases mencionadas, por exemplo, a avaliação do trabalho de arquitetos ou engenheiros é realizada considerando a unidade horária.
EQUIPAMENTO
Na simulação desta reunião fictícia, o arquiteto utilizará os seguintes equipamentos: tablet, celular e computador. Algumas bases orçamentárias também incorporam a mensuração dos equipamentos em horas. Além disso, para uma precisão mais aprimorada na avaliação, certas bases adotam os conceitos de CHP (Custo de Hora Produtiva) e CHI (Custo de Hora Improdutiva). No contexto do CHP, as horas produtivas representam o tempo efetivo de uso do equipamento, enquanto as horas improdutivas abrangem períodos em que o equipamento está inativo devido a manutenção, revisão, entre outros. No decorrer deste trabalho, focaremos exclusivamente no CHP para facilitar a compreensão.
MATERIAL
O arquiteto não fará uso de nenhum material para essa reunião de briefing.
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COMPOSIÇÃO DE SERVIÇO
É relevante destacar a viabilidade de utilizar composições para representar a mão de obra, como no caso do Arquiteto. Ao analisar o Sinapi, por exemplo, a composição "ARQUITETO PLENO" engloba o insumo "arquiteto" juntamente com os encargos trabalhistas. A totalidade dessa composição representa o serviço completo do "ARQUITETO PLENO", podendo ser integrada à composição fictícia da reunião para o briefing.
RECURSO
A abordagem de considerar o recurso para essa situação é bastante intrigante, uma vez que durante a reunião, tanto o arquiteto quanto os equipamentos permanecem alocados. Nesse contexto, é possível explorar o conceito de escassez, indicando que, para essa atividade específica, estamos utilizando 100% desses recursos.
CONSTRUÇÃO DA TABELA BASE
OBRA
COMPOSIÇÃO DE SERVIÇO (BASES EXISTENTES)
A composição apresentada anteriormente foi extraída do SINAPI. Essencialmente, para chegar a essa conclusão, realizou-se um estudo no qual se quantificou, expresso no coeficiente (Coef), a proporção dos elementos necessários para a elaboração de uma unidade da composição, representada neste caso por M2. Portanto, seguindo a metodologia descrita na composição, para produzir um metro quadrado (m²) de massa acrílica, será necessário utilizar os itens identificados pela "Descrição" na quantidade especificada pelo Coef.
PROJETO
COMPOSIÇÃO DE SERVIÇO (BASES RARAS)
Conforme mencionado anteriormente, o gerenciamento de projetos no estilo design carece de bases de dados específicas para o planejamento e orçamentação. No entanto, isso não nos impedirá de explorar nossa proposta inicial. Nesse contexto, considere o desenrolar da reunião da seguinte maneira:
Esses quatro elementos já fornecem uma base sólida para a exploração de uma metodologia semelhante à adotada pelo SINAPI na composição de serviço apresentada na tabela anterior. A partir dessas informações, podemos agora avançar no cálculo para a criação da composição de serviço.
CÁLCULO COMPOSIÇÃO DE SERVIÇO (PROJETO)
UNIDADE DE CÁLCULO
Com base na metodologia adotada na grande maioria das bases de dados, a menor unidade de cálculo da composição deve ser 1. Portanto, devemos determinar a demanda de todos os itens para uma unidade. Neste caso, fica evidente que o elemento fundamental é o arquiteto, tornando sensato medir essa composição em horas (h). Assim, se a reunião teve uma duração de 2 horas, precisaremos calcular a quantidade para a menor unidade da composição, que é 1 hora. De forma reduzida, basta dividir tudo por 2, chegando então na tabela abaixo.
CONCLUSÃO
Este artigo não se propôs a atingir um cálculo perfeito para a elaboração de um briefing em uma reunião com o cliente. Isso porque os melhores planejadores e orçamentistas reconhecem que o planejamento e o orçamento são exercícios modelares, e não há um modelo perfeito, pois isso violaria a própria essência de um modelo. O foco aqui é ressaltar o que os setores de elaboração de projetos ou gerentes de projetos do tipo design podem aprender com as práticas bem-sucedidas no planejamento de obras.
Atualmente, há poucas ou nenhuma base de dados específica para os serviços realizados nos escritórios de projetos de engenharia e arquitetura. No entanto, isso não impede que esses escritórios organizem seus processos de forma a torná-los cada vez mais padronizados, permitindo comparações, medições e, eventualmente, tabelamento. Embora esse esforço possa parecer desafiador e, por vezes, como enxugar gelo, é crucial destacar que nossos colegas da obra já enfrentaram desafios semelhantes em um ambiente muito mais caótico que um escritório.
Imaginem a possibilidade de ter acesso a um "caderno de metodologias de serviços de projeto" ou a um "catálogo de composições de serviços de projetos" e "composições analíticas". É nesse sentido que a Timework acredita e trabalha incansavelmente para viabilizar!
Desejo a todos excelentes projetos.
"Aleatório é o nome que damos a um evento que ainda não conseguimos calcular."
Atenciosamente,
Eng. Civil Rodrigo da Silva Oliveira