LIBERDADE AINDA QUE TARDIA

LIBERDADE AINDA QUE TARDIA

Olhamos para o lado de fora e parece que seremos livres novamente. A sociedade está voltando a ser um pouco mais como era. Será? Depois de um ano e meio de lockdown, algumas pessoas com quilos a mais, outros sem o emprego, alguns com traumas e outros só com lembranças, o que mais desejaríamos é a nossa vida de volta, mas podemos seguir cantando a música de Lulu Santos – nada do que foi será.

Mesmo com o retorno das nossas liberdades, não devemos nos cegar para como os valores liberais foram prejudicados durante a pandemia e o reflexo que isso está nos causando. Se as tomadas de decisões nos últimos anos foram certas, vamos saber daqui para frente, pois na realidade nunca fomos questionados se tudo foi legítimo, muito menos, se poderia ter sido diferente.

Agora a vida está seguindo e o que ficará na lembrança é histórico, nada saiu só daqui, foi o mundo todo afetado, sacudido e transformado. Fico pensando quantas evoluções são fruto desse tempo, quantas formas e tradições foram substituídas pelo novo. Esse foi possivelmente o regime mais restritivo da vida pública das pessoas e das empresas na história.

Mais do que isso, ao impedir as pessoas de saírem de casa sem um motivo totalmente experimentado ou impor ações que não garantiriam resultados cem por cento certos e positivos, o lockdown inverteu a suposição comum de que as pessoas são livres para fazer o que quiserem a menos que a lei as proíba. A verdade é que supor que um experimento sem precedentes, implementado por imposição no controle de doenças simplesmente surgiria e desapareceria sem deixar rastros, seria muita ingenuidade. 

As autoridades rotineiramente confundem as orientações de lockdown com a lei. Tenho observado ultimamente uma falta de senso ao lidar com uma realidade que já se foi, e que agora, depois da experiência e de dados, as autoridades não conseguem repensar o problema. Guardas de estabelecimentos públicos e privados estão mau orientados, cumprindo atos de autoritarismo que seriam engraçados se não fossem tão aterrorizantes. Você pode rir se souber e ficar pasmo se viver. Mas nesta semana estava numa praça de alimentação sentada comendo o meu sanduiche tranquilamente e calma, certa de que ao me sentar e retirara a máscara o vírus não chegaria em minha mesa. Foi então, que me levantei, para olhar de longe meus filhos que estava na brinquedoteca e que meus olhos não conseguiriam enxergar, caso estivesse sentada. Ali, naquele mesmo metro quadrado recebi um “puxão de orelha” do “guardinha” pois estava sem a máscara. Então pensei: Será que o vírus sabe que estou sentada e comendo e isso inibe ele de chegar até mim? Será que o fato de eu estar levantada fará o vírus caminhar mais facilmente e adentrar em meu corpo? Ou não. Sinceramente acho que não. 

Acredito que uma situação desta seja lamentável, mesmo que eu ache certo o uso da máscara. Até mesmo sociedades liberais e democráticas às vezes precisam impor medidas para evitar um dano catastrófico. Ok sociedade! Vou confessar: Eu uso mascara e ando com álcool no meu carro por livre e espontânea vontade de me proteger e aos que estão a minha volta. Eu nem precisaria de um decreto para cumprir isso.


Mas esse fato me fez ter a certeza de que tudo o que vivemos na pandemia só nos mostrou sobre a fragilidade da defesa dos valores liberais neste país, e como são poucos os defensores que esses valores têm na política e em posições de influência. Quase não houve ceticismo, quase não houve reação ao que estava acontecendo, quase nenhuma exigência por responsabilização ou proporcionalidade em resposta a medidas tão autoritárias e tantas vezes irracionais.  


Não acredito que teremos outro loockdown, mas uma coisa é certa, os poderes autoritários têm o hábito de perdurar. Suspender liberdades civis, aumentar o poder policial, governar por decreto — não podemos deixar isso se tornar o modelo com o qual lidamos com crises, reais ou exageradas, no futuro. Precisamos desesperadamente liberar o debate sobre o lockdown e seus efeitos daqui por diante, liberar das amarras idiotizantes em que estamos confinados neste momento. E então precisamos defender que a liberdade não existe só nos momentos bons. Liberdade, ainda que tardia.


Uiara Pina

Pós graduada:ESG/COMPLIANCE E RELAÇÕES GOVERNAMENTAIS/ Certificação:COMPLIANCE/COMPRAS/EMBAIXADORA DA CIDADANIA

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Parabéns Rebeca. Esse relato é uma sensação de emoções ao ler e de muitas verdades ditas.

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