Liderança e a Responsabilidade do Tempo
Fonte: Needpix.com

Liderança e a Responsabilidade do Tempo

Este artigo não se trata de dar dicas de administração de tempo entre pessoas e processos. Longe disto. Quero provocar uma reflexão interessante sobre como o entendimento do tempo é essencial na liderança com seus impactos nas prioridades alinhadas das pessoas e dos negócios nas organizações. Talvez por conta dos pensamentos da maturidade, o tempo tem se tornado um ativo muito valioso para mim. Não muito por conta da idade em si mas pela atenção dada nas atividades do dia-a-dia e como essa dinâmica muito acelerada se encaixa nisso tudo. De fato, temos um terreno bem importante de atenção para líderes, principalmente aqueles que estão no setor de tecnologia que vive ondas distintas de investimento e restrição de recursos. E tempo tem sido um ativo bem restrito nos últimos anos.

Uma primeira reflexão é muito conectada com a responsabilidade em ser líder. Afinal, os objetivos existem, os resultados são esperados, mas quando numa posição de liderança, você não tem apenas responsabilidade com investimento de tempo que toca a você. Na verdade, quem faz parte de sua equipe depende de você para ter satisfação no que realiza, se sentir parte de uma evolução conjunta de entrega e se permitir crescer profissionalmente. Como mencionei no artigo Liderança de Times de Alta Performance – Keep It Simple, “Experiência não é tempo corrido, é tempo bem aproveitado”, tem um significado profundo quando se lidera, pois este ativo chamado tempo passa e não volta. A diferença está em realmente utilizá-lo da melhor maneira possível. E se tratando de pessoas, o desafio é criar muito bem um ambiente que referi no mencionado artigo para o objetivo de bom aproveitamento em prol do crescimento. Afinal, escolhemos formas produtivas na vida justamente para ganhar vivência que nos permita maior liberdade de escolha ao longo do tempo.

Na minha vida profissional tive líderes que realmente observavam isso com muita atenção, bem como tive líderes que nem imaginavam sobre essa responsabilidade. Talvez por não se darem conta que pessoas tem interesses e que a maneira como elas querem buscar seus resultados tem diferenças conceituais. E olha que sempre gostei das discussões e estórias sobre o que é sucesso, algo muito particular em cada um e que não necessariamente segue um padrão (apesar da sociedade sempre querer colocar um... bom, a depender de quem está querendo vender um livro de sucesso!)

Longe de querer criar polêmicas sobre essas definições de sucesso, o que sei como líder, é que é uma imensa responsabilidade projetar e ocupar o tempo de outras pessoas. E aqui vai uma notícia bem importante para quem quer liderar pessoas: você tem parcela de responsabilidade na vida das pessoas, principalmente no tempo delas. Queira ou não queira, no final do dia, liderar tem este peso que pode ser visto em vários ângulos.

Que pode ser algo muito poderoso para lidar com equipes pois aí tem um item de alinhamento com o negócio que é o FOCO. Esta outra reflexão permite trazer uma perspectiva estrategista do líder quando considera que seu time é um organismo que depende de outros recursos para viver e crescer. E monitorar o foco do que está sendo feito realmente tem impacto no investimento de tempo, pois as pessoas não são algoritmos ou máquinas. Elas precisam entender quão conectado o foco está com seus interesses e o tempo investido naquilo.  Elas precisam de argumentos que as motivem. Elas precisam de espaço para criação de novas formas de entrega.

Sempre que existe uma restrição de tempo (lembre-se, estamos num mundo que as prioridades mudam de forma muito rápida, logo, aquele tempo que você tinha ontem para realizar pode ser mais curto hoje), busco entender qual impacto terá no foco do time. Este simples exercício já me economizou tempo, por sinal. Pois exigir foco do time, exige do líder entender novos contextos, traduzir para a realidade que se busca, reconfigurar trabalhos em andamento e re-engajar o time nessa nova realidade. E estar atento a estes movimentos é essencial para que o foco seja mantido.

Existe uma certa tendência, dependendo da organização que você está inserido, que as respostas tem que ser muito rápidas às mudanças. Aqui entra um conceito de dualidade de REAÇÃO e PROATIVIDADE. A reação sempre necessária tem que vir de uma reflexão de como atuar proativamente para que o foco seja mantido. Por vezes, me coloquei em situações que tive que tomar decisões com peso forte na reação (o famoso “apagar incêndio”) que sempre vão dar certo pois fazemos nossos esforços em resolver um desafio não previsto ou que não estava planejado. Mas também não devemos abandonar o questionamento do porquê essa reação ser necessária. Ok, não temos controle, mas podemos antecipar algum movimento? Faltou algo na estrutura que não foi observado? Se ocorrer novamente, quais os padrões de comportamento indicam que teremos “incêndio”. E aqui entra uma atividade que me encanta realizar, principalmente nos últimos anos, que é uma reflexão de lições aprendidas. Creio que até daria um artigo sobre este processo que deveria ser visto por todo profissional não como um tribunal de julgamento de competências e erros. É um espaço de crescimento individual e coletivo em prol do foco que se deseja para um time. Puro exercício de maturidade.

Mas voltando para o tema de foco, sempre busquei avaliar a dinâmica de tempo num exercício de quadrantes sobre impacto daquele engajamento e o tempo investido para realizá-lo. Esta matriz mental ajuda nas minhas decisões quando temos mudanças ou mesmo naqueles engajamentos mais complexos que surgem, pois ambos criam um ambiente conectado com os interesses das pessoas, os propósitos apresentados e o foco que deve ser empregado. Além disso, sou tecnológo por profissão, então, nada mais adequado que usar matrizes!

Foco nos Impactos e Tempo Investido

Matriz dos Impactos e Tempo Investido


No eixo vertical, temos o grau de impacto daquela atividade, engajamento ou iniciativa. Impacto é uma palavra que pode conter diferentes significados para cada indivíduo ou organização. Tem um sentido temporal por conta do contexto que uma engajamento está inserido. Existe tambpem o sentimento de pertencer naquele processo, sabendo que trará crescimento na experiência profissional ou mesmo um resultado favorável. Aqui as dimensões devem ser ampliadas numa visão mais holística (a realização de um bom trabalho sem deixar de olhar para os números. Se preocupar com a geração do resultado sem deixar de olhar a mudança da realidade quando aquela atividade/engajamento/projeto for entregue). Ter essa visão ajuda na definição do grau de impacto. E uma boa avaliação coletiva sobre este grau é papel do líder. Ele tem que estar imerso nesta contextualização.

No eixo horizontal, existe o tempo investido onde existem os esforços e unidades de tempo carregadas na construção do engajamento. Neste caso, entram muitas variáveis como pessoas envolvidas, a experiência delas, o tempo planejado para sua realização de acordo com a complexidade.

Agora vamos aos quadrantes. E aqui não tem um ser melhor que o outro. Muito pelo contrário, a depender do grau de impacto e tempo investido, o foco dado é que determina a importância, o que na minha opinião é ótimo, pois se cria uma flexibilidade de expectativas e realizações entre as pessoas e o que elas estão realizando. Coloquei mesmo em estados (verbo ser) mas você interpreta da forma que quiser, pois não tem nenhum estudo acadêmico e também não é nenhum estudo de personas (na verdade, não tenho nenhuma pretensão aqui... é coisa de tecnólogo mesmo colocar as coisas em quadrantes!).

Ser Prático – foco em fazer bem o que se tem conhecimento e vivência e sabendo que impacto é menor. Este tipo de foco é muito interessante quando se quer experimentar com menor risco e se reconhece que uma jornada de engajamentos de alto impacto está por iniciar. É o tempo útil do experimento com total dose de execução.

Ser Aprendiz – esse aqui demanda uma boa dose de persistência em investir grande parte de seu tempo e de sua equipe para aprender. Aprender por si só é uma atividade qu se investe muito tempo e nada mais justo que dedicar uma boa parcela para somar conhecimento e prática. E aqui o foco é não desviar do processo de aprendizado, inclusive dedicando esforço a lições aprendidas em conjunto.

Ser Produtivo – é quando o total domínio da prática e da vivência entram em ação para atividades, engajamentos e projetos de alto impacto. Tem várias teorias do Ser Produtivo, mas o foco na entrega rápida assumindo riscos controlados é parte deste contexto. O líder aqui tem uma relação de confiança com o time de alto nível e o time também acredita muito no propósito.

Ser Criativo – é o mar não explorado de desafios. Cenários complexos que exigem soluções inéditas e muitas interações de erros e acertos. Juntar complexidade com aprendizado exige um auto-controle de todos. O papel do líder é viabilizar um ambiente de criatividade dentro das cobranças inerentes deste tipo de engajamento.

Você perceberá como líder que pessoas e engajamentos estão em diferentes quadrantes em momentos diferentes. Ter essa noção no dia-a-dia de sua equipe ajuda no entendimento de como o tempo está sendo aproveitado pelas pessoas ao seu redor. Ajuda a entender as expectativas das pessoas pois oferece uma visibilidade clara das variáveis de propósito e entrega. Sempre fique aberto a discutir isto com sua equipe. Esse já é um dos sinais que você realmente assumiu a responsabilidade sobre o tempo empregado por todos.


Karinn Dantas

Senior Account Brasil na TIM com expertise em soluções de TI customizadas

7 m

Muito interessante!! Salvo!!

Ivan Gardino, MBA

Director - LAD A-Team Oracle Cloud Data & Platform Specialists na Oracle

8 m

Tks pela contribuição inspiradora! Reflexão essencial sobre a gestão do tempo na liderança e sua influência nos resultados organizacionais... E a matriz dos impactos e tempo investido oferece uma abordagem estratégica e valiosa.

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