Liderança Feminina e Vulnerabilidade: Reflexões do CONARH 2024 sobre o Caminho para a Equidade

Quando fui convidada para o painel de Liderança Feminina e Pertencimento no CONARH edição de 50 anos, fiquei lisonjeada e preocupada. Afinal, é o maior evento de RH da América Latina, com um público selecionado e para falar sobre um tema tão importante.

O tema em questão, de liderança feminina, possui diversos aspectos. O primeiro deles é que muitas pessoas acreditam que não há mais nada a ser concretizado quando se trata desse assunto, porque já tivemos muitos avanços com mulheres ocupando o mercado de trabalho e posições de chefia.

No entanto, os dados dizem o contrário. Apesar das conquistas que tivemos ao longo dos anos, ainda há muito a ser evoluído para alcançarmos a equidade. Prova disso, são pesquisas como a realizada pela FIA Business School, que revelou que em 2023 apenas 38% dos cargos de liderança no Brasil eram ocupados por mulheres.  Desses cargos, somente 17% eram na presidência de empresas, segundo o estudo “Panorama Mulheres 2023”, feito pelo Talenses Group e Insper.

Ainda, chamo atenção para o fato de que mais de 80% das executivas brasileiras relataram, em uma pesquisa da KPMG, que encontram desafios significativos em suas carreiras devido ao seu gênero.

Tais dados nos mobilizam para a ação e mostram o quanto ainda temos barreiras para avançar na questão de liderança feminina.

Por isso, quando recebi o convite para o painel, aceitei decidida a trazer um aspecto realista e conscientizador de como é ser uma mulher em um cargo de liderança, além de falar sobre as iniciativas da Promon Engenharia que tem contribuído para um cenário com mais mulheres líderes.

Para isso, antes do evento, foram realizadas conversas prévias com minhas colegas painelistas, Eva Rosa Santos e Nelia DaLapa , conduzidas pela Paula Esteves , que foram ótimas para nos entrosarmos e entendermos um pouco melhor a respeito das nossas empresas e carreiras.  Foi todo um preparo para o evento, me reuni com meu time e levantamos os pontos relevantes da nossa empresa em relação ao tema, nossos programas, ações afirmativas, cultura e o link com minha trajetória profissional.

Eu tinha todo o conteúdo literalmente em mãos, quando subi ao palco com minhas colegas para iniciarmos o painel. Ao longo dele, mencionei boa parte das minhas anotações, demonstrando as melhores práticas da nossa organização, os meus desafios profissionais ao longo dos anos e a cultura incomum da Promon Engenharia. Contudo, em um determinado momento, deixei as anotações de lado, na mesa de apoio. E minhas colegas fizeram o mesmo.

A partir de então, dividimos com nossa plateia um lado que não é visível quando olhamos os dados, os posts das redes sociais, as publicações de RH, ou nosso LinkedIn, que muitas vezes podem nos trazer a falsa ideia de mulheres perfeitas, com carreiras de dar inveja.

 Humanizamos o assunto e trouxemos o que há por trás daquelas histórias, das trajetórias dessas líderes: a vulnerabilidade.

E foi isso que abrimos ali. Trouxemos o aspecto real de nossas vidas para ilustrar o que os dados já falam. Abordamos a importância de ter o apoio da nossa família, filhos, parceiros, ou ter uma rede de apoio. Seja para podermos fazer alguma transição de carreira, encarar um MBA, uma viagem de trabalho, ou aceitar um desafio profissional em outro estado ou país. Afinal, como já ouvi em algumas palestras, não há capa de mulher maravilha que suporte tudo isso.

Foi bonito ouvir que existem homens que apoiam a carreira das mulheres, que aceitam passar por adaptações, transições e que são, efetivamente, companheiros.

Conforme trocávamos nossas histórias pessoais, pela reação do público presente no painel, ficou claro para mim, que a realidade de uma boa parte das líderes femininas, assim como foi a minha, é bem distante do que vemos nas redes sociais. Isso porque além de lidar com os desafios profissionais (que não são poucos), precisamos lidar com os desafios dentro do lar, com a insegurança masculina, e com os preconceitos da sociedade e, por vezes, lidamos com o julgamento de outras mulheres a nossa volta.

Ainda lido com inúmeros desafios, mas em determinada parte da minha trajetória foi preciso mudar o rumo. Hoje somos eu, meus filhos e nossos cachorros, com toda a nossa dinâmica maluca, imperfeições, amor e medos, mas com uma leveza que eu não tinha sentido antes.

Saí desse painel revigorada e feliz, pois ao abrir a minha vulnerabilidade, acredito que consegui de alguma forma transmitir, que além das mudanças em nossos ambientes de trabalho, em nossas empresas, precisamos mudar os nossos lares. Ficarmos atentas em como estamos educando os nossos filhos. Pois é ali, em nossas famílias, que iniciamos todo o processo de mudança da sociedade, cortando pela raiz os preconceitos, os modelos engessados, inseguranças e vieses. É ali que podemos mudar o futuro das próximas gerações!

Sou grata por todas as mulheres que vieram antes de mim e abriram tantas portas para todas nós, como a participação nesse painel. Grata pela sororidade das colegas Eva e Neila, que compartilharam suas histórias com tanta generosidade.

Dedico este texto à mulher que foi e sempre será meu grande exemplo, Malú Gaspardo.

Gabriela Gaspardo Souza