Dizem que a organização limita a criatividade
Um dos mitos que vai prevalecendo é que metodologias de produtividade não se aplicam a personalidades criativas.
Existe esta ideia que um criativo só o é verdadeiramente no meio do caos, da desordem, da confusão… onde um estranho espaço de liberdade é criado e onde as ideias são permitidas a fluir sem obstáculos.
O que não é totalmente errado.
Mas o mais interessante é perceber que esse mesmo espaço de liberdade também pode ser criado com o método oposto, um de organização, estrutura e consequente liberdade. O que essas pessoas acabam por perder é também a liberdade, o estado de relaxamento, a possibilidade de concentração que só uma mente que está em paz consigo mesmo e com todas as áreas da sua vida consegue ter.
A existência de uma estrutura de apoio aos nossos pensamentos e objectivos não é obstáculo a mais ideias. Pelo contrário, essa estrutura pode ser, na verdade, uma forma de segurar e alimentar essas ideias de uma forma mais produtiva, e ajudar a que outras áreas/problemas/assuntos da vida não sabotem o nosso processo criativo quando mais precisamos dele.
Ao longo dos anos tenho tido a oportunidade de ajudar diferentes pessoas do ramo “criativo”, artistas, músicos, etc. E isto diz-me que, na verdade, não interessa o tipo de trabalho que se tem, sofremos todos do mesmo: o que fazer com aquilo que nos suga a atenção? O que fazer com aquilo que não nos deixar estar focados no que queremos fazer?
A metodologia Getting Things Done (GTD) cobre esses dois extremos: o do criador maluco e o do gestor sério. Ambos são importantes, ambos têm funções vitais em alturas diferentes. Ter uma estrutura que permita que ambos existam é uma mais valia para que as ideias se concretizem.
Adoro os momentos criativos em que me permito ter todo o tipo de ideias, por mais ousadas, arriscadas ou malucas que possam parecer. E é para isso que existe uma ferramenta que capta tudo isso (a caixa de entrada), sem julgamentos, sem pensar. Talvez no dia seguinte quando o meu “gestor” interno for olhar para elas e pensar seriamente e analisar cada uma, vá chegar à conclusão que grande parte delas são demasiado fora da realidade para as pôr em prática. Talvez outras sejam possível e talvez ainda outras possam ser adiadas para mais tarde, quando chegar uma melhor altura.
Naquelas que decido avançar, tenho um sistema e estrutura que apoia a sua concretização da forma mais eficiente possível. As que ficam adiadas para mais tarde, sei que estão guardadas, que posso rever e ir sonhando até ao dia em que queira que passem a fazer parte do meu presente. E as outras que descartei? Já libertei o espaço para ainda mais ideias.
Todas as dificuldades que se podem sentir a aplicar GTD às áreas da vida mais criativas (que todos temos), são facilmente resolvidas assim que se passa além da forma da metodologia e se percebe a sua essência.
E essa essência de GTD não se trata minimamente de “fazer coisas”, nem de “ser organizado e arrumado”. Trata-se sim de estarmos conscientes daquilo que está a ocupar a nossa vida a cada momento e de que forma nos sincronizamos e relacionamos com tudo isso. Com GTD, o objectivo não é passarmos a concluir muitas tarefas todos os dias. É sim estarmos confiantes que estamos a tomar as melhores escolhas a cada momento, escolhas que ressoam com quem somos e o que queremos. E claro, termos o espaço e liberdade mental para o fazer.
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