Lixo espacial, um problema espacial, ambiental e social
Com o lançamento do Sputnik I pela União Soviética em 1957, começou a chamada corrida espacial. Foi um período caracterizado pela disputa desta potência com os Estados Unidos objetivando explorar o espaço tanto com satélites como naves tripuladas. O Sputnik I cumpriu sua missão e após seis meses em órbita desintegrou-se ao reentrar na atmosfera. Em março de 1958 os EUA lançaram o Vanguard I, terceiro satélite artificial lançado por seres humanos. Em 2008, devido a uma sondagem, descobriu-se que mesmo desativado, este satélite permanece ainda em órbita. (CLARKE, 1968 apud RODRIGUES).
Mesmo sem entender o ambiente espacial, temos sérios problemas quanto a poluição. Problemas de ordem ambiental, social e espacial. A partir daí podemos ter uma noção do que é lixo espacial. A grosso modo podemos defini-lo como objetos artificiais que não possuem mais utilidade e continuam em órbita ao redor da terra. Possuem dimensões variadas de resíduo milimétrico à módulos de várias toneladas. O Comando Espacial da Força Aérea dos EUA monitora por volta de 23 mil objetos espaciais maiores que 10 cm, no entanto estima-se que cerca de 700 mil detritos menores circulam nas órbitas mais usadas e estas não são possíveis de rastrear.
Para que possa orbitar a terra, é necessário que os veículos espaciais atinjam velocidade da ordem de 30 mil quilômetros por hora, desta forma, qualquer objeto que se desprenda continuará na mesma velocidade. Qualquer objeto a esta velocidade pode causar grandes danos. Em 1983 o ônibus espacial americano Challenger teve uma janela atingida que apresentou rachaduras, quando de volta a terra descobriu-se que fora atingido por um fragmento de tinta microscópico que provavelmente se soltara de algum foguete lançado anteriormente.
Tal exemplo é um dos vários acidentes que ocorreram ao longo da história da exploração espacial. Em novembro de 2008 por exemplo a situação se tornou mais dramática. Os astronautas da ISS tiveram de abandona-la e se refugiarem em uma capsula devido ao risco de colisão com um detrito que passou pouco mais de 100 metros de distância. Se o alerta tivesse sido dado mais cedo seriam feitas manobras para desviar da rota do objeto errante como ocorreu em outubro de 1999 em que foi acionado os motores elevando a ISS em 1,6km. Após 10 minutos os astronautas retornaram e o pior não aconteceu.
Pode-se perceber com este relato que os resíduos espaciais são altamente danosos para a própria exploração espacial. Com o aumento no lançamento de espaçonaves os detritos tornam-se assunto de maiores preocupações sendo que caso ocorra uma colisão, o numero de detritos aumentará. Em 2007, por exemplo, a China em um teste de Arma Antissatélite explodiu um de seus próprios satélites que estava desativado e houve criação de mais de 1600 pedaços rastreáveis(aproximadamente do tamanho de uma bola de golfe) (RODRIGUES).
Muitos destes detritos voltam a terra, como o Sputnik I, e se desintegram devido a densidade da atmosfera, desta forma um observador desavisado ao ver uma estrela cadente fora de época pode ter avistado um “parafuso cadente” (SOBREIRA, 2005). Apesar disso destroços maiores podem atingir a superfície vindo a causar impactos de ordem social e ambiental.
Em março de 1978, por volta das 1h30min da madrugada houve um fenômeno luminoso no céu do Rio de Janeiro. Trata-se se um estágio de um foguete soviético. Se esta reentrada tivesse ocorrido minutos depois, teria caído na região urbana do Rio provocando inúmeras mortes, e não no Atlântico, como ocorreu (RODRIGUES). Dados da NASA mostram que detritos espaciais atingem a terra todos os dias nos últimos 40 anos, como já mencionado, muitos se desintegram alguns, no entanto atingem a superfície em áreas pouco populosas como a Sibéria, ou em oceanos.
Até agora não houve vítimas fatais, no entanto é apenas questão de tempo. Em um cenário não muito distante é possível que corra a Síndrome de Kessler, proposta pelo consultor Donald Kessler em que segundo ele haverá um momento que os detritos ao redor da terra impossibilitaram as explorações espaciais. O número de lixo já existente colide-se e formam cada vez mais fragmentos até que estejamos envoltos em um cinturão de lixo espacial. Sem os satélites não teríamos transmissão de dados inviabilizando a comunicação. Os programas espaciais entrariam em colapso (RODRIGUES).
Além desses danos, ao reentrar na atmosfera, um outro problema é a queda de satélites com substâncias tóxicas. Em janeiro de 1979, o satélite soviético Kosmos-954 que carregava um reator nuclear para alimentar seu radar caiu próximo ao lago dos escravos no Canadá. Muitos satélites possuem gerados nucleares que caso se desintegre na atmosfera podem espalhar o material radioativo ou ainda caso atinja a superfície pode contaminar o solo e a água. Além da terra, este lixo pode chegar também a outros lugares do sistema solar. Há cerca de 144 naves ou parte delas na Lua, Marte, Saturno e até mesmo nos confins do sistema solar como a Voyager 1 (SOBREIRA, 2005).
Embora possa passar despercebido, o lixo espacial é a questão mais crítica em matéria de proteção e segurança do espaço (MONSERRAT, 2015). E duas questões são apresentadas a fim de solucionar tais questões: Mitigar a produção de detritos como recomendam as Diretrizes Para Redução dos Detritos Espaciais ou remover os maiores monturos prevenindo mais colisões. Darren McKnight, engenheiro norte americano afirma que a primeira solução não é suficiente. È preciso remover o lixo. Em nosso atual estágio, se for iminente o choque entre dois enormes detritos, resta-nos cruzar os dedos e esperar pelo melhor (McKINIGHT apud MONSERRAT, 2015).
Apesar de desejável, não é possível fazer essa faxina espacial. O Active Debris Removal (ADR), propõe a remoção de detritos maiores já que estes são as principais causas geradoras de detritos. Um estudo da NASA no entanto indica que seriam necessário de 30 a 50 remoções para prevenir uma única colisão. O custo de cada remoção varia de 10 a 50 milhões de dólares. Além disso essa remoção apenas transforma o risco de colisão espacial par uma colisão com alguma pessoa na terra.
Além dessas há diversas ideias como a utilização de fios eletromagnéticos que atrairiam o lixo de volta ao planeta, ou mesmo um aerogel adesivo que é usado para coletar amostras no espaço. Este no entanto deveria ser usado em uma escala muito maior e recolheria poucos detritos, já que em sua maioria não são rastreáveis
Em mais de 60 anos de lançamentos espaciais houveram mais de 4000 lançamentos e um total de mais de 700 mil detritos que são caracterizados como lixo espacial por não apresentarem utilidade alguma e ainda estarem orbitando a terra.
Tais detritos como foi descrito causam impactos de ordem ambienta, social e prejudica o futuro das atividades espaciais. A solução para tais impactos sem dúvida se encontra na área tecnológica, pois mesmo que alguma legislação proibisse de imediato qualquer lançamento de qualquer nave ao espaço, a quantidade de lixo já existente aumentou em um ritmo superior ao que conseguimos acompanhar. Desta forma é necessário vontade política e busca de compromissos obrigatórios.
Referências
AEB – Agência Espacial Brasileira. Disponível em: www.aeb.gov.br. Acesso em junho de 2015
CLARKE, Arthur C. O Homem e o Espaço. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1968.
MONSERRAT, José, Lixo Espacial, Mitigar ou remover? Disponível em www.geodireito.com/noticia/opiniaolixoespacialmitigarouremover. Acesso em junho de 2015
RODRIGUES, José Sinésio. Lixo espacial e seus riscos para o meio ambiente e para a exploração espacial. Universidade Estadual de Londrina - UEL
SOBREIRA, Paulo, H. A Cosmografia Geográfica: a Astronomia no ensino de Geografia. Universidade de São Paulo – FFLCH – Departamento de Geografia. Tese de Doutorado apresentada a FFLCH-USP, São Paulo, 2005, 239 p.