Luz, câmera, inovação: Crenças limitantes sobre processo criativo
Este artigo é o primeiro de uma trilogia sobre a criatividade: primeiro, iremos eliminar falsas crenças do processo criativo, entendendo o comportamento do cérebro humano diante do mesmo. Em uma segunda publicação, focaremos na explicação do processo em si, falando sobre os quatro papéis que pessoas inovadoras assumem durante a jornada criativa. E finalizaremos com uma terceira publicação que auxiliará a superar bloqueios criativos, causando a reflexão através de algumas perguntas poderosas de coaching para auxiliar nesse processo.
Criatividade é a capacidade do cérebro de criar, de pensar diferente quando exposto a uma realidade qualquer, trata-se de uma habilidade cognitiva que todos nós temos o poder de desenvolver.
Será que algumas pessoas nascem com essa habilidade mais aguçada? Por que alguns indivíduos se destacam por serem mais criativos do que outros? Inovação é a mesma coisa que criatividade? Este artigo é para você, que em algum momento da vida, já se fez questionamentos desse tipo.
1. Falsas crenças sobre o processo criativo
Algumas pessoas nascem mais criativas do que outras
Mito. Criar é uma habilidade cognitiva inata, ou seja, uma capacidade cerebral que nos pertence desde o momento do nascimento e nos acompanha por toda a vida. O que geralmente acontece, é que algumas pessoas acabam desenvolvendo ainda mais essa habilidade, tornando-a verdadeiro talento, enquanto outras deixam-na em segundo plano.
Podemos fazer uma analogia da criatividade com nosso tecido muscular: enquanto tem pessoas que treinam e se alimentam para desenvolver seus músculos, destacando-se pelo seu aspecto físico e força, outras vivem uma vida mais sedentária, desenvolvendo o suficiente para sustentarem o estilo de vida que levam. Se algum dia, a pessoa que treina diariamente deixar essa prática de lado ou descuidar da alimentação e descanso, é bem provável que ela perca parte dessa massa adquirida. Nosso cérebro e a criatividade funcionam de forma muito parecida: quanto mais treinar sua criatividade, mais ela irá se desenvolver.
Quem tem a oportunidade de conviver com crianças, consegue notar o quão curiosas elas são, bem como o quanto que adoram explorar o mundo, tendo inúmeras ideias em suas pequenas cabecinhas. Conforme crescem tornando-se adultas, algumas tem sua criatividade tolhida no meio do caminho, como falaremos mais adiante em um outro artigo que será sequência desse.
Em suma, todos nascemos igualmente criativos, porém quando crescemos, alguns seguem desenvolvendo essa habilidade enquanto outros a abandonam.
Criatividade e inovação são a mesma coisa
Mito. Como falamos, criatividade é um processo cerebral que usa habilidades do pensamento para gerar ideias diferentes entre si e originais quando comparadas a outras ideias. Isso não quer dizer que toda ideia gerada é viável de ser implementada ou proporciona algum tipo de valor; quando isso acontece, temos o que chamamos de inovação.
Ou seja, inovação é uma ideia que ao ser implantada promove valor, sendo realmente nova para determinado público ou setor. Logo, inovar é criar algo que ofereça algum tipo de valor, que não necessariamente precisa ser o financeiro, podendo ser uma ideia que melhore a qualidade de vida ou diminua algum tipo de desgaste ou impacto negativo em determinado segmento.
Há vários fatores que influenciam uma ideia a se tornar, ou não, uma inovação: contexto inserido, oportunidade, o período em que está inserida, público/segmento alvo, entre outros. Ideias que nascem e morrem no papel, não podem ser consideradas inovação, porque não foram testadas na prática para estimar o ganho atrelado a ela.
Em resumo, criatividade é o processo cognitivo que um dos produtos pode ser a inovação.
Existem profissões que nos permitem sermos criativos (como marketing, publicidade e artes plásticas), enquanto outras é melhor que deixemos a criatividade de lado (como engenharia, ciência de dados, contabilidade)
Outro grande mito. Quando falamos de criatividade, estamos dizendo sobre o fato de desafiar o status quo e o tal “pensar fora da caixa”. Todos os segmentos procuram profissionais que sejam capazes de produzir críticas construtivas sobre o próprio trabalho. Sempre haverá um jeito melhor de fazer algo, e este pensamento contestador é muito valorizado nas empresas de todos os ramos. Lembre-se que inovar, não está relacionada apenas a engenhocas, pinturas e novos objetos; mas em gerar uma ideia única que agregue valor.
As organizações estão em busca de pessoas que olhem cenários que “sempre foram feitos assim” e o recriem para uma realidade que gere melhoria de processos e eficiência. Buscam profissionais dispostos a pensar diferente, enxergando diversas oportunidades que gere otimização de recursos.
2. Criatividade à luz da neurociência
Já dissemos que é uma habilidade cerebral, e agora vamos explicar como é que funciona, com o olhar da neurociência: Nosso cérebro é formado por uma rede que conecta 100 milhões de células neurais (neurônios). Porém, não utilizamos tudo isso no nosso dia a dia (mas isso é conversa para outro tema/artigo, não para essa trilogia). Cada coisa que fazemos ou pensamos é resultado de uma minúscula parte dessa rede neural gigante, é uma espécie de trilha ou circuito de neurônios, que estabelecem conexão entre si através de impulsos elétricos (sinapses).
Todas as informações absorvidas criam um caminho que fica inativo até você acessar aquela informação, por exemplo, o que você jantou ontem a noite criou uma nova trilha, que estou provocando você acessá-la ao pedir para se lembrar qual era essa refeição.
Cada vez que temos uma nova ideia, nunca pensada antes, temos a criação de um novo circuito. Outro exemplo: Imagine você sentado no chão do seu quarto fazendo a mesma refeição que fez no jantar de ontem. Aqui houve a criação de uma nova ideia, logo gerou um novo caminho, a partir de informações e caminhos pré-existentes: você no chão do seu quarto + seu jantar de ontem.
Podemos dizer então, que a reorganização das informações existentes, assim como o aprendizado de algo novo através de fontes externas geram novos caminhos.
Agora vamos adicionar mais uma informação sobre o processo criativo: Criar, na realidade é combinar informações já existentes no cérebro gerando uma nova e diferente ideia (o exemplo do jantar no quarto foi resultado de um processo criativo). Os processos criativos não precisam ser complexos, como vimos nem toda ideia vai gerar valor, logo, nem todas são inovações.
Por natureza, nosso cérebro é “preguiçoso”. Criar novos caminhos gera um gasto de energia extra, por isso, sempre que possível, ele dará preferência por seguir padrões já criados, que gasta menos energia, dessa maneira precisamos despertar o processo criativo mudando padrões e rotinas, para sempre criar novos circuitos, característica de uma pessoa criativa.
No próximo artigo, entenderemos um pouco mais sobre esses novos circuitos e a sequência de passos para estimular sua criação, que poderá resultar não somente em uma ideia, mas em uma ideia inovadora.
Até breve.
Sugestão de leitura: EAGLEMAN, D. & BRANDT, A. Como o Cérebro Cria. 1ª Ed. Traduzida, Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2017