Mãe Atípica: Capítulo 1

Desde sempre, nutri o grande desejo de ser mãe. Imaginava-me com uma pessoinha que, por um tempo, seria exclusivamente minha; embora soubesse que, com o passar dos anos, ela pertenceria ao mundo.

À medida que me aproximava do meu vigésimo sexto ciclo de vida, esse anseio pela maternidade crescia dentro de mim, clamando por liberdade, por uma chance de existir.

Minha carreira, na verdade, mal existia. Eu trabalhava para sustentar minhas próprias vontades, para adquirir coisas que gostava e desejava. Não era amor pelo trabalho que me movia; aliás, para ser franca, eu detestava minhas atividades e responsabilidades. Naquela época, sucesso e realização eram conceitos distantes para mim; eu simplesmente acordava, respirava fundo e seguia adiante. Mas isso não importa agora.

Preparei-me psicologicamente para a maternidade. Embora tivesse consciência de que haveria fases desgastantes e noites mal dormidas, sonhava com os momentos bons, imaginando-me com uma criança saudável, vivaz e teimosa.

A parte mais desafiadora da minha decisão foi convencer meu marido de que estávamos prontos para esse momento. Ele queria esperar mais alguns anos, talvez dois ou três. No entanto, como explicar a uma pessoa cética que algo dentro de mim clamava por existência?

De qualquer forma, eu consegui. Venci a primeira batalha e começamos a planejar nossa família.

Foram cerca de quarenta e cinco dias de expectativas até que, logo cedo, vi os dois risquinhos na tira branca com azul. Mal conseguia acreditar que era real, que algo realmente estava crescendo dentro de mim.

No dia em que descobri, de forma bastante casual, saí mais cedo do trabalho, já que tinha banco de horas acumulado. Passei pelo centro da cidade para comprar um par de tênis, pois na semana seguinte teria uma viagem planejada, e precisava de um calçado confortável, já que estava previsto passar muitas horas em pé em uma feira em outro estado.

Enquanto mexia nas minhas redes sociais, deparei-me com uma foto de uma modelo apreciando um vinho. Estávamos no meio do inverno e a ideia de uma taça me fez salivar. Porém, eu tinha receios, já que estava tentando engravidar, não queria cometer erros. Com esse pensamento e o desejo ardente pelo vinho, decidi passar em uma farmácia para comprar um teste de gravidez. Escolhi o mais barato, pois minha intenção não era confirmar um resultado positivo, mas sim obter um negativo que me permitisse desfrutar daquela taça de vinho.

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Entretanto, naquele dia, não foi o vinho que bebi. Em vez disso, tomei água, muita água, pois o teste mostrou um resultado positivo. Fiquei chocada, imaginava que demoraria alguns meses para acontecer. Tendo tomado anticoncepcionais por muitos anos, pensava que meu organismo estava saturado de hormônios, e que levariam meses para limpá-lo. Estava completamente enganada, completamente iludida..

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