As mães e o trabalho. Como você pode ajudar?
Em todas as classes sociais, a preocupação sobre com quem deixar os filhos enquanto trabalha parece ser uma exclusividade das mulheres. Observando experiências de colegas e amigas que têm relações heteronormativas, é raro que o pai leve a criança para o trabalho ou mesmo acione alguém para este cuidado, que normalmente é delegado a outra mulher (avó, tia, madrinha ou babá). Se nos aprofundarmos nas camadas dessa questão, precisamos ter um olhar especialmente sensível para as mulheres que vivem nas periferias e trabalham como empregadas domésticas, diaristas e babás. Quando creches e escolas estão fechadas, quem cuida dos filhos delas enquanto elas cuidam dos filhos e da casa dos outros?
O contexto da pandemia da Covid-19 tem sido especialmente cruel para essas trabalhadoras porque muitas não interromperam suas atividade, enquanto deveriam estar em casa e serem remuneradas para se manterem seguras, assim como acontece com todas as mulheres que seguem empregadas. Nesta semana fomos levados a uma dura reflexão a partir da morte de Miguel, um garotinho de apenas 5 anos, que foi trabalhar com a mãe, Mirtes Renata de Souza. Ele não voltou mais para casa depois que a patroa da mãe, Sari Corte Real, permitiu o acesso ao elevador e, pelas imagens mostradas do circuito interno da TV, acionou o nono andar de onde o menino caiu.
A BBC Brasil fez uma matéria muito importante com experiências passadas por filhos de empregadas domésticas durante suas infância, quando precisavam acompanhar suas mães. Nas redes sociais, perfis de mulheres como a escritora e filósofa Djamila Ribeiro provocaram seus leitores: não podemos tratar temas tão fundamentais com uma hashtag. Se nossas reflexões, especialmente entre brancos privilegiados, tivessem se tornado atitude séculos atrás teríamos poupado a vida de milhares de crianças e jovens em todo mundo. São ações que têm que sair do papel enquanto vivermos a desigualdade, seja ela de gênero, de raça ou de classe.
Com as cidades realizando aberturas graduais da economia, mesmo que a pandemia não tenha atingido o pico no país, voltamos à preocupação das mulheres com o cuidado de seus filhos, como bem reportou o El País. A ausência de políticas públicas para mulheres é um problema sério que impacta em todo o olhar da sociedade e reverbera no mundo corporativo. Alguns exemplos: a licença-maternidade no Brasil é vista como privilégio, não direito; quase metade das mães perde o emprego depois de regressar da licença e há também milhares de relatos de assédios que envolvem diretamente mães e o trabalho. Enquanto acharmos que esse é um debate que só interessa às mães, às mulheres, às feministas, às pessoas ligadas às causas dos direitos humanos teremos a iniquidade nos atravessando a vida e a carreira.
Eu não tenho filhos, mas a minha escolha jamais impediu de apoiar e dar o protagonismo dessa luta para qualquer mãe e lutar junto. Eu me lembro de ter sido questionada quando participei, anos atrás, de uma reunião com o RH de uma empresa onde trabalhava pedindo ampliação da licença-maternidade de quatro para seis meses. Como mulher e como alguém que deseja mudanças, acredito que a sociedade deva ter mais senso de comunidade, empatia e um legítimo comprometimento com as mães. Que essa sociedade, que somos todos nós, colabore com tudo que estiver ao seu alcance para que todas as meninas e meninos tenham mesmas condições e possibilidades, com direito à uma infância de fato, à educação, à saúde, ao afeto e aos sonhos. As mães não podem seguir produtivas se estiverem exaustas. Tirar delas oportunidades, é tirar mais do que o feijão que elas colocam nas mesas de suas casas.
Colorista Pessoal e Aconselhadora Biográfica em formação.
4 aLud, que texto incrível e necessário. Você não é mãe, mas é filha. Enquanto não respeitarmos minimamente a maternidade, de verdade, não de fachada, não iremos mudar como sociedade. Conte comigo para esta luta!