A mão cirúrgica da economia de livre mercado

A mão cirúrgica da economia de livre mercado

A saúde no Brasil é um paciente moribundo, mantido vivo por aparelhos e por muitos médicos, enfermeiras e funcionários heróicos, abnegados e anônimos. A saúde pública é gratuita e universal, mas, francamente...... A privada é melhor, mas é cara, bastante cara. Um dilema e tanto.

Espremidos entre o SUS e os planos de saúde particulares, os brasileiros agora temos uma terceira via, trazida pela mão cirúrgica da economia de livre mercado. São as clínicas populares, com consultas médicas, exames e procedimentos de baixa complexidade. Voltados para as classes C e D e cobrando cerca de R$ 80,00 por consulta, esse modelo de negócios tem alcançado grande sucesso. E consegue agradar, inclusive, a classe médica. Os filhos de Hipócrates também estão cansados dos baixos valores que recebem por consulta e procedimento. Também não chega a ser motivo de satisfação ter que lidar com as famosas glosas, que podem atrasar o recebimento em até seis meses.

Nem particular, nem SUS, nem plano de saúde, as clínicas populares são um híbrido que se adequa às necessidades e carências da saúde brasileira. Parece o produto certo no momento certo. Além da tradicional insatisfação do brasileiro com o atendimento na saúde, a aguda crise que enfrentamos desde 2014 colabora para a expansão das clínicas populares.

Esse desastre econômico, da série “nunca antes na história deste país”, já colocou cerca de 10 milhões de pessoas na fila do desemprego e está devolvendo a níveis mais precários de renda as cerca de 40 milhões de pessoas que subiram para o que se convencionou chamar de nova classe média (classificar como classe média pessoas que têm renda familiar mensal de R$ 1.500,00 é quase uma infâmia, mas isso é assunto para outro texto).

Depois de ter acesso a serviços de melhor qualidade, em geral, proporcionados pelo plano saúde empresarial de que participavam, essas pessoas, seja por desemprego, seja por perda de renda, se encontram na contingência de voltar ao posto de saúde do SUS.

E lá vai a iniciativa individual suprir uma lacuna que a regulamentação – e bota regulamentação nisso – estatal não consegue preencher. Desde Adam Smith e seu padeiro preocupado com seu interesse individual e não com a fome da humanidade tem sido assim.

Se discute aumento de gastos na saúde sem sequer cogitar uma análise da qualidade e da eficiência do gasto atual. O que podemos aprender com as clínicas populares e com suas unidades limpas, bonitas, agradáveis e com seu atendimento rápido, humano, eficiente?

 

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