Machine Learning e o nosso aprendizado como seres humanos
A tecnologia vem revolucionando as relações humanas em suas diversas interações: no mercado de trabalho, no campo do aprendizado e até mesmo no lazer. A rotina e comportamento atuais acompanham a inovação tecnológica, que tem a capacidade de moldar todos os aspectos tangíveis ao ser humano individualmente e de maneira coletiva, evidenciando a mudança da dinâmica nas relações sociais, trabalhistas e até mesmo as intrínsecas às experiências individuais.
O rápido desenvolvimento das inovações tecnológicas proporcionou o conhecimento de diversas ferramentas, metodologias e teorias que regem o próprio desenvolvimento do indivíduo como ser social, a partir da incorporação de elementos tecnológicos no seu dia a dia. A conexão entre uma infinidade de dispositivos e pessoas em tempo real seria inimaginável algumas décadas atrás. E a curva de crescimento das interações proporcionadas pelas interconexões parece estar em constante aceleração.
Já com alguns anos de pesquisa e desenvolvimento, algumas revoluções no campo tecnológico parecem ter ganhado notoriedade não só por especialistas, mas por uma enorme parcela da população nos tempos atuais: Big Data, Internet of Things (IoT) e Machine Learning. Percebeu-se uma grande tendência à necessidade de coleta e armazenamento de dados, conexão em tempo real, automatização de processos, entre muitas outras que, de algum modo, já afetam ou têm o potencial de afetar a vida do ser humano em seus diversos espectros e ambientes: no lar, no trabalho ou na rua.
Machine Learning
O termo Machine Learning, ou Aprendizado de Máquina em tradução literal, é tão auto-explicativo quanto factual. É um subcampo da Ciência da Computação que está diretamente envolvido com a Inteligência Artificial, cuja finalidade mais usual no cenário contemporâneo é a automatização de processos. É amplamente utilizada na indústria e no desenvolvimento de softwares e soluções de tecnologia que podem otimizar o planejamento, produção, logística, oferta, entrega, assim como todo o ciclo de vida de um dado produto ou serviço. O machine learning tem como base algoritmos: sequências lógicas cujo objetivo é a solução de problemas. Os algoritmos são “treinados” de forma exponencialmente escalar, adquirindo, assim, um padrão de comportamento bastante amplo e um desempenho bastante preciso.
Tendências
Segundo relatório da Research and Markets, a projeção é de que o tamanho global do mercado de inteligência artificial ultrapasse US$ 169 bilhões em 20252, gerando uma transformação substancial dos negócios que participam desse nicho, bem como daqueles que se mantiverem alheios. O maior desafio é a capacitação do mercado de trabalho, uma vez que o dinamismo de sua aplicação requer competências específicas inerentes a diversas áreas do conhecimento. Como exemplo, em ciências exatas há exigência do aprendizado em linguagens de programação, habilidades em estatística, matemática e raciocínio lógico. Entretanto, o ponto crucial está na interdisciplinaridade essencial ao modelo de aplicação e ao compartilhamento de informações, em que se torna fundamental a formação de equipes multidisciplinares com perfis analíticos, de comunicação, gestão e entendimento de negócios, capazes de interpretar, apresentar e solucionar problemas de forma ágil.
Quais seriam as motivações de se adotar um sistema de planejamento, implementação e gerenciamento focado em machine learning além dos puramente comerciais? Em 2019, a empresa de tecnologia Dell publicou o relatório “O Futuro do Trabalho", que analisa como tecnologias emergentes impactam a interação entre humanos e máquinas no trabalho e como as forças econômicas e sociais relativas definirão o futuro do trabalho em 2030. Em relação à inclusão, 67% dos líderes esperam usar novas tecnologias para criar oportunidades iguais, eliminando preconceitos humanos na tomada de decisões. Em referência ao empoderamento da capacidade dos trabalhadores, 86% dos líderes planejam usar tecnologias emergentes para expandir a produtividade da força de trabalho. Além disso, 70% da alta gestão disse que gostaria que as pessoas fizessem parcerias com máquinas para expandirem suas habilidades e conhecimentos3. Portanto, é bastante iminente que o aprendizado compartilhado entre máquinas e humanos, afetem as relações de trabalho, o que pode gerar múltiplos desdobramentos, que podem ser positivos ou negativos.
Impacto das tecnologias no mercado de trabalho
Um impacto potencialmente negativo, seria a substituição dos postos de trabalho pelas máquinas. Segundo uma pesquisa veiculada nos Estados Unidos pela KPMG e divulgada pelo Wall Street Journal, profissionais de TI são os que mais temem serem substituídos pela automação. 67% dos funcionários das empresas de tecnologia entrevistados temem ter suas funções automatizados. Inteligência artificial, machine learning e softwares robóticos foram citados como as maiores ameaças no geral. Em virtude da pandemia, evidenciou-se mais um ponto de atenção: 70% dos entrevistados estão preocupados com a eliminação de seus empregos como resultado das consequências econômicas da crise, inclusive por ferramentas utilizadas em resposta à Covid-19, enquanto em empresas de outros segmentos, essa preocupação atinge apenas 54%4.
Um evento que reforçou essa preocupação com a estabilidade dos empregos foi o fato da Microsoft ter demitido todos os jornalistas da área editorial dos portais Microsoft News e MSN. Eles foram substituídos por um software que fará a curadoria das notícias que serão publicadas pelos serviços. Esse recurso da inteligência artificial é capaz de escanear o conteúdo, processar, filtrar até mesmo sugerir fotos para os editores humanos através do aprendizado de máquina. Outra notícia que contribuiu para o impacto negativo na percepção da segurança dos postos de trabalho foi a divulgação da Business Insider, em cujas 50 posições foram afetadas pelas demissões5.
A retórica profissional
O que se observa no mercado atual é ainda um desafio muito grande da jornada em busca da transformação digital. A pura e simples incorporação de recursos ou ferramentas tecnológicas não preenche a semântica inerente à transformação digital por completo. A transformação digital não se refere a mudar máquinas, mas mudar pessoas. Muitas barreiras são impeditivos para as empresas escalarem a um ecossistema virtual. Do ponto de vista da pessoa jurídica, há falta de conhecimento, capacitação e atualização dos potenciais postulantes a oportunidades na área da tecnologia. Do ponto de vista da pessoa física, há falta de valorização, compensação e incentivo para ingressarem numa carreira digital. Portanto, há uma lacuna ainda um pouco complexa de ser sedimentada pela divergência de objetivos entre empregado e empregador. Essa, infelizmente, não é uma retórica exclusiva das áreas de tecnologia, mas do panorama do mercado de trabalho como um todo. Quem sabe a tecnologia possa unir as expectativas e tornar as experiências mutuamente benéficas!
Fontes: