Machista famoso, aguarde: sua hora também vai chegar

E nem adianta contar com os panos quentes dos brothers. O efeito José Mayer é irreversível e retroativo

Está rolando a famosa “brodagem” entre os atores da Globo. Desde que a figurinista Susllem Tonani jogou no ventilador o crime de assédio sexual cometido por José Mayer, não faltou galã feio pra correr com os panos quentes, defendendo um de seus brothers.

O primeiro a falar bobagem foi Caio Blat: “José Mayer é uma pessoa que a gente conhece. A declaração que ele deu hoje foi brilhante. A forma como ele se colocou foi perfeita. Ele não representa ameaça a ninguém. Uma brincadeira fora de tom, e na presença de outras pessoas. Não houve intimidação”. Eu ia fazer um grifo apenas frase mais absurda desse trecho da fala dele, mas não dá. Ele é inteiro uma completa insanidade.

Enquanto Caio Blat apanhava muito no Twitter (inclusive da própria mulher, a atriz Maria Ribeiro), Oscar Magrini passava vergonha no programa de Fátima Bernardes dizendo, no meio de uma fala pra lá de confusa, que mulher deve “saber se colocar pra não instigar”. E a brodagem não faltou: “O Zé é um colega nosso também, sabe o que aconteceu, se desculpou”.

Hoje saiu na Folha uma declaração de Paulo Betti, que provavelmente estava quieto até alguém forçá-lo a se posicionar: “Sou amigo do Zé, um ator maravilhoso. Respeito muito o movimento das moças e defendo o debate, mas não me sinto confortável para tacar pedras em que está sendo apedrejado.” (mais uma fala tão absurda que não dá pra grifar só um trecho). O Projac deve estar cheio de brothers correndo de jornalistas, com medo de terem que jogar pedra em assediador amigo deles.

É isso que as mulheres têm que fazer, gente. Tem que fazer igual os brothers da Globo e se unir. A campanha "Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas" foi um sinal bem claro de que elas já estão fazendo isso e brodagem não vai mais passar, não. José Mayer cometeu um crime e tem que responder por isso na Justiça. 

O episódio serviu de alerta aos machistas recorrentes, que passam qualquer assédio por brincadeira. Mas serviu especialmente àqueles que vivem dos holofotes: ser machista e famoso já não dá mais certo. O efeito José Mayer é irreversível e retroativo - vide a capa da Veja essa semana. O mundinho artístico que se cuide qualquer esqueleto que tenha ficado no armário durante anos de misoginia ativa tende a bater com força no ventilador.

Vide o caso do americano Bill Cosby, que foi querer virar trending topics no Twitter e os usuários trouxeram mais de uma dúzia de denúncias de estupro atribuídas a ele por diversas mulheres ao longo de três décadas. Essas puxaram muitas outras e Bill Cosby realmente viralizou, da pior forma possível.

Bill Cosby conseguiu passar esse tempo todo sem sofrer nenhum tipo de consequência muito por causa de seus brothers, rápidos em trazer panos quentes. José Mayer também notou que os tempos mudaram. Dá pra ver que, no tempo das redes sociais, desvio de caráter não fica por isso mesmo, menos ainda quando se busca os holofotes. Machistas famosos: não perdem por esperar.