Maio Amarelo
J. Pedro Corrêa
Consultor em programas de segurança no trânsito
A área de segurança no trânsito no Brasil vai viver novamente no próximo mês uma ampla mobilização nacional graças ao movimento Maio Amarelo que chega à sua 8ª edição. O tema deste ano é: Respeito e Responsabilidade: Pratique no Trânsito. O objetivo do movimento é mobilizar toda a sociedade para uma ampla discussão sobre segurança no trânsito, envolvê-la em ações e disseminar conhecimento.
Tenho boa experiência em programas de mobilização da sociedade pois coordenei durante vários anos o Programa Volvo de Segurança no Trânsito cujo objetivo é muito similar ao movimento coordenado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária em parceria com o Denatran.
É muito gratificante perceber que um expressivo grupo de ativistas, visionários, vai à luta para tentar envolver grande parte da sociedade brasileira a cuidar melhor de si própria no trânsito, seja como pedestre, ciclista, motociclista ou condutor de qualquer tipo de veículo. Sou testemunha do quanto o Maio Amarelo já angariou de apoio pelos 4 cantos do país, por onde tenho andado muito nas últimas décadas. Espero que este ano, apesar da pandemia, ele prossiga firme e consiga levar um grande número de brasileiros a se tornarem melhores gerenciadores de risco no trânsito e, desta forma, reduzir o número de vítimas e de outras perdas.
Um ponto positivo desta mobilização é que os ativistas têm uma boa oportunidade de se encontrarem de novo, o que provoca quase uma confraternização. O lado negativo é que, na maior parte das manifestações, estamos convertendo um público já convertido. Resta, contudo, a satisfação de constatar que este grupo de convertidos à segurança tem crescido à cada ano, o que alimenta e estimula a continuação da luta.
O problema do discurso da segurança no trânsito por aqui é que ele é mal digerido pela sociedade, que não tem cultura de segurança e não encontra eco na gestão governamental nos seus vários níveis. Tivéssemos governos mais sensíveis e não precisaríamos do Maio Amarelo pois todos os demais meses do ano serviriam de pretexto para mais ações de prevenção de sinistros e, assim, conseguir um envolvimento crescente dos segmentos da sociedade.
Com algumas exceções – a outra seria em setembro quando acontece a Semana Nacional do Trânsito -, maio tem sido um dos raros meses do ano em que se observa o governo limitadamente empenhado na sensibilização da sociedade pela questão da segurança do trânsito. Fosse ele, governo, mais atento, tivesse ele eleito o trânsito como prioridade e ocasiões como a do Maio Amarelo poderiam se tornar em períodos promissores para a melhoria das condições de segurança e dar empurrões importantes na direção do melhor comportamento dos usuários do trânsito.
Ainda que a pandemia não dê muito fôlego, não podemos esquecer que estamos no primeiro ano da 2ª Década Mundial de Ações de Trânsito, da ONU/OMS, na qual o Brasil se comprometeu a reduzir suas vítimas pela metade e que esta não é uma meta impossível. Tudo o que o país precisa é que o Governo mostre suas intenções reais de agir neste campo, que decida coordenar um esforço nacional e que se estruture para alcançar este objetivo. Estou absolutamente convicto de que se isto acontecer, sociedade e setor privado mergulharão de ponta no desafio e o país só terá a ganhar com isto. Movimentos como o Maio Amarelo são evidências disto. Por isto repetimos tanto que, por aqui, falta vontade política.
Maio Amarelo cumpre bem o seu papel e tem sido um fator de conscientização e envolvimento da sociedade e do setor privado que tem aderido paulatinamente. Lamento apenas que sua ampla mobilização não seja acompanhada de ações concretas de prevenção de sinistros no trânsito, quero dizer obras governamentais como, por exemplo, eliminação de pontos críticos. Pequenas que fossem, teriam um efeito enorme como fortalecimento de tais movimentos. É o mesmo caso da semana do trânsito, em setembro: pudessem os discursos de segurança serem acompanhados de ações materiais e o seu alcance seria muitíssimo maior.
Quem sabe se esta não poderá se tornar a próxima conquista do Maio Amarelo a partir do próximo ano. Um bom planejamento para identificar ações de campo permitiria aos governos o cumprimento das metas dando aos ativistas a oportunidade de comemorá-las ruidosamente nos períodos apropriados. Não parece algo tão difícil ou impossível. Haverá vontade política para isto?
Enfim, temos de buscar e eventualmente insistir nas tentativas de abertura de novas oportunidades para aumentar a segurança no trânsito pelo país afora. Se conseguir aumentar o respeito e a responsabilidade, movimentos como o Maio Amarelo já terão conseguido progressos importantes junto à sociedade. Contudo, se vierem acompanhados de ações concretas de melhoria em qualquer dos campos do trânsito, certamente teremos muito mais a comemorar.
Especialista em Segurança no Trânsito
3 aRenovo minha admiração pelos trabalhos do J.Pedro Correa.
Especialista em Segurança no Trânsito
3 aDe fato o ênfase no MAIO restringe às ações midiáticas, ponto que muito interessa ao nosso Poder Público, não da Suécia ou Dinamarca, Noruega entre tantos. Ocorre que nesses países e outros mais já incluíram a Segurança no Trânsito como rotina e não como campanhas. Ainda assim, seja bem-vindo o mês de maio com esperanças de alcançar as metas da Carta de Estocolmo a qual o Brasil foi também signatário.