Planejamento da sucessão nas empresas familiares reduz conflitos e rupturas na hora da transição geracional

Planejamento da sucessão nas empresas familiares reduz conflitos e rupturas na hora da transição geracional


Deixar o comando dos negócios não é simples, exige tempo, planejamento e coragem, diz especialista em Governança Familiar

Como manter a coesão, a harmonia e a preservação dos vínculos familiares, além da necessidade de definir um sucessor estão entre as principais preocupações de uma família que administra uma empresa, de acordo com levantamento realizado pelo Instituto de Desenvolvimento da Empresa Familiar (IDEF) na Serra Gaúcha. “Isso recai muito sobre a família quando se questiona qual dos filhos vai assumir essa posição. Também há o dilema sobre a dependência de um único líder, já que sempre há o risco de perda abrupta do fundador, sem que haja um plano de sucessão”, afirma Hana Witt, pesquisadora, especialista em Governança Familiar e Compliance e fundadora do IDEF.

Mais de 100 famílias empresárias de cinco municípios da região (Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Farroupilha e Garibaldi) participaram do estudo quantitativo, respondendo a um questionário online e fornecendo informações em grupos focais. De acordo com a pesquisadora, outra preocupação que ficou muito evidente no levantamento foi em relação à comunicação e ao compartilhamento das informações, uma vez que os fundadores costumam ser centralizadores. “Famílias que excluem membros do circuito de informações ficam mais suscetíveis a desentendimentos, intrigas e desconfiança”, observa.

No âmbito nacional, levantamentos revelam que 54% das empresas não têm um plano de sucessão em vigor e apenas 11% delas têm um planejamento estratégico definido para a perpetuação do negócio. A pesquisa do IDEF mostra que na Serra o quadro é semelhante: pelo menos 52% das empresas regionais ainda são comandadas pelo fundador e 48%, por sua vez, têm a segunda geração compartilhando a gestão. Dessas, metade faz um processo de sucessão natural que vai acontecendo na medida em que a idade do fundador avança e o sucessor se sente preparado para assumir a gestão.

FAMÍLIA, PROPRIEDADE E NEGÓCIO  - Falar de sucessão é pensar no encerramento de uma etapa, de um ciclo de vida. Por receio ou desconhecimento, Hana Witt ressalta que questões relacionadas à família, à propriedade e ao negócio (os três contextos que permeiam empresas dessa natureza) deixam de ser discutidas no âmbito familiar e podem paralisar ações importantes que afetam os resultados do negócio e o próprio relacionamento familiar. “É preciso entender esses dilemas e organizá-los para buscar soluções”. Quando as famílias param para refletir sobre o que as incomoda elas passam a olhar para os seus dilemas de uma forma mais organizada. São questões como: vamos crescer, ampliar ou vender a empresa? Coloco um líder familiar para continuar a gestão ou busco profissionais externos? Qual dos meus filhos será o melhor sucessor? Permaneço no comando ou me aposento?

Conforme Hana, são muitas as histórias de famílias que, apesar de gerir adequadamente seus negócios, não fazem o mesmo com o patrimônio familiar, mesmo que seja superior ao da empresa. Em muitos casos, o desafio de preservá-lo é considerado tão grande quanto construí-lo. Há uma preocupação muito grande em relação à gestão da riqueza, distribuição de dividendos, reinvestimentos e planejamento orçamentário.

“Também notamos preocupações relacionadas ao patrimônio diante dos riscos e das perdas – como no caso de falecimento de um dos sócios. Outro assunto de interesse foi o regime de casamento: com as novas organizações familiares, torna-se necessário renovar o entendimento das leis que protegem ou expõem o patrimônio familiar. Decisões relativas à remuneração e alinhamento de interesses e objetivos de familiares, acionistas e gestores também foram pontos de destaque”, complementa a especialista.

Sobre o contexto do negócio, a pesquisa do IDEF revela que há uma grande preocupação em relação à gestão, ao crescimento sustentável, à ampliação e ao planejamento de futuro dos negócios. A falta de alinhamento entre os sócios também foi apontada como um ponto de atenção, além da ausência de critérios claros no processo de definição dos sucessores. Existe, ainda, um temor quanto à manutenção do legado da marca, que representa muito na comunidade em que a empresa está inserida. Se não houver uma boa gestão, seja por profissionais familiares ou executivos externos, certamente haverá grande impacto na empresa.

“Ter um bom planejamento sucessório é importante porque vai levar a empresa a diminuir possíveis conflitos entre os envolvidos no processo e fazer com que as pessoas se preparem de forma adequada. Tanto o sucessor quanto o sucedido precisam de preparo. O planejamento faz com que a transição seja mais harmônica, reduzindo conflitos e rupturas. Uma mudança abrupta impacta nos negócios porque muda as rotas de comando, de decisão e de definição dos caminhos da empresa”, enfatiza Hana Witt.

Com sede em Caxias do Sul, o IDEF orienta e capacita famílias empresárias sobre os temas de Governança e Sucessão, proporcionando maior autonomia e redução da vulnerabilidade nos momentos de transição geracional. Contribui para a proteção das relações familiares, o reconhecimento do legado, a preservação do patrimônio e a perpetuação da empresa. O instituto desenvolve os seguintes projetos: Cursos, Palestras e Fóruns de Orientação (gerar conhecimento e autonomia); Estruturação do Planejamento Sucessório (buscar longevidade e coesão familiar); Formação de Grupos de Desenvolvimento (preparar sucedidos e sucessores) e Implementação da Governança Familiar (assegurar a continuidade do legado e do negócio).

HANA WITT • É engenheira, professora e especialista em Governança Familiar e Compliance. Possui Mestrado em Engenharia de Produção (UFRGS) e Especialização em Gestão de Projetos (FGV). Adquiriu formação internacional no tema Empresas Familiares pela Universitat Abat Oliba, de Barcelona (Espanha). É certificada em Governança Corporativa pela Fundação Dom Cabral, Conselheira de Administração pelo IBGC e Lead Assessor em Gestão da Compliance e Antissuborno pela Academia Tecnológica em Sistemas de Gestão. Tem 23 anos de experiência como executiva na Marcopolo, sendo por 15 anos professora na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Nos últimos cinco anos coordenou projetos de desenvolvimento nas empresas familiares por meio dos programas educacionais da Fundação Dom Cabral. Atualmente exerce a atividade de pesquisadora e professora, sendo co-fundadora do IDEF - Instituto de Desenvolvimento da Empresa Familiar.



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