Mando de campo, estádios vazios e a pandemia
Ouvi o Felipão, na coletiva de ontem, após a vitória sobre o América, comentar algo sobre estudos a respeito do mando de campo (em 2:50, neste vídeo). Será que ele leu o meu outro texto sobre o mando de campo na pandemia no Gauchão 2020? Gostaria de acreditar que sim, mas não sou tão confiante. De qualquer forma, eis alguns novos resultados.
Como mencionei antes, o percentual de vitórias em casa é uma proxy do mando de campo. Nos três campeonatos estaduais (1a divisão apenas) para os quais consegui reunir alguns dados, observamos que o desempenho dos mandantes parece se manter o mesmo no Mineiro e no Carioca, embora tenha piorado no Gauchão. Por que isto acontece? Há muitos fatores e o tema merece sim, uma investigação muito mais extensa do que um simples texto no Linkedin.
O que mais me chama a atenção, na pandemia, é a ausência de torcida nos estádios, o que geralmente é associado com o efeito do mando de campo na literatura. Aliás, eu, o prof. Ari (Ibmec Minas Gerais) e o prof. André (PPGOM-UFPel) estudamos o tema em um artigo de 2018 (aqui) e, sim, é tentador - mas não é correto - tentar associar os dados da tabela acima exclusivamente ao efeito da ausência de torcida.
Afinal, há muito mais variáveis em jogo (no pun intended) neste tipo de investigação como, por exemplo, troca de técnicos, jogadores que se ausentam por contaminação pelo Covid-19, crise financeira de clubes, etc. Aliás, os campeonatos estaduais seguem regras diferentes o que pode também ter algum impacto nesta diferença de desempenhos.
Como no outro texto, podemos olhar para alguns clubes específicos e usar outra proxy para o mando de campo, qual seja, o percentual de pontos ganhos em casa sobre o total de pontos do clube. A tabela a seguir mostra a situação de alguns rivais.
Cruzeiro e Atlético têm comportamento invertido (a piada maldosa seria dizer: "quanto menos torcedores do Atlético no estádio, melhor..."). O desempenho do Internacional melhora bastante e, no Rio de Janeiro, tanto Flamengo como Fluminense parecem ter melhorado seu desempenho nos jogos sem torcedores.
Obviamente, estes dados são apenas a superfície de uma investigação mais detalhada que se pode fazer acerca dos impactos da pandemia no futebol brasileiro (pelo menos, entre os clubes da primeira divisão de cada estado). Há várias perguntas aguardando o interesse e, subsequentemente, o esforço e o tempo de alguns pesquisadores. Eu já estou conversando com meus co-autores. E você?