Manipulação de mentes?
O Jornal a Folha de São Paulo de 12/4/18 traz duas colunas que embora tratem de assuntos aparentemente desconexos, têm mais ligação do que se possa imaginar à primeira vista.
A primeira, logo na página A2, “Facebook ao Vivo” de Roberto Dias.
A segunda, na página A3, “Drama, Culpa, armas de manipular” de Francisco Daudt.
Em mais um capítulo do assunto Facebook, o que me chamou a atenção na primeira coluna se é a pergunta que a Deputada Norte Americana fez a Marc Zuckerberg:
“Você pretende mudar o seu modelo de negócio?” e no final da coluna a opinião do autor: “O fato é que as pessoas começam a acordar: “nunca se enfatizou tanto o quanto elas podem ser rastreadas em qualquer lugar e qualquer momento”. ” o vento da história não favorece o faroeste em vigor: encolheu a margem para aceitar problemas de falta de privacidade”.
Já, na segunda coluna, o autor tem cpor objetivo traçar um paralelo entre o discurso do ex-presidente Lula, na sexta-feira, e o de Hitler, no sentido da captura de mentes através da propaganda, pousando-se de vítimas.
Ele no entanto inicia o texto citando Yuval Noah Harari, autor do excelente livro O Homo Deus que menciona na obra que:”no passado a censura funcionava bloqueando o fluxo de informação. No século 21 ela o faz inundando as pessoas de informação irrelevante. Passamos o tempo debatendo questões secundárias”, pois lhe parece relevante entender porque nossas mentes podem ser manipuladas e turvada a capacidade de raciocínio.
O que liga os textos, na minha opinião é o desejo inato de querer atribuir aos outros as culpas e responsabilidades pelo que nos mesmos praticamos.
Isso é tão antigo que quando Adão, inquirido por D-us, do porquê comera do fruto proibido, de pronto ele informa que foi Eva a culpada.
No livro Homo Deus, o autor traça uma projeção, com base em suas pesquisas, como seria a história do amanhã, deixando absurdamente claro que seremos sim rastreados, onde quer que estejamos e nossos hábitos serão tabulados para que possamos por exemplo receber a melhor oferta de um serviço ou produto, muito próximo ou mesmo ajuda numa emergência médica.
Não pode haver dúvidas de que já inauguramos essa era: Waze, Foursquare, por exemplo. Colocamos a informação de onde estamos, grande parte espontaneamente. “Fulano de tal acaba de fazer check in em tal lugar”. Na rede social é impressionante o número de amigos que as pessoas têm. 5000 pessoas?
O antropólogo e psicólogo Robin Dunbar, criador do “número de Dunbar” explica que o grupo administrável de amigos é em média 150.
Se só parece ser possível administrar em média 150, o que está por trás de se ter 5000 amigos? O prognóstico é fazer propaganda de si próprio. E não há nada de errado nisso.
O mal é vir revestido de hipocrisia.
Como é que se pode imaginar que uma Rede Social que lhe faculta, gratuitamente, informar a pelo menos 5000 pessoas amigas ou milhões de seguidores onde se esta, do que se gosta, o que pensa, não possuir um um modelo de negócio que se apoie em compartilhamento de informações para fins publicitários?
Será que alguém imagina que o trafego de dados numa Rede Social se dá por obra de magia e independa de investimento de capital intensivo em contratação de infraestrutura?
Ao usarmos o navegador Waze gratuitamente, por certo que a remuneração não cairá do céu. Há modelo de negócio que envolve monitoração de tráfego com fins vários, inclusive publicitário.
No ano de 2017, creio, num paralelo, as empresas de telecomunicações se tornaram vilãs, ao menos no Brasil em virtude da falta coletiva de compreensão que trafego de dados não tem como ser ilimitado, a custo fixo. Na retaguarda desse trafego há torres, antenas, cabos, fibra ótica, comutadores.
O modelo de negócio bónus sem ónus é ainda uma utopia.
A interconexão que vi entre as duas colunas aparece de forma subliminar.
O escândalo que o domínio do conhecimento das mentes, gostos, hábitos estaria por trás de direcionamento de material, seja lá o que for, de produtos, de serviços, de conotação política, com capacidade de influírem eleições, plebiscitos e num Holocausto.
Evidentemente que se deve discutir alguns regramentos , mas o problema não está na máquina, no texto, na destinação. O problema está no Ser Humano que culpará, para variar, terceiros pela sua falta de responsabilidade enquanto Ser Humano.
Advogado na MORETTI E TACCOLA SOCIEDADE DE ADVOGADOS
1 aObrigado por compartilhar
Comercial | Especialista em Vendas e Marketing | Experiência em Conformidade e Estratégias Digitais
1 a👏👏👏
Executiva, Advogada, Relacoes Institucionais, Regulatorio, Telecomunicações, Mídia e Tecnologia, Direito Digital, Proteção de Dados Pessoais - CIPP/E,
6 aLuiz, bela reflexao e correlações de ideias entre os artigos da Folha. Como contribuição apenas pontuo que a palavra do momento é accountability. Seja qual for o modelo de negócios que venha a ser adotado, é indispensável que o individuo seja informado com transparência e clareza, por exemplo, quais são os dados coletados, como são armazenados, com quem são compartilhados. Tenho trabalhado muito com relação à questão de proteção de dados e estamos organizando um seminário em SP no dia 24 de maio. Vou te mandar um convite!